5 de abril de 2004

O voto em branco de Saramago...













... pode bem ser o melhor troco para responder aos autênticos cheques carecas que os políticos e partidos em geral têm passado aos portugueses no que se refere a promessas e honestidade intelectual, para não falar noutras...

Afinal de contas, os admiradores dos futebóis já são peritos em mostrar lenços brancos a treinadores e quejandos e aí não se coíbem de participar. Será que na política serão tão proactivos e interventivos, ou só o entretenimento os motiva?

E o que é isto tem a ver com um site de jazz? Nada e tudo. Nada pelas razões óbvias; tudo porque o jazz não pode ser descontextualizado da sua envolvente e antes de ser um amante do jazz sou um cidadão que quer que este «País do Improviso» se estruture seriamente para os desafios que aí vêm.

Além do mais, se os partidos e os políticos (desculpem a generalização até porque há alguns que admiro - são os que o sistema tratou de marginalizar) que têm subido ao palco nestes 30 anos de Abril fossem grupos de jazz, diria que as bandas, ou «os bandos», que têm improvisado e nos têm dado música ao longo destes anos não tocavam nem num festival das piores xarangas de província... daquelas que saem do palco na base da tomatada e do assobio.

Imaginem qualquer uma destas xarangas a tocar numa jam-session... com músicos a sério (se quiserem podem substituir a palavra músicos pela mais apropriada).

Bobby Watson entra no Hot Clube, começa a chamar os músicos, define o tema a tocar e conta 1, 2; 1,2, 3, 4...

Furão Barroso: «Alto lá, não sei se posso tocar esse tema. Só um momentinho que eu vou perguntar aqui ao Tortas! Diz que não, que é melhor eu tocar o «Whisper Not».

Bobby Watson: «Next!»

Toneca Xuterres: «Bem, eu esse não sei se sei, ora, portanto, deixa lá ver a harmonia, bom, ou seja, bem... enfim... é começar que eu depois logo vejo».

Bobby Watson: «Next!»

Acabado Silva: «Nada disso, nada disso. Eu raramente me engano e nunca tenho dúvidas. Esse tema não serve». Prefiro o «Someday Belém Will Come».

Bobby Watson: «Next!»

Pantanas Flops: «Com todo o respeito, permita-me que sugira antes a V. Exa. um tema que combine mais com a minha imagem. Olhe, por exemplo, o «Stompin' at Kapital».

Bobby Watson: «Next!»

Paulinho das Feiras: «Mas tem mesmo de ser esse? Eu preferia algo mais popular, que falasse às peixeiras e ao povo que trabalha no duro. Olhe, por exemplo, deixe lá ver... Não, pensando bem pode ser o «I'm an Errand Girl for Rhythm».

Bobby Watson: «Next!»

Manuela Azeda o Leite: «E quanto tempo é que isso demora, hã, hã?! Eu não posso estar aqui mais de 2,5 minutos. Isto comigo é como à antiga, quando os discos só tinham temas com esta duração e se repetiam obstinadamente na grafonola. Isso é que eram bons tempos... Eu prefiro algo do género «I Can't Give You Anything But Déficit».

Bobby Watson: «Next!»

J. Compayo: «Alto lá que eu primeiro tenho que o avisar já de que isto comigo é à Coltrane: solos pelo menos de três horas. Quanto ao tema pode ser o «As Time Goes By... Bye, Bye».

Bobby Watson: «Next!»

Moral da estória, a multidão que enchia o Hot assistiu a um magnífico concerto a solo por Bobby Watson.


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