5 de abril de 2004

Grande festa!

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Chegou ao fim a 2.ª Festa do Jazz do São Luiz, em Lisboa.

Com direcção artística de Carlos Martins e coordenação geral de Luís Hilário, este evento é de uma grande importância para o jazz nacional. É, diria mesmo, muito mais importante do que os festivais. Porque aqui os jovens aspirantes a músicos, vindos de escolas de todo o país, têm oportunidade de mostrar o seu trabalho ao público, à comunicação social, às editoras e a outros músicos.

Por outro lado, no palco principal têm assento os grupos de jazz portugueses já profissionais, os quais beneficiam da mesma exposição e têm assim oportunidade de mostrar os seus novos trabalhos, temas, arranjos, etc.

Do que vi, achei muito bom o combo da Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo, do Porto, com dois promissores saxofonistas: João Guimarães e Zé Pedro. Também o combo da Associação "Grémio das Músicas", de Faro, revelou enorme potencial.

Do que se passou na sala principal, achei fantástica a Tora Tora Big Band, um projecto que mistura músicos de diferentes nacionalidades, assim como funde o jazz com a world music. Secção rítmica muito boa, sobretudo na percussão. Também o "Tribology", do pianista Rodrigo Gonçalves, deu nas vistas, sobretudo pela maturidade e profissionalismo que lhe está subjacente. A Big Band do Hot Club apresentou temas originas de Laginha, Peric sambeat, António Pinto e Pedro Moreira. Gostei sobretudo do tema de Laginha e da criatividade da suite original de Pedro Moreira.

Quanto ao Ensemble Festa do Jazz ainda estou a digerir o que se passou no palco. Não é o meu jazz; tenho dificuldade em descrever. De uma coisa estou certo, João Moreira, no trompete promete cada vez mais. Eu já lhe disse «Tu és o melhor». O João é um 'velho' amigo e a minha intuição diz-me que ele ainda nos vai surpreender mais do que já faz. Está lá tudo: o talento, o ouvido (um dos melhores, praticamente ouvido absoluto), o conhecimento da tradição, a técnica, a musicalidade, a alma, o coração, a bondade; tudo. Só falta encontrar o seu próprio caminho e acreditar na sua existência. Quando isso acontecer muita coisa vai mudar e para melhor. O difícil é quebrar barreiras e tabus. O processo está visivelmente em marcha.

Com minha pena, não consegui já assistir ao concerto de Mário Laginha, mas em compensação consegui finalmente ouvir o pianista Filipe Melo, aquele jovem que deu uma entrevista antológica à Rita Ferro Rodrigues, na Sic Notícias. Parece-me uma personagem fascinante e com a dose de 'loucura' e ambição qb para fazer algo de muito interessante. Duvido é que seja no jazz tradicional, mas esse já está feito. É como me disse um dia o guitarrista Barney Kessel: «The world doesn't need another Coltrane. It needs another you!».

Por falar em Kessel, coitado, morreu doente e na miséria e só teve apoio médico e de enfermagem graças aos donativos de amigos músicos. É assim o sistema de saúde e segurança social nos EUA, o mesmo que querem importar para cá... o «país do improviso».

Quem pode paga, quem não pode amarga!


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