Diana Krall, a beleza da música, o primo dela e eu
Ontem ao ver Diana Krall a cantar na Sic Notícias, tratada como diva do jazz, por ocasião do lançamento de «The Girl In The Other Room», veio-me à memória o dia em que a conheci, ainda era ela uma ilustre desconhecida.
Um certo dia de Outubro de 1996 o meu telefone tocou. Do lado de lá estava uma representante da editora MCA/Impulse. Tinha a Diana Krall disponível para entrevistas aos órgãos de comunicação social e queria que eu me deslocasse, para o efeito, ao hotel Estoril Sol.
Pois bem, eu até tinha o disco «All for You» e tinha adorado a sua forma de cantar e tocar piano. Aliás, foi o primeiro disco que ecoou na minha nova casa, ainda vazia mas já com uma aparelhagem.
«Ok, lá estarei!». Ao que sei, fui o único.
Não a achei especialmente bela, pelo menos não tanto como nas produzidas fotos do disco. Ali estava uma jovem tímida e percebia-se que ainda estava pouco à vontade com as entrevistas. Porém, um acaso do destino ajudou a que ela se soltasse e as palavras fluíssem: «You look a lot like a cousin of mine in Canada! I love him» - disse-me. Um sorriso grande abriu-se de boca a orelha em ambas as faces.
Aqui ficam algumas das suas declarações:
O gosto de Diana Krall pelo jazz começou muito cedo. «A minha mãe tinha uma grande voz, o meu pai costumava trazer-me discos do Hank Jones, o meu tio cantava como o Bing Crosby e os meus avós gostavam de jazz. HAvia sempre muita música em casa».
«O Ray Brown dizia-me sempre para tocar com pessoas que tocassem melhor do que eu».
Na época, Krall ainda não devia conhecer Costello porque na lista das seuas influências estavam tão só «Sting, Elton John, Carmen McRae, Jimmy Rowles, Ernestine Anderson, Elen Humes, Ainta O' Day, Peggy Lee, Supertramp, Roberta Flack e Ray Brown».
Diana Krall podia ter, aliás, optado pela pop mas ela própria explicou porquê o jazz: «Porque é o que está no meu coração. Quando ouço o contrabaixo do Ray Brown ou o piano de Oscar Peterson, uau! É uma música com que cresci. Não me preocupa se é jazz ou não. O que conta é a beleza da música».
Sobre a falta de inovação no jazz, Diana Krall foi peremptória: «Há coisas muito interessantes a acontecer, como o acid jazz, o hip-hop e o trabalho que o Gary Bartz está a fazer. Há músicos incríveis. Por exemplo, a Cassandra Wilson, que está a inovar. Demora tempo, mas é injusto dizer que não há nada de novo. Nós, por exemplo, em trio, temos um som totalmente diferente de tudo o que se faz. Mais do que a inovação, o importante é a beleza na música. É a beleza da música que me atrai».
Já quanto aos seus fans, certamente que não é apenas a beleza da música que os atrai...
No final da entrevista, um carinhoso autógrafo no CD «All for You»: "To João -Thanks so much for your support, it was great talking with you. Peace. Diana".
Daqui para a frente a carreira de Krall foi sempre numa espiral ascendente e hoje é o que se sabe. Não tive nenhum papel nisso, a não ser contribuir para que ela começasse a ser conhecida em Portugal. O meu jornal, «A Capital», justiça seja feita, fez algumas primeiras páginas e últimas páginas com ela e deu-lhe imenso espaço fotográfico. E um dos responsáveis por isso foi o meu editor de então, o Rui Tentúgal, um apaixonado pelo jazz.
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