JNPDI: The End.
Chega hoje ao fim o blogue Jazz no País do Improviso.
Quando fundei este espaço, a 11 de Setembro de 2003, Portugal estava já mergulhado numa crise política, económica e, sobretudo, moral. Era o tempo do célebre “discurso da tanga” de Durão Barroso, então primeiro-ministro, que sucedera ao “pântano” de António Guterres.
Foi precisamente por causa deste cenário político que idealizei o título do blogue: num país em que a política é um eterno e mau exercício de improviso, nada melhor do que Jazz no País do Improviso...
Ironicamente, essa foi também a década (2000-2009) do maior boom jazzístico registado até à data entre nós, com a multiplicação de festivais, concertos, escolas, músicos, media, licenciaturas em jazz, etc.
Foi, pois, neste contexto que surgiu JNPDI, o primeiro grande blogue de jazz em Portugal.
Porém, há 9 anos atrás não podia imaginar que este blogue viria a ter a projecção que hoje se lhe reconhece, com cerca de 465 000 visitas acumuladas, e, muito menos, que viesse a consumir-me tantas e tantas horas, contabilizadas em mais de 3100 posts! Para quem gosta de médias, são cerca de 28 posts por mês…
JNPDI foi de facto uma tribuna importante para a divulgação do jazz, objectivo que sempre o norteou, e chegou a todo o mundo, sendo considerado em Espanha como o blogue de jazz de referência também nesse país.
Em jeito de puro serendipitismo, em que julgo saber ler os propósitos, JNPDI extingue-se no momento em que Portugal está de novo confrontado com uma crise, desta feita a maior crise do pós 25 de Abril, um tempo que Medina Carreira classificou recentemente de austeridade máxima e moralidade mínima.
O jazz, esse, está de boa saúde, ainda que pairem no horizonte nuvens carregadas de tensão e ameaças, nomeadamente com a diminuição dos meios de divulgação. De facto, nos últimos anos, desapareceram a única rádio dedicada ao jazz (Europa Lisboa) e a única revista de jazz (Jazz.pt). Também alguns festivais encerraram definitivamente ou emagreceram ao ponto de uma quase total descaracterização. Por outro lado, a porventura excessiva oferta de formação académica vai ter consequências inevitáveis num mercado que está já fragilizado a vários níveis.
Mas sejamos optimistas e acreditemos que é possível manter acesa a chama do jazz porque tal corresponde a perpetuar o importante farol de fraternidade, liberdade e diálogo que este representa desde a sua origem na Luisiana dos séculos XIX e XX.
Para tal é, porém, necessária cada vez mais uma mudança de mentalidades, que é transversal ao país. O futuro, creio-o bem, exige a aposta na união, a valorização do mérito e o foco nos destinatários finais das instituições, programas e projectos, sejam eles alunos ou ouvintes. Exige também visão, uma ideia federadora capaz de mobilizar todos os actores e agentes do mundo do jazz em Portugal. E exige, ainda, uma enorme generosidade por parte de todos os que fazem o jazz acontecer, partilhando com os seus concidadãos os seus conhecimentos, experiências e saberes.
Penso ter contribuído para tal ao longo destes 9 anos de JNPDI, mas também dos 7 livros que publiquei sobre a história do jazz em Portugal, da centena de artigos que desde 1995 venho publicando na imprensa generalista e especializada, do programa radiofónico “O Espírito do Jazz” (Antena2, 2011 – 2012), das exposições e roteiros do jazz, das inúmeras palestras e dos festivais e concertos que tenho organizado e dos dois discos produzidos.
Por diversas razões, pessoais e profissionais – a que não é alheia a forma como o jazz em Portugal se encontra institucionalizado, muito à semelhança de um poder político/partidário cristalizado e tribal – o tempo é agora de mudança de ciclo, com uma maior aposta em projectos profissionais cada vez mais incompatíveis com a manutenção deste fórum num patamar de qualidade aceitável.
Por todos estes motivos, este é o último
post que publico em JNPDI. O blogue ficará todavia disponível para que os seus
conteúdos possam continuar, como até aqui, a ser consultados em Portugal e no
estrangeiro. Continuarei também disponível, tal como até aqui, para esclarecer quaisquer dúvidas e para apoiar trabalhos académicos na área do jazz, o que poderá ser feito através do e-mail joaomoreirasantos@gmail.com
As últimas palavras em Jazz no País
do Improviso vão para os muitos que ajudaram a fazer este blogue ao longo dos
anos e, sobretudo, para os milhares de leitores em todo o mundo.
João Moreira dos Santos