JNPDI! revela aqui em primeira mão que Chick Corea tem dois concertos agendados para Portugal, um no Coliseu de Lisboa (22 Setembro) e outro no Coliseu do Porto (23).
Savina Yannatou na Culturgest
Um novo disco de Jimmy Cobb
Temos festa!
Hoje é um dia especial para o Jazz!
Villas-Boas com Bill Evans (Estoril, 1975)
Hoje, há precisamente 82 anos, nascia em Lisboa Luís Villas-Boas, o homem que iria expandir o jazz em Portugal e elevá-lo à categoria de arte.
Curiosamente, hoje é também o dia em que damos por findo o livro que vimos escrevendo sobre o "pai do jazz em Portugal" - O Jazz segundo Villas-Boas - obra pioneira a editar brevemente no quadro de várias efemérides ligadas a esta figura-chave no panorama jazzístico nacional e que se celebram em 2006.
Mas, regressemos a Villas-Boas.
Visionário e pioneiro para uns, polémico para outros, amado, odiado, condecorado, vaiado, elogiado, criticado e ofendido, esquecido por vezes, num aspecto Luís Villas-Boas recolhe porém unanimidade: é inegavelmente a grande referência quando se fala de jazz em Portugal.
Caricatura de Villas-Boas para a revista "Cinéfilo" (1973)
Convém recordar que a ele se devem pelo menos três iniciativas pioneiras e fundamentais:
1 - A divulgação e legitimação do Jazz, tendo criado o mais importante programa de rádio (o Hot Club: 1945/1969) e assinado os primeiros artigos de imprensa (1946), consistentes, sobre os novos sons que sopravam do ocidente, para além de ter dinamizado programas televisivos sobre jazz e proferido várias palestras em liceus e universidades;
2 - A produção do Jazz, pela organização das primeiras jam-sessions (1948), pela apresentacão em Portugal dos primeiros grandes e maiores nomes do "som da surpresa" (1955) e pelo lançamento do Cascais Jazz (1971), o mais emblemático festival de Jazz jamais realizado entre nós;
3 - A congregação dos amadores, a formação de músicos e a perpetuação do Jazz, mediante a fundação do Hot Club de Portugal (1950) e do Louisiana, em Cascais (1965).
Ligado a Luís Villas-Boas esteve outra grande figura do Jazz em Portugal - Duarte Mendonça - que com ele colaborou desde 1974 até 1988 na organização do Cascais Jazz e de vários outros festivais e emblemáticos concertos.
Luís Villas-Boas e Duarte Mendonça, Jazz Num Dia de Verão, 1986
JNPDI! presta aqui a sua mais profunda homenagem a Luís Villas-Boas. Sem ele o jazz não existiria com o prestígio, história, alcance e dignidade que actualmente o caracterizam
Quanto ao livro, o primeiro que se publica sobre Villas-Boas, aqui daremos em primeira mão a notícia do seu lançamento.
Aproveitamos para deixar aqui alguns dos testemunhos sobre Villas-Boas, produzidos quando da sua morte em 10 de Março de 1999.
Bernardo Moreira - «Era o jazz em Portugal. Tudo o que existe hoje foi ele que fez. Se não fosse ele, ainda estaríamos na pré-história do jazz em Portugal.»
Carlos Zíngaro - «Foi o precursor da divulgação do jazz e do apoio ao ensino: Foi ele que criou os primeiros e únicos clubes em Lisboa - concretamente o Hot Clube e, na altura, o Louisiana: em Cascais. Estive próximo dele, há bastantes anos. Trabalhei com ele como apoio gráfico e logístico na organização do Cascais Jazz, de 1974. Apesar de não me considerar um músico de jazz, sempre tive o maior respeito por ele, porque foi uma pessoa muito recta, directa e muito empenhada no que gostava. Acrescentarei que do grupo de amantes do jazz da sua geração ou daquela que veio imediatamente a seguir, sempre foi a pessoa mais empenhada e mais seria.»
Duarte Mendonça - «Trabalhei com ele durante 15 anos, entre 1974 e 1988 - produzi com ele o CascaisJazz. Conheci-o na década de 50 e quem me apresentou foi o Gerard Castello Lopes, um aos fundadOres do Hot Clube. Foi ele que trouxe o jazz para Portugal. Foi ele que fez o primeiro programa de rádio sobre jazz, com o Artur Agostinho, Só depois teve um programa próprio na Emissora Nacional e no Rádio Clube Português. Era difícil trabalhar com ele porque era uma pessoa muito desorganizada. Não tinha horas e, para além disso o 25 de Abril veio introduzir um elemento destabilizante no trabalho de qualquer pessoa. Era um sindicalista acérrimo e a política passou a preencher, a partir-daí, 80 por cento da vida dele.»
Augusto Mayer - «Estive com ele no Hot Clube, desde início até agora. Era ele que davaas soluções. Para além das coisas da música, também tínhamos a nosso cargo a administração da clube. Tomávamos conta daquilo. Até há pouco mais de dez anos foi muito difícil gerir tudo aquilo. Não tínhamos dinheiro para o fazer e trabalhávamos com muita dificuldade. Depois a coisa foi começando a melhorar, passou a haver subsídios de vários lados, com outra direcção já sem nós.»
Bemardo Sassetti - «Era um bom amigo. Foi uma pessoa que sempre me acompanhou e tinha um carisma especial e uma vontade de estar com os músicos e partilhar connosco as Suas aventuras. Foi um pioneiro do jazz em Portugal, com uma força enorme e que sempre me disse que gostava muito de tocar piano. Não éramos amigos muito íntimos, mas tínhamos uma relação especial. Era uma força da natureza a contar histórias. Isso aproximou-me muito do mundo do jazz, numa altura em que eu tinha 16, 17, 18 anos. O Luís Villas-Boas era único em Portugal, pela sua graça e a forma como contava as histórias. Foi uma grande perda.»
João Braga - «O jazz em Portugal é uma minoria, felizmente a tender cada vez mais para o imenso. Dessa minoria que o jazz era, sobretudo há 20 ou 30 anos, o Luís Villas-Boas era a sua maior fatia. Foi o fundador do Hot Clube. Estou particularmente ligado a ele, porque no Verão de 71 decidimos trazer a Portugal o Newporl Jazz Festival. Isso acabou por acontecer no mês de Novembro. A imagem que guardo dele é a de um homem imensamente feliz, em estado de graça. Ele conseguiu reunir em Portugal nomes que só em sonhos: Miles Davis, Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Art Blakey, Sonny Stitt, Phil Woods, Keith Jarrett. Era um tipo com um sentido de humor extraordinário, que não desarmava com facilidade. Quando esteve como produtor na Philips produziu dois ou três discos meus. Estar com ele em estúdio era uma sensação miito boa. Recordo-me que ele pedia para eu cantar o fado com mais swing. A sua casa era ele mergulhado numa pilha de discos. Era único no seu género.»
Paulo Gil - «Foi através da minha mãe que conheci o Luís Villas-Boas e soube da éxistência do Hot Clube, naquela altura na Avenida Duque de Loulé. Ainda era menor quando o conheci. Ele foi para mim uma espécie de segundo pai, no sentido de me ensinar a ouvir jazz. Cresci na companhia do Luís Villas-Boas. Ele foi muito importante em vários aspectos. Se não fosse o programa dele no Rádio Clube Português muita gente não teria vindo ao jazz. Se o jazz em Portugal pudesse ter um pai seria o Luis Villas-Boas. Vai ser difícil encontrar gente como ele».
José Nuno Martins - «Convivi, trabalhei e aprendi com ele muita coisa. Era uma referência da sociedade de Lisboa dos anos 50 e 60. A partir da década de 70 partilhámos a euforia da televisão. Ele elegia-se como um condutor de grupos, um lider, um orientador estético, muito fraterno mas também paternal. O Luis sabia articular padrões de exigência com registos de tolerância e uma bonomia permanente e contagiante. Era uma pessoa muito inteligente e culta, com uma força fisica impressionante e um defensor do bom gosto e do convívio. Ele previa e amava o futuro, agarrando-o com um sentido de ruptura em relação às regras estabelecidas. Uma vez foi preso por andar com uma camisa havaiaria fora das calças. Depois voltou a sê-lo por defender o Charlie Haden, que havia feito uma declaração em favor da defesa das ex-colónias. Não se gabava de si próprio mas tinha histórias que fizeram dele um mito. É uma referência nas questões do bom gosto na sociedade portuguesa.»
Rui Neves - «É bom que a doença dele sirva para alertar o cidadão desse factor. Esta é também uma boa altura para falar nele, coisa que já não acontecia há algum tempo, como se ele estivesse num limbo. É uma perfeita maneira para se reflectir o que tem sido o estado do jazz no nosso país. Foi ele o primeiro a trazer o jazz para Portugal, fez o primeiro clube de jazz e o primeiro programa de rádio do género, para além dos concertos. Por isso digo que ele foi um criador de gostos, trazendo os criadores que eram vivos na altura, como o Duke Ellington. Era uma pessoa muito impulsiva e critativa. Foi sindicalista, mas numa dimensão que não o fazia aIinhar com a tendência política dominante. Tinha a postura do guerreiro, do lutador. Aprendemos todos com ele.»
José Duarte - «O Luís Villas--Boas foi uma personalidade que eu muito apreciei. Gostava muito dele. Não nos falávamos desde 1977,mas tive a oportunidade de organizar para ele as duas últimas homenagens que lhe foram feitas: o concerto com músicos portugueses para a Associação dos Doentes de Alzheimer e o documentârio que passou recentemente no "Artes e Letras" da RTP2, a propósito do cinquentenário do Hot Clube de Portugal. Era um homem que sabia muito do jazz por dentro e por fora. Era muito admirado e querido pelos músicos de jazz portugueses e estrangeiros, uma figura muito popular no mundo internacional do jazz. Em Portugal ninguém conhecia o mundo do jazz como ele. Faz falta ao jazz.»
Carlos Barreto - «Foi graças a ele que começou a haver jazz, nos festivais de Cascais, em 1971. Tinha 15 anos e foi lá que fiquei impressionado com os contrabaixistas e que me fez escolher esse instrumento. Foi tudo culpa do Villas-Boas. Era uma pessoa com uma boa disposição, um sentido de humor e um conhecimento da vida e das pessoas incrível. Estava à vontade em qualquer ambiente e era sempre ele que punha as pessoas bem dispostas. Foi uma grande perda.»
Jorge Lima Barreto - «O VilIas-Boas foi o primeiro a trazer aqui o Ornette Coleman e o Cecil Taylor, que representavam e representam a vanguarda do jazz. Ele não pode ser conotado com a circunstância de ser apenas um divulgador do jazz clássico, pois estava em Nova lorque na altura do nascimento do be bop. Era um amigo e honrou-me com o prefácio do meu livro "Jazzband". Também me convidou para o Festival de Jazz de Cascais em 1974.»
Mário Laginha - «Ele foi o mais importante impulsionador do jazz em Portugal, numa época em que era muito mais difícil fazê-Io. Eu era pequeno e ainda não pensava em ser músico, já ele se dedicava ao jazz. De forma desinteressada e apaixonada. Acho que nunca ganhou nada com os concertos. O Cascais Jazz ficará para a história da música de Portugal neste século como o único pulmão de uma música que era quase um sinal de liberdade.»
Pedro Abrunhosa - «A música portuguesa fIca a perder. Foi um homem que durante a ditadura fascista conseguiu implantar um evento cultural que foi uma das grandes conquistas pré-25 de Abril. Para além de um evento musical, era um pólo de resistência cultural. Era um ponto de encontro para toda a gente. Era o único sítio onde se podia ouvir música fora das manifestações do regime.»
Maria João - «Luís Villas-Boas era a pessoa mais importapte do jazz em Portugal. Ele tinha um grande amor por aquela música, sem intuitos lucrativos. A mim ajudou-me com o seu entusiasmo e sempre me tratou muito bem. Acreditou em mim e deu-me trabalho, e assim pude dedicar-me inteiramente à música que eu amava. Ele fez muita coisa por mim e infelizmente nem "sequer vou poder ir ao funeral dele.»
António Guterres (em mensagem de condolências ontem enviada à familia do musicólogo) - «O maior legado que Luís Villas-Boas deixa é ter inspirado e ajudado a consolidar a nova geração de músicos portugueses de jazz. Foi com muita tristeza que tive conhecimento da morte do fundador do Hot Clube, uma figura indissoluvelmente ligada à história do jazz em Portugal. Foi em grande parte devido ao seu vibrante entusiasmo que essa forma de expressão musical surgiu no nosso País e que o jazz feito em Portugal e por portugueses se projectou além fronteiras.»
Downbeat - Abril 2006
4.ª Festa do Jazz do São Luiz
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