13 de fevereiro de 2008

Tomasz Stanko na Culturgest

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É já na próxima quarta-feira, dia 20 de Fevereiro, às 21h30, que o Grande Auditório da Culturgest recebe o quarteto de Tomasz Stanko, trompetista polaco que vem apresentar Lontano, o seu mais recente CD, editado em 2005.

Tomasz Stanko tinha 20 anos e uma licenciatura na Academia de Música de Cracóvia quando formou a sua primeira banda, os Jazz Darings, com o pianista Adam Makowicz, em 1962. Inspirado por Ornette Coleman e pelas inovações de Coltrane, Miles Davis e George Russell, o grupo é muitas vezes citado por historiadores de música como a primeira banda europeia a tocar free jazz.

Para o trompetista a sua importância foi eclipsada pelo convite que teve para se juntar, em 1963, ao quinteto do pianista Krzystof Komeda (1931/1969), o grande precursor do jazz polaco. Stanko admitiu que muito da sua subsequente orientação musical e o seu próprio estilo como compositor foram influenciados por Komeda. “O lirismo, a sensibilidade para tocar apenas o essencial, a abordagem da estrutura, da assimetria, muitos pormenores harmónicos… tive muita sorte em começar com ele”. Durante cinco anos Stanko andou em digressão com Komeda, participou em onze álbuns dele e em todas as bandas sonoras que o pianista compôs na Polónia.

Em 1970, após a morte de Komeda, Stanko juntou-se à Globe Unity Orchestra de Alexander von Schlippenbach, o que lhe permitiu contactar com figuras-chave do jazz europeu de vanguarda, e formou também um quinteto com o violinista Zbiegniew Seifert. No ano seguinte colaborou com Krzysztof Penderecki e Don Cherry. Mas o seu trabalho mais importante da década de 70 talvez tenha sido com o baterista finlandês Edward Vesala. A sua série de álbuns em quarteto, dos quais Balladynai (1975, ECM) foi o primeiro, apontou para novas direcções da balada free, ornamentada com um trompete cheio de alma e granuloso. Stanko também deu uma importante contribuição no álbum de Vesala Together, que reunia improvisadores Nórdicos/Bálticos.

Durante os anos de 1980 Tomasz Stanko explorou várias aproximações à improvisação. Viajou com Vesala à Índia e gravou solos de trompete no Taj Mahal; ainda com Vesala, juntou-se a Chico Freeman e Howard Johnson em Nova Iorque. Trabalhou muito com Cecil Taylor em grandes ensembles e liderou alguns grupos seus como COCX, que desenvolvia ritmos rock e electrónica livre e uma exploração, avançada para o seu tempo, de opções electro-acústicas, e Bluishi, um trio com Arild Andersen e Jon Christensen que precedeu o seu regresso à editora ECM.

Desde que reassumiu a sua colaboração com a ECM, com Matka Joanna, em 1994, Stanko consegui novos públicos para o seu trabalho. Duas gravações com o seu quarteto internacional com Bobo Stenson, Anders Jormin e Tony Oxley, foram seguidas por um tributo, com muito sucesso, a Krzystof Komeda, em 1997. O seu projecto Litania (ECM, 1997) tornou-se numa presença constante no circuito dos festivais.

"Sleep Safe and Warm" (Litania-Music of Krzystof Komeda: 1997)



Em 1998 o produtor Manfred Eicher (o “patrão” da ECM) juntou um grupo de músicos de várias nacionalidades em torno de Stanko na gravação de The Green Hill, em que participaram Dino Saluzzi, John Surman, Michelle Makarski, Anders Jormin e Jon Christensen. The Green Hill recebeu da crítica alemã o Deutscher Schallplattenpreis como álbum do ano de 2000.

Para além da actividade referida, Tomasz Stanko foi sempre mantendo um quarteto polaco que se foi tornando uma prioridade para ele. O pianista Marcin Wasilewski, o contrabaixista Slawomir Kurkiewicz e o baterista Michal Miskiewicz já tocavam juntos como um (muito) jovem trio quando Stanko os ouviu no início dos anos 90 e em 1994 começaram a tocar em conjunto, inicialmente em concertos, alguns dos quais foram gravados para a editora polaca Govi. Rapidamente se tornou na sua banda favorita para todos os concertos na Polónia e na execução de bandas sonoras para filmes. Pianista, contrabaixista e baterista também construíram a sua reputação como trio, com o nome Simple Acoustic Trio. Soul of Things (2002) foi a primeira gravação do quarteto.

"Little Thing Jesus" (Soul of things: 2002)



Soul of Things é Stanko, é o som do seu trompete intenso, escuro, imediatamente identificável. O disco é um conjunto de baladas, cheias de um lirismo eslavo, designadas apenas por Variações 1-13. A música alude, de passagem, a temas que Stanko escreveu para filmes, e outras peças suas, como Maldoror’s War Song são também citadas. Mas como Stanko diz, “Tenho tocado a mesma canção toda a minha vida”. Os títulos, por outras palavras, acontecem depois do facto; o que interessa é a profundidade emocional, uma constante nas diferentes fases e formas que a música de Stanko tem tomado ao longo dos anos. Há uma sensibilidade “fora do tempo” em Soul of Things que remete para as raízes de Stanko enquanto músico. Foi em 2002 que Tomasz Stanko recebeu o European Jazz Price como artista do ano.

O disco teve um grande sucesso junto do público e da crítica e o grupo fez numerosas digressões em ambos os lados do Atlântico. O álbum seguinte, Suspended Night (2004), baseia-se na moldura conceptual do seu antecessor – salvo o primeiro tema, todos os outros se chamam “Suspended Variations” de I a VII – mas a parte improvisada expande-se na medida em que todos os participantes têm mais espaço para os seus solos e mais oportunidades.

Em 2004 o quarteto passou grande parte do ano na estrada, com digressões pela Inglaterra, Alemanha, Áustria, Suíça, Espanha. Estados Unidos, Itália, Polónia. Nesse ano Stanko foi condecorado com a Ordem da “Polonia Restituta” a segunda mais importante condecoração civil do seu país. E programou dois festivais internacionais de jazz na Polónia que foram um enorme sucesso.

Em 2005 o quarteto fez nova digressão pelos Estados Unidos, com início em Nova Iorque e no lendário clube Birdland, sempre com casas esgotadas. Nesse ano gravaram o seu terceiro álbum, Lontano, que está na base do concerto desta noite, e que saiu em 2006.

Texto cedido pela Culturgest.


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