Crítica de Jazz mais pobre
Manuel Jorge Veloso cessa colaboração com o Diário de Notícias
MJV no concerto realizado no Hot Clube em homenagem a Jean-Pierre Gebler
MJV no concerto realizado no Hot Clube em homenagem a Jean-Pierre Gebler
Acabámos de receber um e-mail de Manuel Jorge Veloso a comunicar o abandono das suas funções de crítico de Jazz no Diário de Notícias, jornal em que colabora desde há 9 anos.
Sem dúvida que o Jazz fica mais pobre, pois é mais um grande jornal de referência a perder um crítico de referência (tal como já sucedera com António Curvelo, no jornal Público), mas, como salientam Ignacio Ramonet, ou Noam Chomsky (a propósito das mudanças operadas na imprensa a nível mundial por via da sua integração em grupos económicos), tal parece ser inevitável quando as notícias se transformam numa mera mercadoria cujo preço (leia-se interesse) é ditado apenas pelas vendas, audiências ou interesses.
Com a permissão do autor, aqui fica a nota de despedida de Manuel Jorge Veloso.
Aos leitores de (e do) jazz
É com um misto de grande alívio e de algum desânimo que dou conta da decisão de cessar, a meu pedido, a minha actividade crítica mais recente na área do jazz, desde há nove anos desenvolvida no Diário de Notícias.
As crescentes dificuldades face à exiguidade do espaço disponível, a velha questão das prioridades no que toca ao tratamento jornalístico dos eventos culturais e artísticos, bem como a pressão constrangedora dos chamados «critérios editoriais» agravaram-se nos últimos tempos, tornando a continuidade deste trabalho no mínimo penosa e retirando-lhe o necessário gozo.
Além disso, outras consequências irreparáveis e incontroláveis, por parte do escriba, incidiam com frequência acrescida na própria forma definitiva que os textos apresentavam, quando impressos, e mesmo sobre o enquadramento dos mesmos: cortes, arranjo de títulos, destaques, legendas.
É assim chegado o momento de abandonar esta actividade na imprensa escrita, sendo possível (mas não necessariamente provável) que procure, a médio prazo, experimentar outras formas alternativas de manter contacto com o leitor, continuando a actividade na rádio, até me parecer que existe ainda estaleca para tal ou até que lá me queiram.
Abusivamente enviada nesta forma impessoal e em jeito de circular, esta nota tornou-se necessária pela circunstância de a minha decisão ter sido tomada de forma imediata e irrevogável, assim me impedindo (a mim próprio) de ainda escrever um último texto no qual, como é de bom tom, tivesse podido despedir-me dos leitores.
Saudações,
Manuel Jorge Veloso (Agosto, 2007)
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