Kurt não foi uma curte por aí além...[Foto de João Moreira dos Santos]
A noite de Sábado apresentava-se como um dilema para qualquer amante de jazz: ir ouvir Toots Thilemans,valor seguro, ou Kurt Rosenwinkel, novo talento e, por isso, uma incógnita quanto ao resultado final.
Optámos por Rosenwinkel, interessandos em saber se a fama que o precede tem ou não correspondência com qualidade e criatividade.
Exímio tecnicista, o guitarrista não desagradou a quem gosta de ver e ouvir uma boa execução instrumental, para mais com rapidez no dedilhar e no débtio de escalas e não só.
Porém, a sua prestação esteve longe do que se esperava, pecando por excesso de técnica em detrimento de sentimento e sentido. As introduções que realizou a alguns temas roçaram o desinteresse e a repetição de ideias/licks. É um guitarrista pouco melódico e que nem sempre cria dinâmicas, algo que já em 1990 e 1991 se ensinava nos Cursos Internacionais Projazz, ouvindo atentamente Rufus Reid, Clark Terry ou Reggie Workman, por exemplo.
Não quer isto dizer que tenha sido um mau concerto, até porque estavam lá um excelente pianista (Aaron Goldberg), embora muito "tapado" pela lógica deste projecto musical, e um notável baterista, um dos mais solicitados na actualidade.
O saxofonista Chris Cheek, de quem muito se esperava, acabou por não deixar marca digna de grande nota.
Porém, só assistimos ao concerto das 21h00, pelo que o das 23h00 poderá ter introduzido dados que desconhecemos.
[O pianista Aaron Goldberg no final do concerto - Foto de JMS]
Há, porém, que tecer algumas considerações justas sobre o Seixal Jazz:
1. - O Seixal Jazz é o festival mais completo de todos os que se realizam entre nós. Ou seja, é um verdadeiro happening e um verdadeiro projecto integrado de cultura e educação, com múltiplas manifestações e acontecimentos associados. Destas, destacamos o projecto que envolve as escolas (fundamental para a educação musical e para a criação de novos públicos) e os workshops (fundamentais para o desenvolvimento de competências nos jazzmen portugueses).
2. - O Seixal Jazz é sem dúvida o projecto com o melhor gabinete de imprensa, notando-se uma elevada profissionalização na relação com os media e uma adequada dotação de recursos.
3. - O Seixal Jazz é o único festival português que edita e publica livros e folhetos educativos e que gere uma colecção de merchandising, contribuindo para a sedimentação de uma imagem de marca. O Estoril Jazz pode aqui rivalizar com o Seixal Jazz, mas faltam-lhe os recursos financeiros para ir mais longe.
Por tudo isto, estamos em crer que os demais festivais podem e devem aprender com este evento cultural. Não temos qualquer dúvida de que o Seixal Jazz é hoje o que de mais parecido há com um festival de jazz do futuro e com o que já sucede lá fora. Com muita margem ainda para evolução, naturalmente, e tendo em conta que a realidade nacional não permite por vezes ir mais longe.