Foto de João Moreira dos Santos
Chegados agora a casa do concerto de Ahmad Jamal no Centro Cultural de Belém, realizado ontem, dia 13, é tempo de fazer um pequeno balanço.
Ahmad Jamal mostrou-se criativo, original e capaz de se reinventar, provando que resistiu bem à tentação de se deixar fechar no hermetismo que uma idade já avançada e uma carreira mais do que consagrada poderiam eventualmente trazer-lhe. A sua empatia com os músicos é bem visível (o facto de tocarem juntos há mais de 20 anos ajuda certamente...) e, confirmando o que nos dissera em entrevista em 1996, o pianista pareceu dirigir uma orquestra e não um quarteto.
Por isso mesmo, quem aprecia música feita na hora, em cima do palco - isto é, verdadeiro, Jazz - teve neste espectáculo uma amostra de suprema qualidade. Um Jazz que foi sobretudo ritmado e que viveu de contínuas tensões e "libertações" musicais (à falta de melhor termo para exprimir o inglês release...)
Ahmad Jamal, pianista sem dúvida notável, revelou-se bem mais rítmico do que o que porventura era esperado por alguns dos presentes, facto que foi acentuado pela percussão de Manolo Badrena (músico que colaborou com os Weather Report) e pela bateria de Idris Muhammad (que além de Jamal tocou com músicos como Lou Donaldson, Johnny Griffin, Pharoah Sanders e George Coleman). Quanto ao contrabaixista James Cammack, nada a dizer: um músico muito competente, melhor em pizzicado (ou seja, a percutir as cordas com os dedos) do que em arco.
Antes do concerto tivemos oportunidade de rever este mítico pianista que Duarte Mendonça (produtor do Estoril Jazz) trouxe a Portugal pela primeira vez, em 1994, apresentando-o novamente em 1996.
Ahmad Jamal e Duarte Mendonça: o reencontro depois de 11 anos de ausência.
Ahmad Jamal relembra as suas actuações em Portugal através do livro sobre Duarte Mendonça
Não é o que parece... Na realidade apenas se trocaram cartões de visita!
Ahmad Jamal é um ser espiritual e o autógrafo que nos deixou no seu mais emblemático disco assim o comprova (como se necessário fosse...). Este é um registo para uma futura Casa do Jazz.
Uma nota ainda para deixar os parabéns a Paulo Gil e ao CCB, os produtores deste concerto que permitiu ao público português rever não só um pianista de referência no Jazz, mas também testemunhar-lhe a admiração pela sua carreira (que já vai em quase 60 anos...) e obra, o que fez através de uma intensa e sentida ovação final.
1 Comments:
Espero um dia ter a oportunidade de ver e ouvir esse ícone do jazz.
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