17 de abril de 2006

Big Balda!

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Ante-véspera de mais uma Páscoa...

Algures num pequeno sítio que dá pelo nome de Portugal o director musical de uma Big Band chega ao "teatro de operações" para o ensaio final.

A sala está praticamente vazia... Ao canto o contrabaixista extrai do instrumento uma walking bass line, indiferente à chegada do Dr. Jaime Gana.

Um trompete soa pelos corredores, grunhindo uns profundos wah, wah, wah.

À falta de bateria, levada por um dos músicos ausentes para a festa de anos da filha durante as férias prolongadas, o baterista de serviço percute com as suas baquetas uma lista telefónica.

Encostada à porta está a D. Ermelinda, a empregada de limpeza de serviço na sala das sessões de ensaio, a quem o maestro logo se dirige:

- Então só cá estão estes?

- Pois é... é o que vê.

- E o Sr. Cortas?

- Ah esse esteve aqui a afinar o trombone durante vinte minutos mas depois deu de frosques...

- Pois é... Esse gosta é de pôr a boca no trombone, mas trabalhar é bom é para o preto!

- Ah esse ainda não vi por cá hoje. É aquele da mala e do braço engessado né?

- Não, é só um dito...

- Pois, deve ter passado por cá de mansinho porque eu não lhe pus os olhos em cima. E olhe que passei a manhã agarrada à esfregona a limpar o corredor, por onde toda a gente passa. Foi um corropio para assinar o livro de ponto e dar aos calcantes que nem imagina... Até o Obikwelu parecia uma tartaruga comparado com estas lebres! Ehehehehe. Só eu é que tenho de andar aqui agarrada ao balde e à esfregona e à tarde ainda tenho de ir limpar o gabinete de suas excelências, como se eles estivesses sujos de algum trabalho. Para o que eu havia de nascer... E depois ainda vão para a televisão todos anjinhos. Parecem uns santos!

- Então e o Pires de Pimba?

- Ah esse não tá! Foi pai e teve de ir lá à fábrica dos sumos onde é que ele trabalha fanar, que é como quem diz buscar, umas garrafitas para dar à miúda dele porque a pequenita precisa agora nestes primeiros tempos de muitas vitaminas.

- E o Santana Flops ainda não apareceu?

- Ah senhor maestro desse nem me fale que se me dão cá umas ganas que nem respondo por mim! Olhe que noutro dia estava eu no gabinete lá de cima a alimpar e veio ele de mansinho dar uns piropos aqui à jeitosa. Mas eu disse-lhe logo: Vem cá vem, que levas com a esfregona nesse focinho que nunca mais chegas a Belém! Olha foi com o rabinho entre as pernas pedir mimos à gaja ali das fotocópias...

- Estou a ver...

- A ver estou eu, mas é navios, enquanto esses gabirus é só férias e regalias...

Eis que os treinos vocais de Nuno Melro captam a atenção do maestro, que a ele se dirige pacientemente:

- Então senhor Melro, que é feito do seu amigo Tortas?

- Ah... pois eu vi-o tão cansadito, coitado, que o mandei embora. Disse-lhe: Vai descansar que tu andas aí a conduzir esse Porsche, esse jeep matulão, e precisas muito de desanuviar a cabeça e relaxar o corpo. Vai à minha responsabilidade. Pega em ti e vai a um parque, por exemplo, ver pardalitos, sei lá, ver a natureza...

- Ouça lá, mas o que é lhe deu para falar agora como se fosse o Nelo da Idália?!

- Aiiiiii que tontiiiiiiice, isto já é por osmose... Desculpe lá.

- Eu dou-te a osmose... - diz a D. Ermelinda. - Olha este também é só garganta... Parece um melro sempre a saltitar de programa em programa de TV. Cresce e aparece! Raio do homem...

Qual virgem ofendida, o cantor de serviço, o dito Melro, logo replica:

- Sua analfabeta! Vá mas é limpar o chão...

- Pois é, olha, posso não saber ler uma nota mas pelo menos não dou música aos outros nem ando a brincar com o pagode! A tua cantiga já eu sei de cor... oh pintarroxo desafinado! Cantas cantas mas não me encantas. Só sabes é $%#$" sentenças! E depois eu que limpe... Fica sabendo que a minha esfregona tem mais swing do que a tua cantilena!

Resignado o maestro acaba, enfim, por exclamar as dores da sua alma...

- Bem estou a ver que isto em vez de uma Big Band é mas é uma Big Balda!

Quanto à D. Ermelida lá continuou as suas limpezas ao som da sua voz...

You're mean to me
Why must you be mean to me
Gee, honey it seems to me
You love to see me crying

I don't know why i stay home
Each night when you left all alone
Singing the blues and crying

You treat me coldly
Each day in the year
You always scold me
Whenever you're...
Mean to...

5 Comments:

At segunda abr. 17, 07:01:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Está uma peça de humor, deliciosa, mas sinceramente o que eu mais gostei foi do swing da esfregona da D.Ermelinda. Pois é, nós rimo-nos mas enquanto estivermos entregues a pessoas tão oportunistas, e pouco ou nada responsáveis, não podemos esperar que Portugal melhore, infelizmente!

 
At terça abr. 18, 01:03:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Que ficção! Olhe se isto se passasse na realidade...

 
At terça abr. 18, 01:25:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Como há muito tempo já não sucedia, lá tivemos que gramar mais um comentário político neste blog. Acho uma pena e uma falta de carácter de JMS insistir nesta «fábulas» políticas de intenção duvidosa. JMS tem direito a comentar tudo...mas não neste blog. Se quer comentar pois que comente noutro lado, sob pena de desiludir muita gente que aqui vem e que não deve querer voltar mais...Por último, penso que JMS e outros são os responsáveis pela eleição da maior parte dos que se baldaram...Curiosa ironia...

 
At sexta abr. 21, 06:02:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

why não poder o rapaz comentar politica? não é assunto interessante? não achei nada demais , mas daí a proibir o moço de escrever ...? oube (v) a faixa 9 do cd "Bastion of sanity" de David Binney que isso passa!!!!!

anacleto bonifacio (a.k.a. pastel de bacalhau)

 
At sexta abr. 21, 07:24:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Mas o sentido de humor é proibido? Faz mal a alguém? Há coisas que só a sorrir é que se suportam!

 

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