Vasco Morgado Jr:
"O Hot é demasiado importante para se deixar cair no esquecimento"
A Junta de Freguesia de S. José tem vindo nos últimos anos a defender a importância da valorização do Hot Clube. Curiosamente, os seus destinos são presididos desde as últimas eleições autárquicas por um homem cujo apelido tem fortes tradições na história do jazz em Portugal: Vasco Morgado Jr. JNPDI foi saber o que pensa da situação do Hot Clube o neto do famoso empresário que trouxe a Lisboa, juntamente com Villas-Boas, grandes nomes como Louis Armstrong, Ella Fitzgerald, Duke Ellington e Benny Goodman.
JNPDI: O fogo no prédio do Hot Clube foi detectado primeiramente por si. Como se apercebeu dele e o que fez?
Vasco Morgado: Estava a chegar a casa e reparei no fumo negro que estava a sair da cobertura, chamei os bombeiros e alertei os prédios vizinhos.
JNPDI: Teve noção imediata de que o Hot corria um perigo real?
VM: Tive noção de que todos no referido imóvel corriam um perigo real, pois há muito que conheço o estado do edifico por dentro.
JNPDI: Naquela madrugada, quando entrou pela primeira vez no Hot?
VM: Já de manhã por volta das 11h
JNPDI: Presumo que o cenário com que se deparou era no mínimo desolador...
VM: É o cenário de todos os locais atingidos por um incêndio: água, escombros e cheiro a queimado
JNPDI: Como surgiu a ideia de propôr a sala de café concerto do cinema S. Jorge para acolher provisoriamente a programação do Hot?
VM: O facto de conhecer bem a fregueisa onde nasci faz com que consiga tirar partido do que ela tem para oferecer.
JNPDI: Como vê a impossibilidade de usar esta sala, que entretanto foi pública na passada semana?
VM: Foram opções da direcção do Hot Club. Nada a dizer a não ser que vou tentar arranjar outra solução que seja talvez de melhor agrado para a direcção.
JNPDI: Que outras alternativas é que a Junta de Freguesia de São José pondera para reerguer o Hot na Praça da Alegria?
VM: Tenho uma reunião com a Vereadora da Cultura dia 5 às 10.30, levo algumas soluções e opções... Logo se verá.
Vasco Morgado à porta do Hot Clube dois dias depois do incêndio.
Foto: JMS/JNPDI
JNPDI: A Junta tem estado muito empenhada na recuperação do prédio do Hot pela CML e a criação da Casa do Jazz nesse edifício. Como gostaria que fosse este espaço?
VM: Um espaço dessa tipologia só faz sentido se conseguir passar a história do Jazz através dos tempos, afim de cimentar quem já conhece e gosta do estilo. Bem como fazer e educar novos fãs.
JNPDI: Qual é para si a importância do Hot no âmbito da oferta cultural da Freguesia de São José?
VM: O Hot é desde há muito um cartão de visita de Lisboa e pricipalmente de São José. Isso faz com que seja demasiado importante para se deixar cair no esquecimento.
JNPDI: O que se passa com espaços onde também houve jazz em tempos, como é o caso do Ritz Club (antigo Bal Tabarin Montanha) e do Miami (prédio demolido junto à estação de serviço e que desde há anos está transformado em estacionamento de automóveis)? Ainda é possível recuperar o Ritz Club?
VM: O Ritz tem toda a potencialidade para vir a ser um multiusos cultural para um tipo de cultura que vai além fronteiras. A sua capacidade e suporte de espectáculos vai desde os concertos ao burlesco... São mil e uma hipóteses.
JNPDI: Soubemos que também o Maxime deve encerrar, pelo menos com a actual gerência. É Lisboa que está doente ou a oferta cultural em salas de reduzida dimensão não é mais viável?
VM: Nem tudo são rosas na cultura: é preciso ser sério e isso não está ao alcance de todos. Existe muita subsídio dependência na cultura e isso não é sério. Com metade do que se gasta em subsídios recuperavam-se salas como o Odéon, Ritz Club ou o Teatro Variedades, dando assim mais hipóteses a quem quer explorar espaços culturais. A CML ainda não percebeu que podia ter uma serie de salas que em vez de andarem nos jornais por estarem degradadas, estariam a rentabilizar dinheiros para Lisboa...
JNPDI: Sei que frequenta o Hot Clube desde muito jovem. Que memórias mais importantes guarda deste espaço?
VM: Eu passava verões inteiros no meu terraço, que dá traseiras com o Hot, a ouvir concertos magnificos. Lembro-me da primeira Big Band que vi ao vivo... Rendi-me!
JNPDI: E do seu avô, Vasco Morgado, a quem todos devemos a contratação de artistas como Louis Arsmtrong, Ella Fitzgerald, Duke Ellington, Oscar Peterson e Benny Goodman? Ao que sei, ele perdeu muito dinheiro com estas apostas, não obstante o seu enorme valor artístico.
VM: Lá está, o meu avô era um Homem de cultura num país em que não a havia. Nunca recebeu um subsídio do estado; sempre fez tudo às suas expensas. Fez porque amava o que fazia, coisa que muitos que dizem que gostam só o fazem com o dinheiro dos outros ("estado"). Perdeu dinheiro em quase todos [os concertos], mas não foi por isso que deixou de os fazer... No concerto do Sammy Davis Jr o Monumental esgotou e mesmo assim deu prejuízo, mas os preços chegavam a todas as bolsas. O que mais prazer lhe dava era ver a casa cheia, nem que fosse de borlas. Hoje em dia isso não é possível, a não ser naqueles que recebem subsídios e fazem a mesma coisa todos os anos.
JNPDI: Um desejo para 2010 no que respeita ao Hot Clube...
VM: Que depressa volte ao activo, eu cá estarei para tudo tentar que isso aconteça. Bom 2010!!!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home