Se fosse vivo, Count Basie completaria hoje 103 anos. Por ser um dos gigantes do Jazz queremos aproveitar esta oportunidade para o recordar e para tal utilizaremos as palavras de Luís Villas-Boas - que o conheceu pessoalmente e o trouxe a Portugal em 1956 - tal como publicadas no livro "O Jazz Segundo Villas-Boas".
Basie, natural de Red Bank, New Jersey, fez parte entre outras, da orquestra de Bennie Moten de Kansas. Depois do falecimento deste músico, em 1936, passou a dirigir esta formação. Em 1937, Benny Goodman descobriu-o no «Reno Club» de Kansas City, tendo-o convidado a gravar alguns números com o seu sexteto.
No ano seguinte estreava-se em Nova Iorque no famoso «Roseland Club» da Broadway. Em 1939, depois de ter feito parte como vedeta do famoso concerto do «Carnegie Hall» de Benny Goodman, a sua composição e tema de abertura da orquestra «One O'clock Jump» começou a desfrutar de enorme popularidade.
Nos anos que se seguiram, a orquestra de Basie desfilou nas mais famosas casas de espectáculo dos Estados Unidos, do «Café Society Uptown» em Nova Iorque [ao] «Sherman Hotel» de Chicago. Em 1942 e 1943 encontramo-lo em Hollywood onde tomou parte nos filmes: «Command Performance» «Reveille With Beverly», «Stage Door Canteen», «Mister Big», e «Crazy House».
Em 1946, a sua terra natal Red Bank resolveu homenageá-lo, criando um feriado especial em sua honra: «O dia de Count Basie».
Em 1950, resolveu tentar um conjunto pequeno em vez da orquestra grande que até aí dirigia. No entanto a experiência teve curta duração pois em 1951 reorganizava a sua grande formação com a qual o seu nome está sempre associado.
Em 1954, Count Basie com a sua orquestra, visita pela primeira vez a Europa. O seu sucesso foi extraordinário em todas as capitais do nosso continente. Apesar de já ter sido precedido por «tournées» de outras formacões em anos anteriores, a crítica foi unânime em considerar a orquestra de Basie como o melhor agrupamento musical que visitara a Europa até então.
Assim, após 20 anos dedicados ao Jazz, Count Basie obtinha o reconhecimento e aplauso geral a que tinha direito. Isso está bem patente no facto de ter a sua orquestra sido escolhida por um grupo de críticos mundiais seleccionados pela célebre revista de música americana «Down Beat» «como a melhor orquestra de Jazz de todo o mundo».
Muitas outras publicações americanas, por intermédio dos seus leitores, atribuíram um título idêntico a Count Basie, como o «Metronome» que a considerou a orquestra n.º 1 de 1956 dos Estados Unidos.
Classificação notável nestes famosos inquéritos, foi também a obtida pela sensacional revelação da presente orquestra de Basie, ou seja a do cantor Joe Williams, desconhecido há anos e em 1955 considerado pela «Down Beat» como a revelação do ano, título confirmado depois, quando Joe Williams foi novamente escolhido como o melhor cantor do momento dos Estados Unidos.
Estes não são troféus fáceis de adquirir, num país onde existem cerca de 250 mil músicos sindicalizados.
Count Basie, piano; Wardell Gray, tenor sax; Buddy DeFranco, clarinet; Clark Terry, trumpet.Agora vejamos qual o fenómeno que provocou este, de certo modo tardio, mas justo reconhecimento do valor de Count Basie.
Como atrás dissémos ao traçar o panorama actual do jazz, este apresenta-se presentemente sobre três facetas distintas que correspondem a três períodos da sua história. Assim temos os representantes dos «Períodos Tradicional, Médio e Moderno», os quais têm os seus respectivos apreciadores. Estes, por circunstâncias diversas, às quais não é estranha uma certa influência da crítica, encontram-se divididos entre si, isto é, os apreciadores e cultores de um período, negam sistematicamente o valor dos outros e vice-versa.
Portanto, seria lógico, que Count Basie, uma orquestra fundamentalmente representativa do Período Médio, fosse criticada pelos apreciadores de jazz tradicional ou moderno. Mas tal não se verifica na realidade, pois Basie conseguiu uma unanimidade de apreciação de todos os três sectores, absolutamente sem igual até agora.
A razão de ser de tal facto, deve-se a que o «Count» soube manter vivo o verdadeiro espírito do Jazz Tradicional, mercê da sua espontaneidade e dum «relax» desconhecido das restantes formações grandes. Com o poderoso «Swing», das suas fantásticas secções de ritmo que lhe dá uma personalidade inconfundível e que nenhuma outra orquestra conseguiu até agora imitar e a sábia utilização do «Riff» (pequenas frases repetidas), o seu lugar no Período Médio (aliás o pemou), estava assegurado.
Mas Basie, numa prova de insatisfação, procurou estar sempre no «avant-garde» do jazz, como o demonstra a escolha dos músicos para a sua orquestra, Lester Young, Buck Clayton, Dickie Wells, Don Byas, Buddy de Franco, Paul Quinichette, Wardell Gray, a Frank Foster e Thad Jones. Outro factor a que se deve ligar a extraordinária popularidade de Basie nos Estados Unidos, não só da parte dos amadores de jazz, como do grande público, deve-se ao aparecimento do chamado «Rock and Roll», género que da América já chegou até ao nosso Continente.
O «R. & R.», popularizado através do célebre «Rok around the clock», do filme «Blackbord jungle» - «Sementes de violência», já existe, praticamente desde que existe o jazz, pois não é mais do que o «Rhythm and Blues», tipo de jazz simples mas de grande intensidade rítmica fortemente sincopado, que diversos músicos de jazz, e Basie em particular, utilizavam. Portanto, sendo Count Basie, um representante do genuíno «Rock and Roll», a sua aceitação pelo grande público ávido desta música, foi um acontecimento natural.