29 de fevereiro de 2008

Herbie Hancock: no topo do mundo!

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Herbie Hancock é sem dúvida o jazzman do momento, ele que foi o grande vencedor dos Grammys em 2008, ao ter arrecadado o prémio para o Melhor Album do Ano e Melhor Album Contemporâneo de Jazz. Com estes dois Grammy o pianista já tem em casa nada menos do que 12 gramofones dourados...

Herbie Hancock actua em Portugal a 5 de Julho próximo, em Loulé, integrado na programação do Allgarve Jazz, adivinhando-se casa cheia. Basta dizer que as vendas do disco River: the Joni Letters aumentaram 967% após ter conquistado o Grammy para Melhor Album do Ano.

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Entretanto a grande visibilidade e reconhecimento públicos de Hancock vão dando frutos, músico que no próximo Sábado é agraciado pela Universidade de Harvard com o prémio de Artista do Ano.

28 de fevereiro de 2008

SF Jazz Collective na Casa da Música

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Foto cortesia da Fundação Casa da Música

Tivemos oportunidade de assistir ao concerto realizado pelo grupo SF Jazz Collective no passado dia 26 de Fevereiro, na Casa da Música, ao qual nos deslocámos a convite desta instituição.

Embora à partida se pudesse esperar o melhor deste combo, a verdade é que as expectativas foram ultrapassadas, sobretudo se comparado o presente concerto com o que tivemos oportunidade de ver no Estoril Jazz, em Julho de 2007.

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Foto cortesia da Fundação Casa da Música

Para tal contribuíram sobretudo dois músicos – Stefon Harris (vibrafone) e Matt Penman (contrabaixo), ambos em excelente forma – o repertório mais actual de Wayne Shorter e temas mais interessantes da autoria dos elementos deste colectivo.

Mas vamos por partes.

Stefon Harris, que no Estoril Jazz não esteve ao nível aqui evidenciado, foi a estrela da noite neste octecto. A sua sensibilidade musical, por um lado, o total domínio do seu instrumento, por outro, e a criatividade e subtilezas que evidenciou em palco foram, com efeito, difíceis de igualar pelos seus companheiros. Restam, assim, poucas dúvidas de que Harris é cada vez mais um legítimo herdeiro de Milt Jackson e Bobby Hutcherson (que integrou em tempos o SF Jazz Collective). Matt Penman, pode dizer-se sem exagero ou precipitação, revelou um grande salto qualitativo relativamente a última vez que o vimos e ouvimos ao vivo. A sua capacidade de impulsionar o colectivo e de lhe conferir um pulso firme e swingante foi inabalável, o mesmo se podendo dizer do solo em “El Gaúcho”, uma composição de Shorter com arranjo da sua autoria.

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Fotos cortesia da Fundação Casa da Música

Esta apreciação de Harris e Penman em nada diminui, porém, a prestação dos outros seis elementos do SF, apenas significando que estes tiveram uma noite de melhor desempenho e evidência. Aliás, seria injusto não mencionar o excelente trabalho da pianista Renee Rosnes, bem como de Eric Harland (quanto a nós um dos melhores bateristas da actualidade e também um dos mais versáteis) e dos solistas Miguel Zenón (que continua a surpreender e a afirmar a sua elevada competência e qualidade no saxofone.alto), Dave Douglas e Joe Lovano (o mais aplaudido, ele que é no presente um dos expoentes do saxofone-tenor, facto que não terá passado despercebido ao público).

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Foto cortesia da Fundação Casa da Música

Também o repertório do Octeto se revelou um ponto de interesse neste concerto, seja pelos temas de Wayne Shorter, seja pelos originais. Da estante de Shorter vieram para palco “Black Nile”, “Armageddon”, Diana”, “El Gaúcho” e “Yes or No”, respectivamente arranjados por Robin Eubanks, Miguel Zenón, Renee Rosnes, Matt Penman e Eric Harland. A incursão deste colectivo de excepção pelo repertório de Shorter veio uma vez mais fazer ampla justiça à sua qualidade como compositor, um dos mais importantes do jazz contemporâneo.

O tema da noite veio, todavia, da alma de Stefon Harris (e este é mais um motivo para o considerar o protagonista deste concerto) e dá pelo título de “Road to Dharma”. Este é um tema claramente bem conseguido e desenvolvido, que resulta muito bem do ponto de vista melódico e harmónico e que gerou empatia imediata com o público. Não deixa de ser ainda significativo que numa época em que os títulos das canções raramente têm algo a ver com o ambiente que estas projectam, Harris tenha conseguido também aqui ser bem sucedido. É verdade que esta devia ser uma obrigação de qualquer composição, mas também é verdade que a prática tem mostrado que nem sempre assim sucede… seja por imperativos de marketing, seja por outras razões.
Ao nível dos originais do octeto, também Dave Douglas contribui com um tema muito interessante e onde realmente se demarcou a nível solista. Referimo-nos a “Secrets of the code”. Infelizmente perdeu-se o hábito de explicar ao público a história por detrás de cada tema e talvez seja por isso, em parte (só em parte), que as novas composições demoram tempo a tornar-se standards. Falta a história para além da música; a história que, em temas instrumentais e complexos, ajuda a construir pontes e vínculos com o público.

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Foto cortesia da Fundação Casa da Música

Em síntese, podemos dizer que este foi um concerto bem conseguido e um espectáculo que guardou o melhor para o fim. Pena foi que o som não tenha estado irrepreensível, fazendo com que por vezes fosse difícil ouvir o vibrafone ou que a bateria soasse demasiado alta em volume.

Do país do Jazz ao país que Jaz…

É um lugar de contrastes este país que num dia nos dá a ouvir jazz na ultramoderna e sofisticada Casa da Música e no outro nos mostra, cruelmente, as feridas do atraso crónico em que Jaz.

E é a viagem que fizemos de comboio que, qual cateter cirúrgico, melhor evidencia tais feridas, bem visíveis logo “ali ao lado” da Casa da Música, no apeadeiro (chamar-lhe estação é um esforço de que não me acho capaz) de Vila Nova de Gaia, cujas construções de madeira que o pontuam em nada destoariam na pitoresca paisagem dos anos 40 e certamente receberiam bem as mercadorias e os passageiros dos comboios a vapor que então por ali paravam.

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Damos por nós a perguntar se Luís Filipe Menezes também achará que esta não é a sua Gaia… ainda que presida ao seu executivo autárquico. Concedendo-lhe o benefício da dúvida, admita-se ainda que talvez se dê o caso deste ter outras prioridades para o seu mandato, pensamento que me chega pela memória das palavras que no dia anterior lançou na SIC notícias a propósito do custo da interdição de publicidade na RTP, medida que pretende implementar caso a maioria dos 10 milhões de eleitores já se tenham esquecido das suas lamentáveis intervenções nesta mesma RTP (a propósito das viagens fantasma) e do episódio triste que protagonizou no Coliseu de Lisboa e resolvam elegê-lo nas próximas legislativas para tratar desta “prioridade” que, num país assolado pelo desemprego e pela pobreza, se percebe que é precisamente a mais premente… Está claro de ver quem pagaria à RTP o défice criado por tal medida, assim como se percebe a quem aproveita nesta fase o estratégico piscar de olho aos operadores privados de televisão.

Voltando aos ditos barracões (que até têm um certo interesse museológico e poderão mesmo interessar à Polónia se um dia for necessário reconstituir Auschwitz), bem sabemos que a responsabilidade é da REFER, mas de um homem que exige tudo a todos (incluindo a omnipresença e a omnipotência) não se pode esperar menos do que a capacidade de pôr em prática na sua própria casa o que prega na terra fácil e facilitadora dos media nacionais. Afinal de contas, não é Vila Nova de Gaia que vê a sua imagem prejudicada pela presença destes pavilhões jurássicos numa linha que também é turística?

São agora 12h00 e o comboio avança direito a Lisboa, mas por vezes parece que ele está estacado e que é o país que rola pelos carris. Um país que, por um insondável acto de sadismo, escancara as suas traseiras, exibindo as respectivas misérias aos passageiros que, isolados do exterior e na tranquilizadora insonorização das carruagens, pendulam no Alfa que demora ainda e sempre quase as mesmas três fatídicas horas a ligar Lisboa ao Porto.

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O Portugal que assim se mostra é um país parido pelas mentalidades, esquemas e interesses corruptos onde até as melhores intenções de Salazares, Soares, Sá Carneiros, Cavacos, Guterres, Durões, Santanas e Sócrates sucumbiram Governo após Governo. E é, também, uma afirmação inequívoca de atraso, pequenez e falta de visão colectiva.

Não espanta, pois, que pela ampla janela entrem sobretudo ruínas de fábricas, campos abandonados, lixo (muito lixo), casas pobres (algumas delas até nos poderiam servir uma merenda se por acaso o comboio resolvesse aí parar, tal a tangencial margem que as separa da linha…), algum gado, carruagens que definham no meio do mato e, claro, esse verdadeiro símbolo de Portugal que são os canaviais. Se alguém tomasse a parte pelo todo facilmente pensaria estar na região de Chernobyl. E na verdade embora a causa deste torpor e devastação social e económica que nos envergonha como país não seja a energia nuclear, as suas raízes estão bem presas ao núcleo do coração político que continuamente bombeia para os vários órgãos litros de legislação estéril ou previamente esterilizada. Legislação à prova de qualquer eficácia e responsabilização, entenda-se.

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Passaram quase duas horas e meia e Lisboa já se adivinha ao longe, com o comboio “da verdade” a circular ora a 200 kmh, ora a 80 kmh, fruto das condições (ou da falta delas) da linha. Desengane-se, porém, quem ingenuamente pense que a aproximação a Lisboa traz melhorias neste cenário Dantesco. Antes pelo contrário: aumenta o lixo, aumenta o betão, o caos urbanístico explode no campo de visão e só a Estação do Oriente mostra algum sinal de modernidade. Mas talvez seja mesmo só um sinal porque na verdade o país real, do cimento e dos interesses, rapidamente se encarregou de resgatar a promessa duma nova cidade na Expo, afundando-a na mediocridade contemporânea do excesso de construção e da densidade absurda. Neste Portugal de sempre, aliás, a comunicação janela a janela ameaça superar a velocidade de qualquer SMS ou comunicação por banda larga, tal a proximidade entre vizinhos e vizinhanças.

No final desta ida ao Porto fica uma certeza: entre o CCB e a Casa da Música há todo um país a quem têm andado a dar demasiada música… de baile. E fica também uma questão: não seremos todos cúmplices e coniventes com a desarmonia deste Portugal dos pequeninos?

Downbeat Março 2008

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27 de fevereiro de 2008

Dexter Gordon: relembrar Dale Turner

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Se o saxofonista Dexter Gordon fosse vivo completaria hoje 84 anos, ele que partiu há 18 anos, em 1990.

Para celebrar este aniversário aqui ficam alguns vídeos daquele que foi um dos grandes saxofonistas-tenores do Jazz e que no filme Round Midnight, de Bertrand Tavernier, tão bem encarnou o papel de Dale Turner.

O seu estilo, sonoridade e respiração são inconfundíveis no saxofone e eram, afinal, uma extensão da sua própria personalidade. Basta ouvir alguns dos seguintes temas (sobretudo as baladas, onde poucos o igualavam) para perceber a grandeza lírica e musical desta autêntica personagem do jazz, músico que por várias vezes actuou entre nós, tendo passado pela Queima das Fitas (Coimbra), Hot Clube, Cascais Jazz e Aula Magna.


"Skylark"



"Cheesecake"



"Tanya"



E, já agora, um excerto do filme Round Midnight (porventura o melhor filme sobre jazz jamais realizado).



E, para terminar, um pequeno documentário que permite ver como Dale Turner e Dexter Gordon são difíceis de distinguir...





Mais um exemplo de publicidade harmoniosa...



... mesmo se é verdade que os detergentes não contribuem em nada para a saúde dos ecossistemas marinhos...

Joe Pass em DVD

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Acaba de sair mais um volume da colecção Jazz em DVD.

Totalmente dedicado a Joe Pass, considerado o Art Tatum da guitarra, este DVD apresenta o guitarrista em três concertos realizados no Festival de Jazz de Montreux, dois em 1975 e um em 1977.

Joe Pass ganhou visibilidade junto do grande público através dos discos que gravou em duo com Ella Fitzgerald, mas era a solo absoluto que de facto o seu virtuosismo mais se afirmava, tendo produzido neste contexto vários registos notáveis para a editora Pablo, fruto do instinto apurado de Norman Granz.

O primeiro deles foi Virtuoso, editado em 1973, e foi na sequência deste disco que Pass saiu da obscuridade em que vivia, passando os próximos 20 anos a actuar nos principais festivais e palcos internacionais do jazz.

O presente DVD permite, pois, visualizar Pass logo no início desta sua faceta de solista absoluto, proporcionando som e imagem de qualidade. Estamos aqui perante o estado da arte na guitarra jazz já que poucos guitarristas ombreiam com Pass, sobretudo a solo. Na verdade, seria preciso esperar quase uma década para que surgisse (e se afirmasse) um talento como Stanley Jordan, ainda que tecnicamente os estilos de ambos sejam muito díspares.

Entre os vários temas que Pass interpretou nestes três concertos em Montreux alguns merecem destaque, seja pela interpretação, seja pela técnica. Estão entre esses "Manhã de Carnaval", o clássico "Nuages", "Joe's Blues" e "Blues for Nina" (impressionantes pelo virtuosismo demonstrado por Pass), "I'm glad there's you" (uma balada especial e especialmente bem interpretada), "L'il Darlin'" ou "How long has this been going on" (canção imortalizada por Sarah Vaughan e Oscar Peterson em disco homónimo editado em 1978).

"Nuages" (Montreux, 1975)



Este DVD encontra-se disponível por apenas € 9,99 (mais portes de envio) exclusivamente através do nº de telefone 219 265 510 ou, eventualmente, num quiosque perto de si.

25 de fevereiro de 2008

SF Jazz Collective na Casa da Música

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SF Jazz Colective. Estoril Jazz (2007). Foto de Luís Aguiar.

O grupo SF Jazz Collective, um dos projectos mais interessantes a emergir nos últimos anos na área do Jazz contemporâneo, actua amanhã, dia 26, na Casa da Música quando os relógios baterem as 22h00.

O SFJAZZ Collective é um ensemble de estrelas maiores no firmamento do Jazz, composto por oito dos mais prestigiados músicos e compositores da actualidade, e tem por missão interpretar projectos próprios e novos arranjos dos grandes compositores do Jazz moderno, estando este ano focado em Wayne Shorter, um dos mais importantes compositores do jazz moderno.

Presentemente, este ensemble integra Joe Lovano (saxofones), Dave Douglas (trompete), Stefon Harris (vibrafone, marimba), Miguel Zenón (saxofone alto, flauta), Robin Eubanks (trombone), Renee Rosnes (piano), Matt Penman (contrabaixo) e Eric Harland (bateria).

SFJAZZ Collective (2007): "Alcatraz"



Criado em 2004 pela SFJAZZ – a maior organização não lucrativa na área do Jazz na costa Oeste dos EUA e responsável pela organização do San Francisco Jazz Festival – este colectivo nasceu sob a égide do saxofonista Joshua Redman, então director artístico deste evento.

A invulgaridade do projecto e a qualidade dos jazzmen a ele associados desde logo captou a atenção e os aplausos da crítica especializada, pelo que rapidamente se tornou uma referência, sendo elogiado pela forma inovadora como trata o respectivo repertório, o qual muda todos os anos, mantendo-se apenas a estrutura. Com efeito, o SF JAZZ Collective apresenta anualmente um conjunto de temas compostos por uma referência no jazz moderno (tendo já visitado as obras de Ornette Coleman, John Coltrane e Herbie Hancock), mas com novos arranjos da autoria do conceituado Gil Goldstein, e ainda uma composição da autoria de cada um dos seus oito membros actuais, o que assegura simultaneamente a renovação da tradição e a busca de novos caminhos síncronos com a actualidade.

Nas composições da digressão de 2008 incluem-se temas de Stefon Harris (“Road to Dharma”), Dave Douglas (“Secrets of the Code”), Joe Lovano (“This, That and the Other”) e Eric Harland (“The Year 2008”). Quanto ao repertório de Shorter, o octeto propõe-se intepretar: “Footprints”, “Infant Eyes”, “Diana” e “Aung San Suu Kyi".

Constituído por músicos de referência e com o seu estilo próprio, o SFJAZZ Collective consegue ainda assim manter o seu som distinto mediante o cultivo de uma estratégia que tem dado bons resultados: todas as Primaveras o octeto reúne-se em São Francisco para um período de ensaios de três semanas (caso raro nos dias que correm, mas essencial para dar verdadeiro significado à expressão Collective), aproveitando ainda para realizar workshops. É a partir daqui que o ensemble inicia subsequentemente a sua digressão pelos mais importantes palcos internacionais, a qual termina com a gravação de um novo CD que assim preserva o produto musical de cada nova temporada.

24 de fevereiro de 2008

Miles Davis

Propomos hoje um documentário sobre Miles Davis, recentemente adicionado ao Youtube: Noir sur Blanc.

Trata-se de um documentário francês realizado em 1986 (na fase do disco Tutu) por Jerome Habans.

Parte I




Parte II




Parte III


Sonny Rollins aborta novo disco

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Sonny Rollins anunciou recentemente que o disco com a gravação do concerto com que celebrou o 50.º aniversário da sua estreia no Carnegie Hall, realizado nesta sala no passado dia 18 de Setembro, não chegará às lojas, ao contrário do que estava previsto.

A razão é simples e é explicada pelo saxofonista no seu próprio site:

Message from Sonny:

We had intended to release the 50th anniversary Carnegie Hall concert, but I was disappointed with my performance.

23 de fevereiro de 2008

Teo Macero: 1925-2008

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Teo Macero, um dos grandes produtores discográficos da história do jazz moderno, faleceu no passado dia 19 na sua casa, no Estado de Nova Iorque, aos 82 anos, vítima de doença prolongada.

Macero foi contratado pela editora Columbia em 1957, tendo produzido vários discos de Miles Davis (nomeadamente Kind of Blue, Sketeches of Spain, Bitches Brew e In a Silent Way) e de vários ícones do jazz, tais como Dave Brubeck (incluindo o histórico Time Out), Charles Mingus, Gerry Mulligan, Mose Allison, Duke Ellington, Thelonious Monk, Carmen McRae, Stan Getz, Woody Herman, Charlie Byrd e Tony Bennet. Foi aliás Macero o responsável pela contratação de Mingus, Monk e Byrd pela Columbia.

Ele próprio um músico (saxofonista), tendo estudado na Juilliard School of Music, foi co-fundador em 1953 do Charles Mingus’ Jazz Composers Workshop, formação com a qual veio a gravar os discos Jazzical Moods (1954) e Jazz Composers Workshop (1955).

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A ligação de Macero à Columbia terminou em 1975, ano em que fundou a sua própria produtora, tendo continuado a trabalhar através desta com Miles Davis.

Teo Macero relembra o seu trabalho com Miles Davis



Macero foi ainda compositor e arranjador .

22 de fevereiro de 2008

Hancock no top 5 da Billboard

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O CD River: The Joni Letters, de Herbie Hancock, "trepou" literalmente até ao 5.º lugar da Billborad após ter conquistado o Grammy para melhor album do ano e registado um aumento de 967% nas vendas...

Hoje, Hancock é convidado de Jay Leno no programa televisivo The Tonight Show, onde actua com a cantora Luciana Souza.

21 de fevereiro de 2008

Cincotti em DVD na FNAC de Cascais

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No âmbito das Noites de Jazz realizadas na FNAC de Cascais sob nossa orientação é exibido amanhã, dia 22 de Fevereiro, a partir das 21h30, o DVD Peter Cincotti: Live in New York.

Peter Cincotti é um caso sério de talento precoce, tendo começado a tocar piano aos 3 anos e gravado o seu primeiro disco com apenas 19 anos de idade, surpreendendo de certa forma o universo do Jazz vocal masculino. Cincotti tem, porém, vindo a derivar mais recentemente para a música pop, tal como, aliás, já se antevia na sua actuação de há escassos anos no Estoril Jazz.

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O palco deste concerto só podiam ser as ruas da sua Nova Iorque, onde Cincotti nasceu em 1983, contribuindo para um espectáculo muito informal e invulgar, enriquecido ainda com uma secção de cordas e sopros.

É neste ambiente que o cantor e pianista interepreta algumas das suas canções originais (tais como "He's watching" e "On the Moon") e também standards do jazz e do cancioneiro popular norte-americano, com destaque para o clássico "Saint Louis Blues" e o extraordinário "Sway".

20 de fevereiro de 2008

Miss Otis regrets

Falando ontem com o Dr. Barros Veloso, bem conhecido pianista histórico do Jazz em Portugal, veio à baila o tema "Miss Otis regrets", um original de Cole Porter que ambos apreciamos.

Aproveitando esta ocorrência, aqui ficam algumas linhas sobre este standard composto em 1934 e que embora tenha sido estreado por Douglas Byng no musical Hi Diddle Diddle, foi originalmente escrito para Ada "Bricktop" Smith, cantora e bailarina norte-americana que entre os anos 20 e 60 se radicou em Paris, aí dirigindo o bem conhecido clube Chez Bricktop. Desde então, a canção tem sido interpretada e gravada por vários cantores e instrumentistas, nomeadamente Nat King Cole e Ella Fitzgerald.

Mas afinal o que é que a Miss Otis lamenta? Bem, de uma forma simples, lamenta apenas não poder almoçar. E porquê? Digamos que esta é a história da última noite duma mulher, a tal Miss Otis, contada pelo seu criado. É a história duma mulher que foi seduzida e abandonada por um homem e de como ela matou esse homem, foi presa e depois tirada da prisão pela máfia e enforcada. Daí a tal Miss Otis, fazer saber pelo seu criado que "lamenta não poder comparecer ao almoço de hoje".

Aqui fica a letra e algumas versões deste standard.

Miss Otis regrets, she's unable to lunch today, madam,
Miss Otis regrets, she's unable to lunch today.
She is sorry to be delayed,
but last evening down in Lover's Lane she strayed, madam,
Miss Otis regrets, she's unable to lunch today.

When she woke up and found that her dream of love was gone, madam,
She ran to the man who had led her so far astray,
And from under her velvet gown,
She drew a gun and shot her love down, madam,
Miss Otis regrets, she's unable to lunch today.

When the mob came and got her and dragged her from the jail, madam,
They strung her upon the old willow across the way,
And the moment before she died,
She lifted up her lovely head and cried, madam......
Miss Otis regrets, she's unable to lunch today.

Miss Otis regrets, she's unable to lunch today


Carmen McRae: North Sea Jazz Festival (1980)



Nikki (com apenas 13 anos): Montreal Jazz Festival (2007)



Ella Fitzgerald

19 de fevereiro de 2008

50 reasons to love Paris

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A editora Universal acaba de lançar no mercado português o disco 50 reasons to love Paris, uma colectânea que reúne em 3 discos nada menos do que 50 temas relacionados com aquela que foi e é a capital europeia do Jazz.

Esta é uma viagem ao longo de 25 anos de Jazz sobre Paris, um périplo que começa em 1938 (com a gravação de "Swing from Paris" pelo Quinteto do Hot Club de França) e termina em 1963 (com "Sur les ponts de Paris", interpretado por Pierre Michelot e a sua orquestra). Uma viagem que tem como protagonistas, entre muitos outros, Miles Davis, Quincy Jones, Sacha Distel, Max Roach e o seu quinteto, Django Reinhardt e Stéphane Grappelli, Michel Legrand, Donald Byrd, Lionel Hampton, Bill Coleman, Mary Lou Williams, Howard McGhee, Joe Newman, Pierre Michelot, Barney Wilen e Sammy Price.

Entre os muitos standards presentes contam-se os incontornáveis "I Love Paris" (que Cole Porter compôs para o musical Can-Can, fruto da sua vivência nesta cidade), "April in Paris" (Vernon Duke), "Parisian Thoroughfare" (Bud Powell, que viveu e trabalhou em Paris), "Swing from Paris" (Django Reinhardt/Stéphane Grappelli), "Sous les ponts de Paris" (Jean Rodor/Vincent Scotto), "Florence sur les Champs-Élysées" (Miles Davis, que aqui gravou a banda sonora do file Ascensor para o Cadafalso) e "The Last Time I Saw Paris" (Oscar Hammerstein/Jerome Kern).

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Este é, naturalmente, um registo muito diversificado, já que o elemento de união entre os 50 temas apresentados é fundamentalmente a cidade de Paris e não a unidade de estilo dos diversos músicos envolvidos, que oscila entre a tradição e o modernismo. Longe de ser um ponto fraco, tal facto resulta numa diversidade que é bem-vinda e interessante. Por outro lado, o universo temporal aqui em exposição, 25 anos, introduz também óbvias diferenças na forma de interpretar os temas.

Dito isto, é natural que este projecto tenha pontos de maior interesse. Esses são para nós o tema de abertura, "Parisian thoroughfare" (gravado em 1960 pela Orquestra de Quincy Jones, o mesmo ano em que actuou em Lisboa), e as interpretações pelo Quinteto de Max Roach ("Parisian Sketches"), particularmente o solo de trombone de Julian Priester, Quinteto do Hot Club de França ("Swing from Paris"), Michel Legrand trio ("Sous le ciel de Paris" e "I love Paris"), Pierre Michelot & son Orchestre ("Sous les ponts de Paris"), Barney Wilen ("Swingin' Parisian Rhythm" e "Ménilmontant"), Donald Byrd ("Parisian thoroughfare"), Lionel Hampton & his orchestra ("Flying at the Olympia"), Bill Coleman ("Jumpin' at Pleyel"), Blossom Dearie ("April in Paris"), Mary Lou Williams ("I made you love Paris"), Howard McGhee ("Étoile"), Django Reinhardt et son orchestre ("Nuits de Saint-Germain-des-Prés"), Joe Newman ("Blues on the Cahmps-Élysées"), Memphis Slim & Willie Dixon ("Pigalle Love"), Miles Davis ("Florence sur les Champs-Élysées"), Sammy Price e Lucky Thompson ("Paris Blues" e "Embassy Boogie"), Eddie Barclay & son orchestre ("Place Blanche") e René Urtreger trio ("Parisian thoroughfare").

São ainda dignas de nota as excelentes fotografias que acompanham este disco, as quais mostram alguns jazzmen e bluesmen em Paris: Max Roach (foto 1), Django Reinhardt (foto 2), Memphis Slim e Michel Legrand.


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18 de fevereiro de 2008

Diane Schuur: Jazz em DVD

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Acaba de sair mais um volume da colecção Jazz em DVD.

Em 1987, três anos depois da partida de Count Basie, a cantora Diane Schuur gravou um disco de estúdio com a orquestra "fantasma" deste ícone do Jazz, agora dirigida pelo saxofonista Frank Foster.

É precisamente essa gravação que este DVD regista, sendo de salientar a presença do guitarrista histórico da orquestra de Basie - Freddie Green - músico que faleceria apenas três dias depois desta actuação.

Ao longo da sua longa carreira a orquestra de Count Basie acompanhou vários cantores, nomeadamente Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Frank Sintara, não sendo portanto de estranhar a associação a Schuur, cantora que obteve com esta parceria um dos momentos mais importantes e significativos da sua carreira. De facto, este disco com a orquestra de Basie permaneceu nada menos do que 33 semanas consecutivas nas tabelas de jazz da Billboard...

Nascida em 1953, Schuur ficou cega no parto devido a um acidente hospitalar. Começou a cantar ainda em criança, vindo a tornar-se conhecida quando interpretou "Amazing Grace" no Festival de Jazz de Monterey, em 1979, chamando a atenção de Stan Getz, que a levaria para a ribalta da televisão. Em 2008, a cantora lança um novo CD, intitulado Some other time.

Neste DVD o repertório inclui temas como "Deedles' Blues", "Climbing Higher Mountains", "Travlin' Blues" e "Everyday I Have The Blues", sem esquecer os belos e clássicos instrumentais "Splanky" e "Jumpin' at the woodside". É, porventura, em "You can have it" que Schuur atinge o seu melhor, tema em que faz uso do seu scat singing em diálogo com o saxofone-tenor de Frank Foster.



Este DVD encontra-se disponível por apenas € 9,99 (mais portes de envio) exclusivamente através do nº de telefone 219 265 510 ou, eventualmente, num quiosque perto de si.

17 de fevereiro de 2008

Lady be good: história desconhecida

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Para os amantes do Jazz, "Lady be good" é título de uma canção composta por George e Ira Gershwin para um musical da Broadway dos anos 20 e popularizada mais tarde por Ella Fitzgerald. Mas, para os historiadores da II Guerra Mundial este nome evoca uma tragédia ocorrida a 4 de Abril de 1943, quando um avião bombardeiro dos EUA, um B-24D Liberator(idêntico ao da foto acima), baptizado Lady be good, se despenhou no deserto da Líbia, dando início a um longo processo de busca que só daria resultados 16 anos mais tarde.

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O Lady be good descolou a 4 de Abril de uma base norte-americana na Líbia, tendo por missão participar num bombardeamento à cidade de Nápoles. A bordo ia uma tripulação de 9 membros na sua primeira missão de combate.

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Porém, os fortes ventos do deserto e uma visibilidade débil (presumivelmente aliados à inexperiência da tripulação) afastaram o Lady be good da formação de 25 bombardeiros destinados a Itália. Cinco horas depois da descolagem (como atesta o diário de bordo encontrado mais tarde) o avião abandonava a missão e regressava à base, despejando as suas bombas no mar mediterrâneo para reduzir o peso e assim economizar combustível.

A viagem de regresso estava, todavia, longe de ser rotineira e o facto de se realizar já de noite viria a decidir o rumo do avião. Um erro no dispositivo electrónico que permitia ao navegador encontrar automaticamente a direcção levou a que o bombardeiro voasse por cima da base, ignorando os foguetes de sinalização, e se embrenhasse no deserto por o navegador julgar erradamente estar ainda a sobrevoar o mar.

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O Lady be good não voltou a ser visto e apesar das buscas realizadas para encontrar os seus destroços foram precisos 16 anos até que estes fossem acidentalmente encontrados a 27 de Fevereiro de 1959 quando um prospector britânico de petróleo os avistou a 440 milhas de Soluch.

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A 26 de Maio organizou-se a primeira expedição ao Lady be good e para espanto dos seus membros apesar do avião estar partido ao meio encontrava-se ainda assim em bom estado de conservação. Com efeito, as suas metralhadoras e rádio permaneciam operacionais e existiam até algumas rações de comida e água.

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Estes achados e a inexistência de paraquedas nas proximidades levaram os investigadores a concluir que os tripulantes tinham saltado antes do avião se despenhar. Estas suposições vieram a confirmar-se quando em 1960 outro prospector de petróleo encontrou os corpos de oito dos nove tripulantes.

Algumas peças e objectos recuperados do Lady be good podem ser vistos actualmente no The U.S. Army Quartermaster Museum, em Fort Lee, na Virginia.

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16 de fevereiro de 2008

Maria João & Mário Laginha hoje na Estação do Rossio

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Estação do Rossio (anos 40).

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Maria João & Mário Laginha actuam hoje na inauguração do túnel do Rossio. O concerto decorre às 18h00 na Estação do Rossio e a entrada é livre.

15 de fevereiro de 2008

Alfragide: Jazz em exposição

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No Centro de Arte Contemporânea da Amadora, localizado em Alfragide, na Quinta Grande, está patente até 4 de Março a exposição "Entre e o rufo e o amor", uma mostra de quadros em torno do Jazz, da autoria de José Raimundo.

Destaque para a (omni)presença de Keith Jarrett e dos músicos do seu trio nas telas de Raimundo, o que denota, claramente, um especial apreço por este combo.

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Foto de Carlos Oliveira

José Raimundo nasceu em Lisboa em 1947, radicando-se na Amadora no início da década de 60.

Durante a juventude fez aprendizagem de pintura em Lisboa, nas Oficinas de São José, com mestres pintores. Sequiu-se o curso Industrial e a carreira de desenhador técnico, que exerceu até 1997, dedicando-se desde então exclusivamente às artes.

Expõe regularmente desde 1986, estando representado em várias colecções públicas e particulares.

CENTRO DE ARTE CONTEMPORÂNEA DA AMADORA
Rua Beatriz Costa, n.º 18
Telef: 21 471 65 77
Horário: 10h00 às 12h30; 14h00 às 18h00.

Filipe Melo e Bruno Santos em Cascais

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Filipe Melo (piano) e Bruno Santos (guitarra) actuam este sábado, às 21h30, no centro cultural de Cascais, num concerto inserido no festival Portugal Jazz.

14 de fevereiro de 2008

S. Valentim não é alérgico ao jazz...

Atento ao Dia dos Namorados que hoje se celebra JNPDI! conseguiu persuadir algumas grandes vozes do jazz (e afins) a virem aqui interpretar algumas das grandes Love Songs de sempre.

A escolha é vasta e algumas das interpretações são simplesmente tocantes (vejam-se Sarah Vaughan em "Misty" e Jamie Cullum em "But for now"), extraordinárias (Dianne Reeves em "Love for sale" e Rachelle Ferrell em "Welcome to my love") e surpreendentes (Tony Bennett e Michael Bublé).

FRANK SINATRA: "I've got you under my skin"



PEGGY LEE: "Fever"



SARAH VAUGHAN: "Misty" (1969)



JAMIE CULLUM: "But for now" (2004)



CARMEN MCRAE: "I'm Glad There is You" (1979)



ELLA FITZGERALD: "Ev'ry Time We Say Goodby" (1974)



TONY BENNETT & MICHAEL BUBLE: "Just in Time" (2006)



BILLIE HOLIDAY: "My Man" (195?)



MICHAEL BUBLE & LAURA PAUSINI: "You'll Never Find" (2005)



DEE DEE BRIDGEWATER: "Ne me quittes pas" (2005)



DIANNE REEVES: "Love for sale"



DINAH WASHINGTON: "Mad about the boy"



JAMIE CULLUM: "God Only Knows" (2004)



SHIRLEY HORN: "A Time For Love"



NINA SIMONE: "I Loves you Porgy" (198?)



RACHELLE FERRELL: "Welcome to my love" (2001)



DIANA KRALL: "A case of you"

13 de fevereiro de 2008

Tomasz Stanko na Culturgest

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É já na próxima quarta-feira, dia 20 de Fevereiro, às 21h30, que o Grande Auditório da Culturgest recebe o quarteto de Tomasz Stanko, trompetista polaco que vem apresentar Lontano, o seu mais recente CD, editado em 2005.

Tomasz Stanko tinha 20 anos e uma licenciatura na Academia de Música de Cracóvia quando formou a sua primeira banda, os Jazz Darings, com o pianista Adam Makowicz, em 1962. Inspirado por Ornette Coleman e pelas inovações de Coltrane, Miles Davis e George Russell, o grupo é muitas vezes citado por historiadores de música como a primeira banda europeia a tocar free jazz.

Para o trompetista a sua importância foi eclipsada pelo convite que teve para se juntar, em 1963, ao quinteto do pianista Krzystof Komeda (1931/1969), o grande precursor do jazz polaco. Stanko admitiu que muito da sua subsequente orientação musical e o seu próprio estilo como compositor foram influenciados por Komeda. “O lirismo, a sensibilidade para tocar apenas o essencial, a abordagem da estrutura, da assimetria, muitos pormenores harmónicos… tive muita sorte em começar com ele”. Durante cinco anos Stanko andou em digressão com Komeda, participou em onze álbuns dele e em todas as bandas sonoras que o pianista compôs na Polónia.

Em 1970, após a morte de Komeda, Stanko juntou-se à Globe Unity Orchestra de Alexander von Schlippenbach, o que lhe permitiu contactar com figuras-chave do jazz europeu de vanguarda, e formou também um quinteto com o violinista Zbiegniew Seifert. No ano seguinte colaborou com Krzysztof Penderecki e Don Cherry. Mas o seu trabalho mais importante da década de 70 talvez tenha sido com o baterista finlandês Edward Vesala. A sua série de álbuns em quarteto, dos quais Balladynai (1975, ECM) foi o primeiro, apontou para novas direcções da balada free, ornamentada com um trompete cheio de alma e granuloso. Stanko também deu uma importante contribuição no álbum de Vesala Together, que reunia improvisadores Nórdicos/Bálticos.

Durante os anos de 1980 Tomasz Stanko explorou várias aproximações à improvisação. Viajou com Vesala à Índia e gravou solos de trompete no Taj Mahal; ainda com Vesala, juntou-se a Chico Freeman e Howard Johnson em Nova Iorque. Trabalhou muito com Cecil Taylor em grandes ensembles e liderou alguns grupos seus como COCX, que desenvolvia ritmos rock e electrónica livre e uma exploração, avançada para o seu tempo, de opções electro-acústicas, e Bluishi, um trio com Arild Andersen e Jon Christensen que precedeu o seu regresso à editora ECM.

Desde que reassumiu a sua colaboração com a ECM, com Matka Joanna, em 1994, Stanko consegui novos públicos para o seu trabalho. Duas gravações com o seu quarteto internacional com Bobo Stenson, Anders Jormin e Tony Oxley, foram seguidas por um tributo, com muito sucesso, a Krzystof Komeda, em 1997. O seu projecto Litania (ECM, 1997) tornou-se numa presença constante no circuito dos festivais.

"Sleep Safe and Warm" (Litania-Music of Krzystof Komeda: 1997)



Em 1998 o produtor Manfred Eicher (o “patrão” da ECM) juntou um grupo de músicos de várias nacionalidades em torno de Stanko na gravação de The Green Hill, em que participaram Dino Saluzzi, John Surman, Michelle Makarski, Anders Jormin e Jon Christensen. The Green Hill recebeu da crítica alemã o Deutscher Schallplattenpreis como álbum do ano de 2000.

Para além da actividade referida, Tomasz Stanko foi sempre mantendo um quarteto polaco que se foi tornando uma prioridade para ele. O pianista Marcin Wasilewski, o contrabaixista Slawomir Kurkiewicz e o baterista Michal Miskiewicz já tocavam juntos como um (muito) jovem trio quando Stanko os ouviu no início dos anos 90 e em 1994 começaram a tocar em conjunto, inicialmente em concertos, alguns dos quais foram gravados para a editora polaca Govi. Rapidamente se tornou na sua banda favorita para todos os concertos na Polónia e na execução de bandas sonoras para filmes. Pianista, contrabaixista e baterista também construíram a sua reputação como trio, com o nome Simple Acoustic Trio. Soul of Things (2002) foi a primeira gravação do quarteto.

"Little Thing Jesus" (Soul of things: 2002)



Soul of Things é Stanko, é o som do seu trompete intenso, escuro, imediatamente identificável. O disco é um conjunto de baladas, cheias de um lirismo eslavo, designadas apenas por Variações 1-13. A música alude, de passagem, a temas que Stanko escreveu para filmes, e outras peças suas, como Maldoror’s War Song são também citadas. Mas como Stanko diz, “Tenho tocado a mesma canção toda a minha vida”. Os títulos, por outras palavras, acontecem depois do facto; o que interessa é a profundidade emocional, uma constante nas diferentes fases e formas que a música de Stanko tem tomado ao longo dos anos. Há uma sensibilidade “fora do tempo” em Soul of Things que remete para as raízes de Stanko enquanto músico. Foi em 2002 que Tomasz Stanko recebeu o European Jazz Price como artista do ano.

O disco teve um grande sucesso junto do público e da crítica e o grupo fez numerosas digressões em ambos os lados do Atlântico. O álbum seguinte, Suspended Night (2004), baseia-se na moldura conceptual do seu antecessor – salvo o primeiro tema, todos os outros se chamam “Suspended Variations” de I a VII – mas a parte improvisada expande-se na medida em que todos os participantes têm mais espaço para os seus solos e mais oportunidades.

Em 2004 o quarteto passou grande parte do ano na estrada, com digressões pela Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suíça, Espanha. Estados Unidos, Itália, Polónia. Nesse ano Stanko foi condecorado com a Ordem da “Polonia Restituta” a segunda mais importante condecoração civil do seu país. E programou dois festivais internacionais de jazz na Polónia que foram um enorme sucesso.

Em 2005 o quarteto fez nova digressão pelos Estados Unidos, com início em Nova Iorque e no lendário clube Birdland, sempre com casas esgotadas. Nesse ano gravaram o seu terceiro álbum, Lontano, que está na base do concerto desta noite, e que saiu em 2006.

Texto cedido pela Culturgest.

12 de fevereiro de 2008

Tríplice de prazer: Jazz e pintura aliados no restaurante do Montado

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Com apoio de JNPDI! o artista plástico Xico Fran (Francisco Fernandes) inaugura no restaurante do Montado, em Lisboa, no próximo dia 1 de Março, às 19h00, a exposição Tríplice de Prazer, mostra que tem por motivo o Jazz.

A exposição conta com a actuação do Trio da Corda, grupo formado por Maria Viana (voz), João Maló (guitarra) e Francisco Henriques (contrabaixo), e tem por cenário um restaurante inserido num edifício pombalino, um espaço na zona de Santos que resultou da trasnformação da antiga cisterna do Convento das Bernardas.

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As reservas para jantar podem ser feitas pelo telefone 213 909 185 ou 93 355 12 98.


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Xico Fran, nasceu em Luanda, em 1969. Finalizou o curso de Design no IADE em 1992, tendo frequentado ainda o curso de Design de interiores na Escola Superior de Artes Decorativas (ESAD), curso esse que terminou em 1996. Durante este período, iniciou a sua participação em várias exposições e concursos de pintura.

Em 2002 quis a sorte do destino que Xico Fran se cruzasse com António Inverno. O Mestre com a sua humildade e sabedoria, passou para o Xico Fran as mais importantes técnicas e conhecimentos, as quais até hoje não deixa de empregar nas suas obras, nomeadamente o Equilíbrio das telas e os magníficos pontos de Luz. O Mestre não só foi importante para Xico Fran com os seus ensinamentos, como fez questão de dar um verdadeiro empurrão ao artista com a participação de varias exposições colectivas de ambos demonstrando ter em Xico Fran a convicção de ser uma verdadeira aposta futura no mundo das artes.

Xico Fran coloca na ponta dos seus dedos toda a sua paixão pelas coisas mais simples do nosso quotidiano, criando verdadeiras obras primas que puxão do mais puro do nosso subconsciente, uma intensa curiosidade que culmina, sempre, com um incontrolável sorriso.

Com um futuro promissor e um passado inolvidável, Xico Fran tem já obras pertencentes ao espólio de diversos amantes puros de Arte, sendo de louvar que, com base no continuado e sistemático trabalho que tem vindo a desenvolver se tenha imposto como uma forte e consolidada presença no mundo artístico.

11 de fevereiro de 2008

Herbie Hancock em grande nos Grammys

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Herbie Hancock foi o grande, e inesperado, vencedor da 50ª edição dos Grammys, que ontem se realizou em Los Angeles, no Staples Center, ao conquistar o Grammy para o Melhor Album do ano (o mais emblemático dos prémios em jogo), atribuído ao CD River: The Joni Letters, e o Grammy para Best Contemporary Jazz Album. Com estas vitórias Hancock passa a deter nada menos do que 11 Grammys no seu curriculum...

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A atribuição a Hancock do Grammy para melhor album do ano foi a surpresa da noite já que o pianista se encontrava em competição directa com os favoritos (e ultra mediáticos e populares) Amy Winehouse e Kanye West. Disso mesmo deu nota Quincy Jones, o apresentador deste prémio, que ao ler o nome do vencedor não conseguiu esconder a sua estupefacção: "Aaaahhh! Inacreditável. Isto é inacreditável, pá". Chamado ao palco, Hancock inspirou-se no slogan eleitoral de Obama para afirmar a importância desta distinção do jazz na tradicional noite da pop: "Yes we can". Hancock agradeceu depois à Academia por "ter corajosamente quebrado a tradição".

Na área do Jazz os prémios foram para Patti Austin e o seu CD Avant Gershwin! (vencedora da categoria Best Jazz Vocal Album), Michael Brecker (Best Jazz Instrumental Solo, atribuído ao solo no tema "Anagram" do CD Pilgrimage, e Best Jazz Instrumental Album), Terence Blanchard (Best Large Jazz Ensemble Album, atribuído ao CD A Tale of God's Will), Paquito D'Rivera (Best Latin Jazz Album, atribuído ao CD Funk Tango) e Maria Schneider (Best Instrumental Composition, atribuída a "Cerulean Skies", do disco Sky Blue.

Na sessão de entrega dos Grammy foram exibidos filmes em homenagem a Max Roach e Itzhak Perlman e os pianistas Lang Lang e Herbie Hancock uniram os respectivos talentos na interpretação de um clássico de George Gershwin, o célebre "Rhapsody In Blue", contando com o acompanhamento de uma grande orquestra.

10 de fevereiro de 2008

Ford Focus: publicidade harmoniosa

Ainda que nada tenha a ver com Jazz, o anúncio televisivo ao novo Ford Focus merece ser visionado não só pela criatividade, mas também porque prova como se pode fazer publicidade a um automóvel sem explorar a agressividade e a pura performance, elementos que tantas vezes são a norma deste sector.

9 de fevereiro de 2008

Enrico Rava: "O Jazz não é um género, o Jazz é uma linguagem"

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Enrico Rava. Foto cortesia do CCB.

Enrico Rava, tromeptista italiano (nascido em Trieste, em 1939) que grava para a ECM, toca no próximo dia 16 com o seu quinteto no Centro Cultural de Belém, composto por Gianluca Petrella (trombone), Andrea Pozza (piano), Rosario Bonaccorso (contrabaixo) e o português João Lobo (bateria).

JNPDI! publica hoje a entrevista que Rava concedeu a Maria Ana Freitas para o programa do CCB, desde já agradecendo a esta instituição pela autorização para reproduzirmos este interessante diálogo.

No concerto de 16 de Fevereiro, no CCB, apresentará o seu mais recente disco The Words and the Days. Pode falar-nos um pouco sobre este trabalho?

É um disco que fiz com o meu quinteto habitual, que é uma espécie de all stars da música italiana. São quase todas faixas novas, escritas para este disco, mais uma composição de Russ Freeman e outra de Don Cherry, e ainda uma faixa minha que já tinha gravado há vinte anos. No entanto, o concerto não será apenas sobre este disco, incluirá faixas de discos anteriores e talvez também faixas novas que ainda não gravei.

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A faixa de Russ Freeman que referiu, "The Wind", foi Chet Baker que a tornou famosa?

Exactamente.

É como uma homenagem? Em tudo o que fui lendo sobre o seu trabalho, surgem sempre referências a Chet Baker e Miles Davis como influências fundamentais.

Sim, é verdade. E, querendo, pode-se ver este "The Wind" como uma homenagem, certamente.

É impossível falar consigo e não regressar um pouco aos anos sessenta e setenta, ao período em que viveu em Nova lorque, quando o seu trabalho se aproximava mais do free jazz... Pode falar-nos um pouco desse período?

Eu cheguei a Nova lorque em 1967, num período verdadeiramente extraordinário porque ainda estavam no activo os grandes mestres do passado, por exemplo Duke Ellington, Louis Armstrong, Coleman Hawkins, enfim, momentos de grande brilhantismo, Miles Davis, Gillespie... Havia, na altura, novos músicos que se identificavam mais ou menos comigo: Ornette Coleman, Archie Shepp, CeciI Taylor, Carla Bley, todos eles tocavam em Nova lorque, tocavam em clubes, faziam pequenos concertos...

Foi um período que influenciou muito a sua carreira...

Claramente. Naquela altura, porque tinha ido para Nova lorque para tocar com o grupo de Steve Lacy, estava muito ligado à área do free jazz. Mas como sou um grande apaixonado pelo jazz, ia ouvir Duke Ellington ou o Miles. Vê-Ios assim a tocar, nos clubes, era uma coisa extraordinária! Havia uma actividade maravilhosa! Depois, infelizmente, em poucos anos os velhos começaram a desaparecer e o free jazz foi perdendo o seu dinamismo.

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Entretanto, durante a sua carreira teve sempre vontade de evoluir; de acompanhar o desenvolvimento do jazz, não parar…

Absolutamente. Comecei a tocar muito cedo: o trombone quando tinha dezasseis anos, com bandas dixieland, depois com o trompete comecei a tocar jazz moderno, toquei à la Miles, à la Chet, toquei bebop... Posteriormente, enveredei pelo free jazz e fui viver para Nova lorque... Mas, mais uma vez, senti que tinha chegado a hora de mudar, de voltar a utilizar a melodia, o tempo, etc., e afastei-me muito do free jazz, conservando no entanto um modo muito livre de viver a música, de a tocar. O free jazz foi muito importante para mim, no entanto é um género que não... Porque o jazz não é um género, o jazz é uma linguagem, dentro da qual há muitos géneros: o new orleans, o dixieland, o swing, o free jazz, o hard bop, o bebop... Não me interessa muito falar de géneros, interessa-me mais a linguagem, e dentro dessa linguagem pode-se tocar qualquer coisa, posso tocar uma canção italiana que dentro dessa linguagem se torna jazz.

Para além deste quinteto com o qual se apresentará em Lisboa, tem outro projecto, o Enrico Rava New Generation.

Sim.

Acompanhar a nova geração de músicos é também uma forma de acompanhar os novos caminhos do jazz?

Para mim, é-me indiferente se são jovens ou velhos. Quando me encontro com músicos que estão sintonizados na minha onda, não importa se são miúdos ou velhos... É óbvio que me dá muito prazer ajudar músicos muito jovens e cheios de talento, ajudá-los a entrar nos circuitos de trabalho, dar-lhes um pouco da minha experiência. Ao mesmo tempo, aprendo muito com eles, com o seu entusiasmo, e mantenho-me em contacto com o que está a acontecer hoje no jazz, com o que os jovens estão a fazer... É muito estimulante, acabo por dar e receber, e isso agrada-me muito. Para além disto, tenho ainda outro projecto, de que saiu agora um novo disco: um dueto com Stefano Bollani. Tocámos em Milão há dias, e já temos muitos concertos agendados até ao fim do ano e início do próximo, vamos em tournée a Inglaterra, e também queremos ir a Nova lorque... São estes os três projectos principais em que participo: o quinteto, que é a coisa mais importante, o dueto e o New Generation.

Faz parte do projecto de Siena, o Siena Jazz, para jovens músicos, não sei se também é professor...

Não, não, eu não sou professor, nem sequer tenho capacidades para ser professor. A única coisa em que participo é no Siena Jazz, onde participo há mais de vinte anos. Dantes fazia o curso todo, agora vou só por três ou quatro dias. É muito interessante para mim, porque chego mais ou menos no fim e eles já seleccionaram os melhores. Limito-me a organizar grupos de trabalho com os melhores e trabalho quatro ou cinco dias com eles, tocamos a minha música ou outras coisas, toco com eles, transmito-lhes um pouco da minha experiência enquanto tocamos, conversamos um bocado, faço críticas, observações... Estes seminários são muito interessantes, e muito frequentemente acabo por me encontrar com músicos que depois vêm a tocar comigo, como aconteceu com o Gianluca Petrella, que é o trombonista deste disco The Words and The Days.

Conheceu-o em Siena, no Siena Jazz?

Em Siena há dez anos. Ele tinha vinte anos e logo a seguir foi em tournée comigo ao Canadá. Estou muito contente porque, entretanto, o Gianluca tornou-se de tal maneira importante que este ano, e também no ano passado, ganhou na América a votação dos críticos da revista DOWN BEAT como melhor trombonista do mundo, "The number one"... é muito relevante! Deveu-se também ao facto de ter tocado comigo na América e de ter gravado discos, para além de estar agora a gravar para a Blue Note, como é evidente. De qualquer forma, tocar comigo abriu-lhe muitas portas, certamente.

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João Lobo. Foto cortesia do CCB.

Conhece o jazz português? Quais os músicos que considera mais interessantes?

Confesso que não conheço o jazz português. Há um baterista português de que gosto muito, foi comigo agora ao Canadá e será o baterista do New Generation. Chama-se João Lobo. Gosto muito dele e conheci-o precisamente em Siena. É um baterista verdadeiramente extraordinário e muito original. No entanto, em geral, não conheço o jazz português, não chega aqui, chega pouco à Europa, nem os discos chegam. Tenho pena, mas não conheço.


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