29 de abril de 2004

Alergia ao Jazz!

É Primavera, é tempo de alergias e há por aí muito boa gente que se diz alérgica ao jazz, mesmo sem nunca ter tido contacto com a dita substância.

Nestas coisas de alergias há, portanto, como aconselham os médicos, que fazer o teste aos elementos causadores da alergia, até porque há várias substâncias no ar: o be-bop, o cool, o hard-bop, o mainstream, o free, a fusão, o smooth... e até mesmo o pseudo-jazz.

O primeiro passo é, pois, expôr-se ao jazz e ver o resultado. Dizer que é alérgico sem nunca ter ouvido não é prova científica nem sintomática.

Aqui ficam pois algumas substâncas a que se pode expôr para testar:

Miles Davis «Kind of Blue» [um most! 8,00 euros FNAC Chiado]

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Stan Getz «Serenity» [outro must!]

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Chet Baker «Once Upon a Summertime»

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Bill Evans Trio «Waltz for Debby»

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Bill Evans Trio «You Must Believe in Spring» [8,00 euros FNAC Chiado]

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Ella Fitzgerald «The Cole Porter Songbook»

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The Ray Brown Trio «Bam, Bam, Bam»

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Sarah Vaughan «How Long Has This Been Going On?»

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Bille Holiday e Lester Young «A Fine Romance»

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John Coltrane «Blue Train»

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Dexter Gordon «Go!»

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Frank Sinatra + Count Basie «Sinatra - Basie»

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Ok, se realmente o teste deu positivo, há grande probabilidade de ser alérgico ao jazz puro e duro.

Vamos então por partes: qual dos elementos é que lhe causa comichão, espirros e babas? A batida, os sopros, os temas, a palavra jazz em si, os músicos?

Tudo bem, nada está perdido. Temos ainda o chamado smooth jazz, ou seja, um jazz mais pop, mais soft.

Diana Krall «All For You»

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Peter Cincotti «Peter Cincotti»

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Louis Armstrong «Hello Dolly» (Este album é mais pop...)

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Também deu positivo o teste?!

Bom, então realmente é alérgico(a) ao jazz e só podemos recomendar algo mais popular:

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Gostei! Não gostei!

Gostei da versão do TGB (Tuba, Guitarra e Bateria) de «Black Dog», um original dos lendários Led Zeppelin, grupo que ainda hoje ouço com enorme prazer.

Gostei do jogo entre a tuba e a guitarra e gostei do trabalho de Alexandre Frazão na bateria.

Também os The Bad Plus pegaram recentemente num tema de origem rock, o famoso «Iron Man», dos Black Sabbath. Curiosamente, a primeira vez que me interessei pelo jazz foi com um disco ao vivo deste grupo, em que a guitarra de Tommy Iomi destilava um fraseado próximo do swing.

Quanto ao TGB só não gostei mesmo foi do preço de venda ao público: 18,50 euros!

27 de abril de 2004

Já não há disto!

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Músicos como estes já não há.

Este disco retrata o encontro entre o trompetista Clark Terry e o trio de Oscar Peterson (piano), com Ray Brown (contrabaixo).

Para quem gosta de jazz com alma e sentimento, trompete com surdina, com feeling bluesy, muitos agudos, boa música e um combo em perfeita sintonia, este disco é das melhores opções.

E até nem está caro. Anda à volta dos 11,50 euros, na FNAC.

Concerto mistério na Culturgest

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Russell Malone e Benny Green tocam já no próximo dia 5 de Maio, na Culturgest.

E daí, perguntam os Exmos. leitores deste modesto e irreverente blog?

E daí que publicidade e divulgação, 0! Z-E-R-O

Será um concerto só para o Universo CGD? (como as empresas gostam de utilizar esta expressão...)

Será um concerto tipo Kenny Garrett em Monsanto, também este um verdadeiro mistério de que só poucas pessoas ouviram falar e destas ainda menos conseguiram localizá-lo, perdido algures na famosa serra?

Não sei porque também não consigo localizar o site desta instituição a partir da página da CGD!

Dão-se alvíssaras a quem tiver mais informações...

Nota: Começo a achar que há uma conspiração contra o jazz, a qual passa por organizar concertos mistério para depois provar que o jazz não tem público e passá-lo à clandestinidade... Se calhar é melhor falar com o Nuno Markl.

25 de abril de 2004

Furacão Cullum arrasou a FNAC!

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É difícil descrever o que se passou hoje à noite, entre as 20h e as 21h, no Fórum FNAC Colombo.

Jamie Cullum, apesar da sua baixa estatura, é uma autêntica força da natureza e está neste momento num percurso que cruza o jazz com influências claramente rock. Só assim se explica todo o show-off em palco, aliás soberbamente realizado e onde nem faltou o cravo na ponta do piano. Cullum salta, corre, canta de pé em cima do banco do piano, tecla com os pés em «I Get a Kick Out of You», percute o piano e as suas cordas e ainda percorre o auditório a cantar sem microfone. Irreverências mais próprias do rock do que do jazz, mas que ajudam a refrescar um pouco os velhos standards.

Por outro lado, Cullum trouxe também alguns originais, nomeadamente «All at Sea», composto há um par de anos na sequência de um cruzeiro com escala em Lisboa e consequente passagem pela festa da cerveja realizada no Castelo de São Jorge.

No concerto, ficou ainda evidente a musicalidade de Cullum e os seus conhecimentos. O cantor comanda o seu trio com mestria e ele responde com o rigor de uma máquina bem oleada. Tudo resulta milimetricamente e ajuda ao espectáculo.

E se num balanço final, o jazz não é o elo mais forte, é também verdade que Cullum, tal como Krall, pode ajudar a ganhar novos adeptos para o som da surpresa, estando, como está, posicionado como cross-over.

Art Blakey e o 25 de Abril

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Art Blakey parece ter uma qualquer ligação ‘transcendental’ com o advento da Democracia em Portugal.

Em 1974, em Abril, apenas 20 dias antes da viragem política, Art Blakey e os Jazz Messengers apresentaram-se no Cinema Monumental com Carter Jefferson, Stafford James, Cedric Lawson e Olu Dara. Traria ele e os seus mensageiros a mensagem do sonho americano e da liberdade para os portugueses?

Em 24 e 25 de Abril de 1979, encontramos Art Blakey e os Jazz Messengers a tocar em pleno centro político de Portugal, a Praça do Comércio, a comemorar o quinto aniversário da revolução... Estariam ele e a organização a passar aos portugueses a mensagem de que o jazz era a música do novo regime porque é a música da liberdade criadora?

Estes dois concertos são, pois, de certa forma históricos, não só pelo momento político em que tiveram lugar, mas também pela qualidade dos músicos e, particularmente por o segundo concerto destes ter ocorrido no coração do poder político do país, facto certamente só possível no pós 25 de Abril. Sobre ele escreveu a imprensa na época: «No palco ao ar livre, à beira-Tejo, o grupo «Jazz Messengers», de Art Blakey, levou o público jovem ao rubro».

Se hoje nas comemorações do 30.º aniversário do 25 de Abril houve fado com a cantora Mariza, já há 25 anos houve jazz com Art Blakey, jazz a linguagem da liberdade e da democracia em que todos podem improvisar, jazz a música do intérprete.

Já agora, apresento um disco gravado pelos Jazz Messengers em 1964, 10 anos antes do 25 de Abril, que tão bem casa com esta revolução.


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NOTA: Enquanto escrevo este post Francisco Louçã discursa na A.R. Não sou nem nunca fui do Bloco de Esquerda ou de qualquer outro partido político, tão só da Democracia e da justiça, mas tenho de reconhecer que o discurso dele está a ser simplesmente brilhante! «Portugal não é um país, é um sítio da justiça privada, das prisões privadas, dos hospitais privados, da água privada, do futebol» etc...

Quem souber, que leia nas entrelinhas, como se fazia no tempo da censura.

24 de abril de 2004

Jamie Cullum na Fnac, 25 de Abril, 20h00!

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Jamie Cullum, a nova voz masculina do jazz que a indústria da Universal se prepara para elevar ao grau de vedeta, tal como fez com Diana Krall, está em Portugal e vai cantar amanhã, dia 25 de Abril, na FNAC do Colombo, às 20h00. Depois, segue-se uma passagem pelo programa Herman SIC.

Com um novo disco no mercado, «Twenty Something», Cullum (de que já aqui falámos há uns meses) não vai deixar a FNAC indiferente nem o público português. Para a produção deste disco e outros mais que se seguirão, Cullum assinou um contrato com a Universal no módico valor de £1,000,000...

Definitivamente, o mercado discográfico do jazz já não é o que era.

Ah, já agora, resta dizer que Cullum nasceu alguns anos depois do 25 de Abril, contando pouco mais de 24 anos. Só uma curiosidade...

23 de abril de 2004

No comments...

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... ou de como o 25 de Abril serviu para alguma coisa.

Já agora façam um teste simples:

1 - escrever o endereço www.altavista.pt
2 - seleccionar pesquisas em Portugal
3 - escrever a palavra estúpido
4 - clicar em Localizar
5 - observar a primeira página encontrada e entrar nela
6 - gozar o prato!
7 - conceder que lá nisso a rapariga acertou: «não há coincidências»
8 - enviar estes procedimentos a um amigo
9 - anotar no diário: «Caro diário, hoje encontrei na internet o site de um dos responsáveis pela nossa bela 'evolução' dos últimos dois anos. Estranhamente cheguei lá por um adjectivo pouco normal para caracterizar alguém capaz de fazer evoluir o que quer que seja. Nota: procurar no dicionário a raiz da palavra estúpido e outros eventuais significados».

[foto gentilmente 'cedida' por «A Forma do Jazz»]

Jazz à Mezzo

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Como já vai sendo hábito (excepto nas semanas em que a programação é repetida ou medíocre), aqui fica a programação jazz do canal Mezzo.

Destaco Stephane Grappelli, Brad Mehldau e Kenny Barron, esse formidável pianista [foto].

Sábado - 24 de Abril de 2004

00:25 Mezzo Archive - Herbie Hancock Quartet; Jazz At Juan 2003
17:00 Classic Jazz - Stéphane Grapelli At Warschau's Jazz Festival In 1991

2a. Feira - 26 de Abril de 2004

19:50 Classic Jazz - Live at the New Morning 2003; Ray Barreto Group
21:00 Sur La Route With Ray Barretto - Dernier Train Pour Brooklyn
21:50 Jazz Clubbin' - Musiciens, Collectivisions; Le Willem Bruker Kollektif
22:50 Brad Mehldau - Trio At Marciac 2000

3a. Feira - 27 de Abril de 2004

21:50 Kenny Barron Trio At The Jazz Festival In Marciac 2002
22:50 Jazz Clubbin' - Arto Lindsay

4a. Feira - 28 de Abril de 2004

21:50 Jazz Clubbin' - Live at the New Morning 2003; Dianne Reeves
22:50 Amsterdamned Jazz

5a. Feira - 29 de Abril de 2004

14:00 Classic Jazz - Stéphane Grapelli At Warschau's Jazz Festival In 1991
21:50 Jazz Clubbin' - Live at the New Morning 2002 Xavier Richardeau Sextet

Santo Sacramento!

Ali um pouco acima da esquina da rua em que a objectiva de Carlos Gil captou um tanque na viragem do Estado Novo para a Democracia, na madrugada de Abril, ergue-se desde há um mês um novo espaço para o jazz. (frase escrita ao estilo dos aos 40/50...).

Refiro-me ao Sacramento Jazz, um bar instalado num edifício Pombalino com uma arquitectura que ajuda a conceber um espaço excepcional, marcado por arcos, tectos abobadados, colunas de pedra e luz artificial qb. Quanto ao atendimento, pelos irmãos Lála, é do melhor e mais simpático, estilo caseiro. «It Feels Like Home».

Ontem, depois de tanto ouvir falar neste projecto, decidi deslocar-me ao mesmo e acabei a martelar um pobre Bechstein (desculpa lá pelo mau jeito!), piano que ali habita e por onde passam regularmente as mãos de Filipe Melo e de Georgio Anamateros.

Para a semana canta a Maria Anadon (28 de Abril, 23h00) e no dia 6 de Maio sobe ao palco o combo de Patrícia Vasconcelos... com Filipe Melo.

Já agora, aos Sábados é noite de jam-session. Quem sabe toca, quem não sabe escuta!

Sacramento Jazz
Cç. do Sacramento, 40

22 de abril de 2004

Não se esqueçam do Jan Garbarek!

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Nos dias 13 e 14 de Maio, às 21h00, o grupo deste super saxofonista estará no Grande Auditório.

Com Jan Garbarek vêm o contrabaixista Eberhard Weber (um seu companheiro desde longa data), o pianista Rainer Brüninghaus e a percussão de Marilyn Mazur.

Não esquecer para mais tarde não se arrependerem...

Este disco é do Ca(e)tano!

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Já que estamos em maré de Caetano Veloso, e para que fiquemos num registo mais positivo, queria só deixar aqui um dos discos dele que mais me encanta.

É favor ouvir «Oceano», «Debaixo dos Caracóis» e «Chega de Saudade»!

Ok, eu sei que a maioria dos leitores deste blog já conhecem este disco de cor e salteado, mas ainda assim....

21 de abril de 2004

Regresso a Ella...

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Recorrentemente tenho necessidade de regressar a Ella e deixar-me absorver por todas as emoções que a sua magnífica voz comunica.

Esta semana tenho andado a ouvir este excelente CD gravado em 20 de Maio de 1970, em Budapest, com Tommy Flanagan, Frank De la Rosa e Ed Thigpen.

De todo o leque de canções, as minhas preferências vão inteiramente para «I'm Gonna Sit Right Down and Write Myself a Letter», «Open Your Window», «Spinning Wheel», «I'll Never Fall in Love Again», «Cabaret», «Raindrops Keep Falling on My Head», «The Lady Is a Tramp», a surpreendente «Summertime» e a fenomenal «(If You Can't Sing It) You'll Have to Swing It (aka Mr. Paganini)». E a terminar, a comovente «People».

Sucede que este é daqueles discos que têm que se ouvir com toda a atenção para captar os pormenores da voz, a técnica, a emoção. Tudo.

Infelizmente, este disco não é fácil de encontrar nas lojas cá em Portugal... Eu ainda fui a tempo de o capturar.

Este Caetano não é o meu...

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Devo confessar que pela primeira vez fiquei desiludido com um disco de Caetano Veloso.

Custa-me escrever este post sobre um dos músicos que mais admiro e que tantas horas de prazer me tem dado ao longo dos tempos, mas este Caetano a cantar em inglês grandes temas clássicos do passado ou os mais populares da actualidade recente não me encanta. E não me encanta porque acaba por não acrescentar nada ao que já foi feito por tantas outras vozes, muitas delas de excepção, como Ella, Sarah ou Sinatra.

Confesso que ainda só ouvi por alto e que este é um juízo ainda passível de alteração. Mas a verdade é que não encontrei o que esperava encontrar, ou seja, uma fusão com mais elementos musicais e timbres próprios da sua obra.

A ver vamos...

19 de abril de 2004

O que tem Art Blakey a ver com o 25 de Abril?

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Tudo e nada!

Será a parecença com Álvaro Cunhal em versão negro?

Aceitam-se palpites.

«Jazz no País do Improviso!» desvenda o mistério dentro de dias...

De qualquer forma, digamos que Art Blakey antecedeu a revolução de Abril e celebrou-a.

18 de abril de 2004

A fera Dee Dee ao vivo é bestial!

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Estou a ver o DVD da Dee Dee Bridgewater gravado ao vivo no North Sea Jazz Festival, em 2002, e de tal maneira impressionado que tinha de vir aqui colocar este post!

Neste momento em que escrevo ela está a cantar a «Alabama Song», um tema popularizado pelos Doors em 1969, misturando o «Blues March» para depois regressar ao tema após um longo solo em scat singing.

Dee Dee é um fenómeno de palco: canta, dança, gesticula, contorce-se, flirta com os músicos, seduz a audiência. Um verdadeiro animal de palco que faz lembrar Josephine Baker, cantora que, tal como Dee Dee, também se mudou das terras do Tio Sam para Paris.

Durante anos ofuscada pelas vozes de Sarah e Ella, Dee Dee vai emergindo a pouco e pouco como a sua digna sucessora. E, tal como o vinho Porto, quanto mais envelhece melhor fica. Diria que neste momento está no ponto!

17 de abril de 2004

I had a dream...

Um dia acordava e o jazz estava nas escolas de todo este imenso Portugal.

Servia para aproximar raças e religiões porque, como idioma universal e popular, permite todas as abordagens, estilos, aproximações, discursos. Não discrimina.

Os alunos excluídos e mais carenciados, mesmo não sabendo tocar, faziam percussão (sons da rua, da sua rua) e aprendiam que na sociedade todos podem falar desde que não se atropelem. Assim é o jazz, todos podem solar desde que saibam onde começar e onde terminar.

Brancos e pretos unidos pela música; ninguém rejeitado à partida. Um lugar ao sol(ista) para todos. Uma música para ir ao fundo da alma, ao encontro de cada um. Uma música que, ao contrário do pimba e do sol e dó, faça pensar, reflectir, deixe algo mais do que efémeras melodias inconsequentes.

O problema desta sociedade é não nos ouvirmos nem ouvirmos os outros. É partirmos de nós para chegar aos outros em vez de partir dos outros para chegar a eles.

Falta harmonia porque só há solistas, isto é, individualismo. E o jazz (ou a vida/sociedade) precisam de ambos; muito espírito de nação.

Portugal mais parece 10 milhões de portugueses e um país. Cada um a tentar desenrascar-se por si, a arranjar esquemas, quintas, capelas e capelinhas. No Estado erguem-se verdadeiras muralhas Fernandinas em torno de cada direcção-geral, ministério, comissão, instituto. A dificuldade não é, então, fazer, é simplesmente comunicar; penetrar na muralha acirradamente defendida por cada líder tribal...

Aliás, se os Descobrimentos fossem hoje, Vasco da Gama não passava de Cacilhas. Havia de faltar o visto do Tribunal de Contas, haveria vagas por preencher na tripulação do navio, não haveria dinheiro para as velas, a «Caras» quereria o exclusivo das fotos na primeira praia a ser avistada, a TVI haveria de chegar à Índia primeiro, tirando-lhe o protagonismo, Santana Lopes teria de baptizar o navio, Paulo Portas quereria passar a tripulação em revista... e Durão haveria de pôr-se em bicos de pés para ficar na fotografia. Cavaco Silva desmentiria que seria Presidente quando o navio voltasse quatro anos depois, Guterres não haveria de piar, Ferro, qual âncora presa no leito da corrente, haveria de enferrujar antes de largar a nau do PS.

Descobriríamos então todos que antes de partirmos à conquista de novos mundos teríamos de organizar o nosso próprio mundo. Rasgar Portugal de alto a baixo, cortar feudos, afastar caciques, expulsar os medíocres, chutar os corruptos, rachar o betão em que nos prenderam, educar e aprender, saber para ensinar, limpar rios e riachos mais os que proclamam a defesa do ambiente e logo subscrevem a instalação de novas fontes de poluição, expôr na praça pública os vendilhões do templo, arrolar em pergaminhos eternos os que venderam a alma deles e dos outros, publicitar alto e bom som que o país vai nu!

O que diz Caetano?

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Bem, diz muita coisa mas já não diz o que tão bem disse no passado, mesmo no passado mais recente.

Agora vem cantar em inglês alguns temas adoptados pelo jazz e outros criados pela pop, demonstrando que a música é cada vez mais uma música universal.

Ainda não ouvi com atenção este disco mas espero que me surpreenda como quase todos os outros que constam do seu rico portfolio.

É jazz? Não, mas tem muito swing, como sempre!

15 de abril de 2004

Michael Brecker falta a Matosinhos em Jazz

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O saxofonista Michael Brecker cancelou a sua actuação no Matosinhos em Jazz, prevista para o dia 20 de Maio. Ao que «Jazz no País do Improviso!» apurou, o músico terá invocado a necessidade de entrar em estúdio para gravar um novo trabalho.

Em sua substituição actua Toots Thielmans, um velho conhecido do público português.

Jazz no seu telemóvel

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Está na altura de correr com a Britney Spears, o Zé Cabra e o «Mister Gay» do toque do seu telemóvel. É que agora já pode ter um sinal de chamada com jazz a sério.

Pelo menos um site inglês disponibiliza umas largas dezenas de temas de jazz... mas só para quem tem Nokia.

Entre os temas contam-se:

Bobby Timmons/Art Blakey And The Jazz Messengers So Tired
Charlie Parker Anthropology
Charlie Parker Confirmation
Charlie Parker Cool Blues
Charlie Parker Crazeology
Charlie Parker Dexterity
Charlie Parker Donna Lee
Charlie Parker Scrapple From The Apple
Chick Corea Got A Match?
Chick Corea Spain
Clifford Brown Blues Walk
Dave Brubeck Take Five
Frank Sinatra Love And Marriage
Gene Kelly I Got Rhythm
Gershwin Nice Work If You Can Get It
Glenn Miller In The Mood
Glenn Miller Little Brown Jug
Glenn Miller Moonlight Serenade
Glenn Miller Pennsylvania 6-5000
Glenn Miller Sing Sing Sing
Jaco Pastorius Come On, Come Over
Jaco Pastorius Jazz Street
Jimmy Giuffre Four Brothers
Joe Henderson Blue Bossa
Joshua Redman Dare I Ask?

Eu e o meu Siemens vamos continuar fiéis ao tema «Siemens Swing», que vem de origem. Isto é tudo muito engraçado, mas tenho mais que fazer ao meu OGD - orçamento geral doméstico!

Voltamos já de seguida após os compromissos publicitários com a Nokia...

14 de abril de 2004

Uma noite inesquecível com Maria Viana

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O Blindfold test ontem realizado na FNAC do Forum Almada revelou Maria Viana como uma profunda conhecedora do jazz, acertando 13 em 15 respostas. Ao lado só passaram mesmo Shirley Horne e Dee Dee Bridgewater.

Mas, mais importante do que isso, foi a alma desta sessão. Maria Viana cantou em uníssono com as grandes divas do jazz, contou estórias do seu encontro com algumas delas, fez rir, encantou, provocou e no final ainda foi surpreendida por mim com o vídeo da sua magnífica actuação ao vivo no Estoril Jazz, ao lado do trombonista Al Grey.

Depois, claro, só dava mesmo para ir até ao HOT e cantar um ou dois temas na jam-session liderada pelo piano de Barros Veloso. E assim foi, sem microfone, que se ouviram «I've Got a Crush on You», «Waltz for Debby» e «They Can't Take That a Way For Me», esta última num magníficou duo com um contrabaixista espanhol que está em Portugal de passagem (que pena...).

Entretanto, para quem estiver pelo Algarve, mais concretamente por Olhão, pode vê-la actuar já no próximo dia 16 de Abril 2004 pelas 22:00, no âmbito do 1.º Festival de Jazz de Olhão.

13 de abril de 2004

Hoje hà Blindfold test ao vivo com Maria Viana

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De 8 a 15 e Abril, está a decorrer na FNAC do Forum Almada um ciclo subordinado ao jazz e que conta com as actuações de músicos como Carlos Barretto e Mário Laginha/Bernardo Sassetti.

Hoje, 13 de Abril, às 21h30, a revista «All Jazz» celebra o seu 2.º aniversário apresentando os melhores concertos e os melhores CD's nacionais e internacionais de 2003.

Além disso, o humilde autor deste blog vai realizar um blindfold test ao vivo com a convidada especial Maria Viana, num jogo interactivo com o público. Isto é, o público vai ter formulários para participar no teste e habilita-se a ganhar CD's.

Naturalmente, todos os frequentadores de «Jazz no País do Improviso!» estão convidados a participar neste teste. Só não sei é se a FNAC tem discos suficientes para premiar tantas respostas certas que desde já prevejo da parte de V. Exas...

11 de abril de 2004

Uma pequena 'bill' para ter Bill em grande!

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Mais um grande nome do jazz, mais uma pechincha na FNAC do Chiado.

Em 1977, Bill Evans gravou para a editora Warner o seu primeiro disco, curiosamente o último registado em estúdio com o contrabaixista Eddie Gomez, o mesmo que o acompanhou em Lisboa, em 1975.

«You Must Believe In Spring» foi agora remasterizado (daí a qualidade audio) e editado em CD, contando com três novas faixas que não constavam do original em vinyl. Na FNAC do Chiado custa 7,95 euros.

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Já agora, para os muitos fans de Bill Evans, aqui fica um dos sites mais desenvolvidos sobre a sua música e vida.

Aproveito para lembrar que alguns dos melhores discos de Brad Mehldau, um fiel seguidor de Bill Evans, continuam à venda na FNAC do Chiado por este mesmo preço...

Mais do mesmo no Mezzo...

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Esta semana que vem o Mezzo repete praticamente toda a programação de jazz já transmitida na passada semana. Enfim, é bom para quem esteve fora, em férias de Páscoa.

Os destaques mantêm-se: Dianne Reeves, Miles Davis e Wayne Shorter.

2a. Feira - 12 de Abril de 2004

00:40 Journey... In Paris - The Italian Friend, Stefano Di Battista
01:10 Trio Rosenberg Invites Bireli Lagrène & Christian Escoudé
21:50 Jazz Clubbin' - "Le Jazzman Du Goulag"
22:50 Stefano Di Battista - Jazz In Marciac 2003

3a. Feira - 13 de Abril de 2004

00:00 Mezzo Archive - Dianne Reeves; Live Et The New Morning 2003
22:05 Jazz Clubbin' (??)

4a. Feira - 14 de Abril de 2004

21:50 Jazz Clubbin' - Erik Truffaz Nancy Jazz Pulsation 2003

5a. Feira - 15 de Abril de 2004

00:25 Mezzo Archive - Wayne Shorter Quartet; Jazz In Marciac 2003
14:00 Classic Jazz - Miles Davis Plays Gil Evans; Montreux 91
15:00 Dianne Reeves - Live At The New Morning, 2003
21:50 Jazz Clubbin' - Compay Segundo At The "Cirque Royal"
23:15 "Le Jazzman Du Goulag"

6a. Feira - 16 de Abril de 2004

01:30 100 Years Of Jazz Memory - Travellers Without Luggage; Parte 2
21:50 Jazz Clubbin' - Tuck & Patti; Live At The New Morning, 2002
22:50 "Louisiane À Volonté"
23:25 Journey... In Paris - The Italian Friend, Stefano Di Battista

Sábado - 17 de Abril de 2004

17:00 Classic Jazz - Mariza (será a nossa? será Fado? Jazz não é certamente, que o jazz não toca assim)

10 de abril de 2004

Há jazz a bordo do Queen Mary 2

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Há jazz a bordo deste verdadeiro gigante dos mares que hoje passou por Lisboa. São 345 metros de comprimento e 72 de altura, propulsionados por 157 000 cavalos...

Entre as muitas atracções a bordo do QM2 existe também um clube de jazz que dá pelo nome de Commodore Club.

Situado na proa do navio, com amplas janelas, este é certamente o clube de jazz com melhor vista do mundo!

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Diana Krall, a beleza da música, o primo dela e eu

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Ontem ao ver Diana Krall a cantar na Sic Notícias, tratada como diva do jazz, por ocasião do lançamento de «The Girl In The Other Room», veio-me à memória o dia em que a conheci, ainda era ela uma ilustre desconhecida.

Um certo dia de Outubro de 1996 o meu telefone tocou. Do lado de lá estava uma representante da editora MCA/Impulse. Tinha a Diana Krall disponível para entrevistas aos órgãos de comunicação social e queria que eu me deslocasse, para o efeito, ao hotel Estoril Sol.

Pois bem, eu até tinha o disco «All for You» e tinha adorado a sua forma de cantar e tocar piano. Aliás, foi o primeiro disco que ecoou na minha nova casa, ainda vazia mas já com uma aparelhagem.

«Ok, lá estarei!». Ao que sei, fui o único.

Não a achei especialmente bela, pelo menos não tanto como nas produzidas fotos do disco. Ali estava uma jovem tímida e percebia-se que ainda estava pouco à vontade com as entrevistas. Porém, um acaso do destino ajudou a que ela se soltasse e as palavras fluíssem: «You look a lot like a cousin of mine in Canada! I love him» - disse-me. Um sorriso grande abriu-se de boca a orelha em ambas as faces.

Aqui ficam algumas das suas declarações:

O gosto de Diana Krall pelo jazz começou muito cedo. «A minha mãe tinha uma grande voz, o meu pai costumava trazer-me discos do Hank Jones, o meu tio cantava como o Bing Crosby e os meus avós gostavam de jazz. HAvia sempre muita música em casa».

«O Ray Brown dizia-me sempre para tocar com pessoas que tocassem melhor do que eu».

Na época, Krall ainda não devia conhecer Costello porque na lista das seuas influências estavam tão só «Sting, Elton John, Carmen McRae, Jimmy Rowles, Ernestine Anderson, Elen Humes, Ainta O' Day, Peggy Lee, Supertramp, Roberta Flack e Ray Brown».

Diana Krall podia ter, aliás, optado pela pop mas ela própria explicou porquê o jazz: «Porque é o que está no meu coração. Quando ouço o contrabaixo do Ray Brown ou o piano de Oscar Peterson, uau! É uma música com que cresci. Não me preocupa se é jazz ou não. O que conta é a beleza da música».

Sobre a falta de inovação no jazz, Diana Krall foi peremptória: «Há coisas muito interessantes a acontecer, como o acid jazz, o hip-hop e o trabalho que o Gary Bartz está a fazer. Há músicos incríveis. Por exemplo, a Cassandra Wilson, que está a inovar. Demora tempo, mas é injusto dizer que não há nada de novo. Nós, por exemplo, em trio, temos um som totalmente diferente de tudo o que se faz. Mais do que a inovação, o importante é a beleza na música. É a beleza da música que me atrai».

Já quanto aos seus fans, certamente que não é apenas a beleza da música que os atrai...

No final da entrevista, um carinhoso autógrafo no CD «All for You»: "To João -Thanks so much for your support, it was great talking with you. Peace. Diana".

Daqui para a frente a carreira de Krall foi sempre numa espiral ascendente e hoje é o que se sabe. Não tive nenhum papel nisso, a não ser contribuir para que ela começasse a ser conhecida em Portugal. O meu jornal, «A Capital», justiça seja feita, fez algumas primeiras páginas e últimas páginas com ela e deu-lhe imenso espaço fotográfico. E um dos responsáveis por isso foi o meu editor de então, o Rui Tentúgal, um apaixonado pelo jazz.

9 de abril de 2004

Matosinhos em Jazz uma vez mais

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A partir de Maio, o Jazz regressa a Matosinhos para mais uma edição deste importante festival, nascido em 1997 mas já bem implantado no roteiro dos grandes eventos do jazz a nível nacional.

E não se pense que o festival é apenas destinado ao público do Norte. Com os bilhetes a um preço extremamente acessível, vale a pena uma ida a Matosinhos. A viagem de comboio mais o bilhete, feitas as contas, fica quase ao preço de um concerto em Lisboa.

Nesta VII edição, apostava sobretudo no dia 20 e 21, para ver o Michael Brecker e o quinteto do super contrabaixista que é Rufus Reid, para além, claro, dos grupos nacionais de Rodrigo Gonçalves e Jacinta.

Aqui fica, pois, a programação completa do Matosinhos em Jazz 2004, realizado no Auditório da Exponor, entre 20 e 22 de Maio:

20 de Maio de 2004 - 5ª feira

Quinteto de Rodrigo Gonçalves c/ Perico Sambeat

Michael Brecker Quartet
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21 de Maio de 2004 - 6ª feira

Jacinta

Rufus Reid Quintet
John Stetch - piano
Montez Coleman - bateria
Rich Perry - saxofone
Freddie Hendrix - trompete
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22 de Maio de 2004 - Sábado

The Three Guitars
Featuring
Larry Coryell, Badi Assad, John Abercombie

Shemekia Copeland
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Para além do festival, a Câmara Municipal de Matosinhos, que tem pautado a sua actividade pelo desenvolvimento de músicos de jazz locais, promove uma vez mais o «MATOSINHOS JAZZ AWARDS».

Este concurso visa estimular a criação e a produção musicais, na área do Jazz, incentivando a descoberta de novos valores nesta área musical.

Podem concorrer solistas instrumentais ou vocais e grupos instrumentais ou vocais de nacionalidade portuguesa, ou estrangeiros com residência em Portugal, sendo a idade a única limitação.

Os prémios a atribuir inserem-se nas seguintes categorias:

Solista instrumental e/ou vocal - 1º classificado - 1.000,00 € e direito a actuar no VIII Matosinhos em Jazz; 2º - 500,00 €; 3º - 250,00 €

Grupo instrumental e/ou vocal - 1º classificado - 2.000,00 € e direito a actuar no VIII Matosinhos em Jazz; 2º - 1.000,00 €; 3º - 500,00 €

Os solistas e combos seleccionados actuarão nos dias 19 e 20 de Maio, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, e a cerimónia de entrega dos prémios decorrerá durante o VII Festival "Matosinhos em Jazz 2004".

As obras concorrentes, 3 músicas originais, ou clássicos desta área, interpretados pelo seu autor ou por intérpretes por ele designados, devem ser envidadas até ao próximo dia 14 de Maio de 2003 para:

Matosinhos Jazz Awards
Casa da Juventude de Matosinhos
Av. D. Afonso Henriques, 487
4450-014 Matosinhos

(Nota: consultar o regulamento junto da Câmara Municipal de Matosinhos, para efeitos de conhecimento detalhado dos seus requisitos)

8 de abril de 2004

E de Jazz se falou na Fnac Almada

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Começou no dia 8 o ciclo «Jazz nos Dias de Hoje», realizado na Fnac do Forum Almada. Este evento iniciou-se com um debate sobre o tema do ciclo, contando com a presença de António Curvelo, Rui Neves, Rodrigo Amado (Trem Azul) e do autor deste blog como moderador.

Deste debate se conclui:

- O jazz em Portugal, no que toca aos músicos, vai bem e recomenda-se, mas são necessários mais clubes para criar um circuito que permita adquirir endurance.

- O jazz não tem espaço na televisão, muito embora o jazz tenha muito espaço para a estética televisiva.

- O jazz não tem espaço na rádio, com honrosas excepções.

- Cada vez há mais festivais, o que é bom, e mais descentralizados face a Lisboa.

- Os festivais não têm, regra geral, falta de público, mas têm falta de marketing e de promoção.

- O jazz tradicional ainda vende pouco porque não passa na rádio, nem na televisão e muito pouco aprece na imprensa.

- As editoras promovem pouco o jazz e o que promovem vive muito da imagem e da embalagem, com honrosas excepções.

- É preciso informar correctamente o público sobre o elenco de cada festival para que não haja lugar à frustração de expectativas.

- As grandes superfícies devem promover mais iniciativas de debate sobre o jazz e de formação de públicos, desenvolvendo parcerias com os meios de comunicação social.

- Há salas que têm público fiel que não se desloca a outros espaços, independentemente do cartaz que aí se exiba. Há o público do CCB, da Culturgest, da Gulbenkian, etc.

No final houve ainda espaço para o debate com o público presente, sendo colocada a proposta de o jazz servir como forma de integração de minorias desfavorecidas, na sua qualidade de linguagem universal, proposta materializada no ensino deste idioma em bairros degradados. (eventualmente em fusão com o hip-hop e outras sub-culturas musicais).

Já agora, uma nota curiosa. Antes de abrir o debate com o público presente pedi a cada um dos meus companheiros de mesa que indicasse um ou dois discos ideais para servir de porta de entrada no jazz a quem dele não conhece nada ou conhece pouco.

António Curvelo sugeriu o «Solo Pictórico» (Carlos Barretto) e outro de que infelizmente não me recordo, Rui Neves sugeriu «Giant Steps» (John Coltrane) e Rodrigo Amado sugeriu Miles Davis com Gil Evans. Eu sugeri o incontornável «Kind of Blue».

O engraçado é que depois de terminada a sessão, um casal que nela tinha participado já andava atarefado na secção do jazz, à procura do dito «Kind of Blue». E não só o encontrou como comprou.

Ora digam lá que este tipo de eventos não ajuda a promover o jazz!

6 de abril de 2004

Jazz de hoje na outra margem

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De 8 a 15 e Abril, decorre na FNAC do Forum Almada um ciclo subordinado ao jazz e que conta com as actuações de músicos como Carlos Barretto e Mário Laginha/Bernardo Sassetti.

No dia 13 de Abril, terça-feira, às 21h30, a revista «All Jazz» celebra o seu 2.º aniversário apresentando os melhores concertos e os melhores CD's nacionais e internacionais de 2003. Além disso, o humilde autor deste blog vai realizar um blindfold test ao vivo com a convidada especial Maria Viana, num jogo interactivo com o público. Isto é, o público vai ter formulários para participar no teste e habilita-se a ganhar CD's.

Naturalmente, todos os frequentadores de «Jazz no País do Improviso!» estão convidados a participar neste teste. Só não sei é se a FNAC tem discos suficientes para premiar tantas respostas certas que desde já prevejo da parte de V. Exas...

Aqui fica a programação completa do ciclo:

Sexta, 9 Abril, 21H30
Ficções
Ocidental Praia

Este projecto remonta a 1988, altura em que o seu fundador, Rui Luís Pereira (Dudas), decidiu corporizar uma estética musical própria, fruto do prazer da composição, aliada à liberdade criativa da improvisação.
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Sábado, 10 Abril, 17H00
TGB
Sérgio Carolino | Mário Delgado | Alexandre Frazão

TGB é o nome de um trio que surgiu por indução de Alexandre Frazão, como aposta numa formação inusual em termos instrumentais, quer pelo tipo da combinação dos mesmos, quer pelo lugar móvel que estes ocupam na pirâmide tímbrica.
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Domingo, 11 Abril, 17H00
Jazz em D#

Ao ritmo de um agradável café, o jazz faz-se sentir no Fórum Fnac Almada, através de uma sessão de audição orientada por Pedro Costa. Este tipo de eventos tem sido uma forma, bem conseguida, de cativar público para o Jazz.
SESSÃO DE AUDIÇÃO
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segunda, 12 Abril, 21H30
João Paulo | Paulo Curado | Bruno Pedroso
As Sete Ilhas de Lisboa

Este trio representa um lugar de encontro de multiplicidades e cumplicidades, também de coexistência e criação colectiva. Os concertos são o resultado musical do seu impulso para percorrer caminhos não assinalados, levando consigo as suas aprendizagens e referências culturais, tradições, sensibilidades e emoções.
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Terça, 13 Abril, 21H30O - O melhor Jazz de 2003
Revista «All Jazz»

No âmbito deste ciclo, a revista All Jazz apresenta no Fórum Fnac Almada, os melhores CD’s de novidades internacionais e nacionais, reedições e ainda os concertos do ano de 2003.
BLINDFOLD TEST com MARIA VIANA + participação interactiva do público
(O Blinfold test consiste numa sessão em que são tocados excertos de discos de jazz com o objectivo de os participantes acertarem no nome do intérprete, tema e disco).
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segunda, 14 Abril, 21H30
Carlos Barretto
Solo Pictórico

O que há de comum entre o gesto do pintor e uma arcada de contrabaixo? Desafio a que procura responder este projecto de Carlos Barretto, que expõe pintura da sua autoria. A cada quadro corresponde um tema executado no contrabaixo, ao vivo, e em solo absoluto.
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Quinta, 15 Abril, 21H30
Mário Laginha e Bernardo Sassetti

Dos concertos a dois até ao projecto de gravarem um disco juntos, foi um pequeno e muito natural passo. Mário Laginha e Bernardo Sassetti encerram este ciclo de jazz na Fnac Almada, com a apresentação do seu novo e surpreendente trabalho, em ambiente perfeitamente intimista!

Jazz no Mezzo. Preparem as cassetes VHS!

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3a. Feira - 6 de Abril de 2004

21:50 Jazz Clubbin' - Medeski, Martin And Wood; The Dropper
22:25 Journey... In Paris - The Italian Friend, Stefano Di Battista
22:55 Stefano Di Battista - Jazz In Marciac 2003

4a. Feira - 7 de Abril de 2004

01:25 Jazz Memory - From Be Bop To Soul
21:50 Jazz Clubbin' - Jacky Terrasson Trio At The "13th Flâneries Musicales de Reims"
22:55 Stéphane Huchard - Live At The New Morning, 2002

5a. Feira - 8 de Abril de 2004

14:00 Classic Jazz - Pat Metheny; Jazz In Marciac 2003
15:00 Jazz Memory - From Be Bop To Soul
21:50 Jazz Clubbin' - Herbie Hancock Quartet, Jazz In Juan 2003
22:50 Mc Coy Tyner - Jazz Festival Warschau 1991

6a. Feira - 9 de Abril de 2004

00:05 Mezzo Archive - Jacky Terrasson Trio At The "13th Flâneries Musicales de Reims"
01:15 100 Years Of Jazz Memory - New York City
21:50 Jazz Clubbin' - Erik Truffaz Nancy Jazz Pulsation 2003
22:50 Lincoln Center Jazz Orchestra Featuring Wynton Marsalis

Sábado - 10 de Abril de 2004

00:25 Mezzo Mag - Mc Coy Tyner; Jazz Festival Warschau 1999
01:40 100 Years Jazz Memory - Raising The Lazy River
17:00 Classic Jazz - Miles Davis Plays Gil Evans; Montreux 91
18:00 Dianne Reeves - Live At The New Morning, 2003
22:50 World Clubbin' - Wayne Shorter Quartet; Jazz In Marciac 2003

Domingo - 11 de Abril de 2004

00:25 Mezzo Archive - Shemekia Copeland Blues Band; Blues Session 1

5 de abril de 2004

O voto em branco de Saramago...













... pode bem ser o melhor troco para responder aos autênticos cheques carecas que os políticos e partidos em geral têm passado aos portugueses no que se refere a promessas e honestidade intelectual, para não falar noutras...

Afinal de contas, os admiradores dos futebóis já são peritos em mostrar lenços brancos a treinadores e quejandos e aí não se coíbem de participar. Será que na política serão tão proactivos e interventivos, ou só o entretenimento os motiva?

E o que é isto tem a ver com um site de jazz? Nada e tudo. Nada pelas razões óbvias; tudo porque o jazz não pode ser descontextualizado da sua envolvente e antes de ser um amante do jazz sou um cidadão que quer que este «País do Improviso» se estruture seriamente para os desafios que aí vêm.

Além do mais, se os partidos e os políticos (desculpem a generalização até porque há alguns que admiro - são os que o sistema tratou de marginalizar) que têm subido ao palco nestes 30 anos de Abril fossem grupos de jazz, diria que as bandas, ou «os bandos», que têm improvisado e nos têm dado música ao longo destes anos não tocavam nem num festival das piores xarangas de província... daquelas que saem do palco na base da tomatada e do assobio.

Imaginem qualquer uma destas xarangas a tocar numa jam-session... com músicos a sério (se quiserem podem substituir a palavra músicos pela mais apropriada).

Bobby Watson entra no Hot Clube, começa a chamar os músicos, define o tema a tocar e conta 1, 2; 1,2, 3, 4...

Furão Barroso: «Alto lá, não sei se posso tocar esse tema. Só um momentinho que eu vou perguntar aqui ao Tortas! Diz que não, que é melhor eu tocar o «Whisper Not».

Bobby Watson: «Next!»

Toneca Xuterres: «Bem, eu esse não sei se sei, ora, portanto, deixa lá ver a harmonia, bom, ou seja, bem... enfim... é começar que eu depois logo vejo».

Bobby Watson: «Next!»

Acabado Silva: «Nada disso, nada disso. Eu raramente me engano e nunca tenho dúvidas. Esse tema não serve». Prefiro o «Someday Belém Will Come».

Bobby Watson: «Next!»

Pantanas Flops: «Com todo o respeito, permita-me que sugira antes a V. Exa. um tema que combine mais com a minha imagem. Olhe, por exemplo, o «Stompin' at Kapital».

Bobby Watson: «Next!»

Paulinho das Feiras: «Mas tem mesmo de ser esse? Eu preferia algo mais popular, que falasse às peixeiras e ao povo que trabalha no duro. Olhe, por exemplo, deixe lá ver... Não, pensando bem pode ser o «I'm an Errand Girl for Rhythm».

Bobby Watson: «Next!»

Manuela Azeda o Leite: «E quanto tempo é que isso demora, hã, hã?! Eu não posso estar aqui mais de 2,5 minutos. Isto comigo é como à antiga, quando os discos só tinham temas com esta duração e se repetiam obstinadamente na grafonola. Isso é que eram bons tempos... Eu prefiro algo do género «I Can't Give You Anything But Déficit».

Bobby Watson: «Next!»

J. Compayo: «Alto lá que eu primeiro tenho que o avisar já de que isto comigo é à Coltrane: solos pelo menos de três horas. Quanto ao tema pode ser o «As Time Goes By... Bye, Bye».

Bobby Watson: «Next!»

Moral da estória, a multidão que enchia o Hot assistiu a um magnífico concerto a solo por Bobby Watson.

Grande festa!

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Chegou ao fim a 2.ª Festa do Jazz do São Luiz, em Lisboa.

Com direcção artística de Carlos Martins e coordenação geral de Luís Hilário, este evento é de uma grande importância para o jazz nacional. É, diria mesmo, muito mais importante do que os festivais. Porque aqui os jovens aspirantes a músicos, vindos de escolas de todo o país, têm oportunidade de mostrar o seu trabalho ao público, à comunicação social, às editoras e a outros músicos.

Por outro lado, no palco principal têm assento os grupos de jazz portugueses já profissionais, os quais beneficiam da mesma exposição e têm assim oportunidade de mostrar os seus novos trabalhos, temas, arranjos, etc.

Do que vi, achei muito bom o combo da Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, do Porto, com dois promissores saxofonistas: João Guimarães e Zé Pedro. Também o combo da Associação "Grémio das Músicas", de Faro, revelou enorme potencial.

Do que se passou na sala principal, achei fantástica a Tora Tora Big Band, um projecto que mistura músicos de diferentes nacionalidades, assim como funde o jazz com a world music. Secção rítmica muito boa, sobretudo na percussão. Também o "Tribology", do pianista Rodrigo Gonçalves, deu nas vistas, sobretudo pela maturidade e profissionalismo que lhe está subjacente. A Big Band do Hot Club apresentou temas originas de Laginha, Peric sambeat, António Pinto e Pedro Moreira. Gostei sobretudo do tema de Laginha e da criatividade da suite original de Pedro Moreira.

Quanto ao Ensemble Festa do Jazz ainda estou a digerir o que se passou no palco. Não é o meu jazz; tenho dificuldade em descrever. De uma coisa estou certo, João Moreira, no trompete promete cada vez mais. Eu já lhe disse «Tu és o melhor». O João é um 'velho' amigo e a minha intuição diz-me que ele ainda nos vai surpreender mais do que já faz. Está lá tudo: o talento, o ouvido (um dos melhores, praticamente ouvido absoluto), o conhecimento da tradição, a técnica, a musicalidade, a alma, o coração, a bondade; tudo. Só falta encontrar o seu próprio caminho e acreditar na sua existência. Quando isso acontecer muita coisa vai mudar e para melhor. O difícil é quebrar barreiras e tabus. O processo está visivelmente em marcha.

Com minha pena, não consegui já assistir ao concerto de Mário Laginha, mas em compensação consegui finalmente ouvir o pianista Filipe Melo, aquele jovem que deu uma entrevista antológica à Rita Ferro Rodrigues, na Sic Notícias. Parece-me uma personagem fascinante e com a dose de 'loucura' e ambição qb para fazer algo de muito interessante. Duvido é que seja no jazz tradicional, mas esse já está feito. É como me disse um dia o guitarrista Barney Kessel: «The world doesn't need another Coltrane. It needs another you!».

Por falar em Kessel, coitado, morreu doente e na miséria e só teve apoio médico e de enfermagem graças aos donativos de amigos músicos. É assim o sistema de saúde e segurança social nos EUA, o mesmo que querem importar para cá... o «país do improviso».

Quem pode paga, quem não pode amarga!

Ella é fantástica

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Ultimamente tenho andado a ouvir este disco até à exaustão e decidi que tinha mesmo de falar dele aqui.

«Whisper Not» tem pelo menos três temas que fazem dele uma obra fundamental para perceber toda a versatilidade e unicidade da voz e do swing de Ella Fitzgerald, para além do clássico «Sweet Georgia Brown».

Refiro-me concretamente a «I Said No», «Old MacDonald» e «You've Changed»

O primeiro deles é uma canção com uma letra simples mas suficiente para explicar o jogo da sedução. Ouçam atentamente como o piano faz ora o papel do homem, ora o papel da mulher, dialogando com as frases de Ella. Reparem na subtileza da sua interpretação vocal e na expressividade. Magnífico!

O segundo, «Old MacDonald» é um dos melhores exemplos das capacidades vocais de Ella Fitzgerald e é complicado explicar aqui por palavras. Só mesmo ouvindo... Acreditem que não se vão arrepender. No fundo é uma canção infantil mas transportada para os terrenos do mais puro e duro swing. Incrível!

O terceiro, «You've Changed», é um dos meus preferidos, muito pela profundidade da letra e por falar de algo por que já todos passámos de certa forma. Não vale a pena explicar aqui. Just listen! E se um dia precisarem de expressar estes sentimentos a alguém e não souberem como, just play it!

Ah, e a melhor notícia é que encontram este CD à venda na FNAC por 11,50 euros, o que não é nada mau.

Depois digam se valeu ou não a pena!

2 de abril de 2004

Wynton Marsalis, pernas de frango emprestadas e a minha gravata

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Outro grande trompetista, outra estória de um encontro. Não é um dos meus ídolos no jazz, mas é um senhor. O Miles Davis não o 'gramava' muito e ele em troca praticamente não falou nele quando ajudou a realizar o documentário do Ken Burns sobre a história do jazz...

Esta estória em concreto passa-se em 1998, quando Marsalis veio a Lisboa com a Lincoln Center Jazz Orchestra, integrado no Festival dos 100 Dias que antecederam a abertura da Expo 98.

Na época, eu escrevia sobre jazz para o jornal «A Capital» e portanto tive o privilégio de ir assistir aos ensaios da banda e de falar com Marsalis numa pequena conferência da imprensa improvisada em cima do palco do CCB (Centro Cultural de Belém).

Os jornalistas iam colocando as questões e no fim Marsalis demonstrou para a RTP a sua técnica no trompete com a surdina a fazer o efeito wah-wah. Fiquei estarrecido com o que ouvi, ainda por cima estava mesmo ali ao lado. Genial, não há outra palavra para descrever. De repente senti-me transportado a New Orleans ou aos momentos de glória da orquestra de Duke Ellington. Não sei se a RTP alguma vez passou as imagens, mas se não passou é um crime!

Entretanto, aproveitei para falar com alguns dos músicos e acompanhei-os aos bastidores. Mais tarde, e já depois de ter jantado com os músicos em amena cavaqueira, Marsalis apareceu no restaurante dos artistas (localizado debaixo do palco do grande auditório do CCB e inacessível ao público), e com enorme simplicidade dirigiu-se ao balcão e pediu um hamburguer com batatas fritas à senhora de serviço. «Já não há nada!», respondeu ela, ignorando por completo a quem se dirigia.

Sem reclamar, Marsalis regressou à mesa dos músicos da sua orquestra e improvisou um jantar, roubando batatas e pedaços de frango que tinham sobrado nos pratos e travessas. Ali estava um grande músico de renome internacional, acolhido «à boa portuguesa» mas sem vedetismos. É assim o jazz.

Presenciando isto, e vendo-o ali isolado a depenicar umas pernas de frango ainda me dirigi à cozinheira, mas nada feito. A 'simpatia' e 'disponibilidade' também tinham acabado, juntamente com a comida. E queria lá ela saber se era o Marsalis ou quem quer que fosse.

Findo este episódio, meti conversa com ele, esperando encontrá-lo de mau humor. Surpresa das surpresas, nada disso. Não só conversou como, num gesto de grande humildade, ainda me ajeitou o nó da gravata. «You gotta look good, man!».

Já não há disto na cultura. Um homem maior que o seu génio a ponto de não ficar sujeito à 'natural' arrogância do primeiro.

Já agora, é de visitar o site do Marsalis, espectacular em termos de grafismo e animação multimedia. Há também o site do clube de fans.

E, last but not least, por falar em Marsalis há que falar também no disco acabadinho de sair, «The Magic Hour». Na Amazon custa 13,49 euros, cá anda à volta dos 18,00. Há coisas em que Portugal gosta de ser grande... Ó IVA, ó IVA, contigo VAI morrendo em nós a educação pela cultura.

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