30 anos de Jazz em Cascais, na FNAC
Duarte Mendonça, o mentor do Estoril Jazz, celebra este ano 30 anos de produção de jazz em Portugal.
Para assinalar esta efeméride, a Loja FNAC do Cascais Shopping apresenta, em colaboração com a Comissão Organizadora dos 30 anos de Produção de Jazz por Duarte Mendonça, uma exposição de fotografias de alguns dos mais importantes jazzmen que pisaram os palcos do Cascais Jazz, do Jazz Num Dia de Verão e do Estoril Jazz e exibe diariamente uma hora de vídeos com o melhor destas três décadas de jazz em Cascais, alguns deles em estreia absoluta no visionamento público.
Este evento único e irrepetível tem início hoje (26 de Junho) e prolonga-se até 15 de Julho, tendo como ponto alto uma conferência a realizar no próximo dia 28 de Junho, pelas 21h000, no Fórum FNAC, a qual conta com a participação de oradores que intervieram ou acompanharam activamente a divulgação do jazz em Cascais. António José Barros Veloso (assistente musical de realização televisiva), José Nuno Martins (realizador de televisão), Raúl Vaz Bernardo (crítico de jazz do jornal «Expresso»), João Freire de Oliveira (fotógrafo) e, claro, Duarte Mendonça (produtor), debatem estes «30 anos de Jazz em Cascais».
A rematar esta conferência, Filipe Melo (piano) e João Moreira (trompete), um dos filhos do Jazz Num Dia de Verão, executam ao vivo alguns temas clássicos do jazz, provando que os festivais serviram também para divulgar o jazz nacional e criar uma geração de jazzmen portugueses de altíssima qualidade.
A organização é aqui do humilde autor do «Jazz no País do Improviso!», que fica a aguardar comentários à mesma. Positivos ou negativos!
Já agora, aqui deixo uma breve nota histórica sobre a evolução do Jazz em Cascais, desde os anos 20 até hoje, fruto da investigação para o livro da história do jazz em Portugal, que me vem ocupando.
JAZZ EM CASCAIS NO SÉCULO XX
Embora o mais mediático acontecimento ligado ao jazz em Cascais sejam os festivais realizados no Pavilhão do Dramático a partir de 1971, o som da surpresa chegou a este Concelho, ainda que de forma não consistente, logo em meados dos anos 20, com a actuação de orquestras estrangeiras no Grande Casino Internacional do Monte Estoril, de que é exemplo o Jazz-Band Sul-Americano Romeo Silva (1926). Nos anos 50 houve um recrudescimento do jazz no Concelho, aqui actuando a Orquestra de Hazy Osterwald (1952), os Delta Rhythm Boys (1957) e o quinteto de Dizzy Reece.
Seria, contudo, o ano de 1965 a marcar realmente o início do jazz em Cascais, com a abertura do Clube Luisiana. O impulsionador deste espaço e dos célebres Cascais Jazz foi não só o mesmo como também a figura mais importante no panorama do jazz em Portugal no Século XX: Luís Villas-Boas.
O primeiro clube
Corria o mês de Setembro de 1965 quando Villas-Boas se lembrou de "plantar" numa rua, ironica e premonitoriamente, sem saída, um clube especialmente dedicado «aos que apreciam e conhecem "jazz"», explicava à revista «Flama», por ocasião da inauguração deste espaço que se viria a tornar histórico.
Por aquela moradia «decorada à semelhança das de Nova Orleães» passaram grandes nomes do jazz. Alguns vieram propositadamente, como, em 1967, o quarteto do então jovem Charles Lloyd, com Keith Jarrett, Cecil McBee e Jack Dejohnette, um autêntico feito para a época, e outros foram literalmente "pescados" noutros eventos, nomeadamente o «Cascais Jazz».
Um ano depois da abertura do Luisiana, em 1966, teve lugar em Cascais o primeiro grande concerto de jazz, realizado por nada menos do que o trio de Oscar Peterson. Natural do Canadá e de passagem por Lisboa, para uma actuação no Cinema Monumental, este génio do piano, o seu trio e o seu swing imbatível foram "desviados" pelo «pai do jazz em Portugal» para uma actuação extra no Teatro São José. E, claro, o baterista Louis Hayes terminou a noite no Luisiana a acompanhar músicos portugueses, aos quais se juntou ainda o lendário Gerry Mulligan, na época a passar a lua de mel no país.
De facto, a importância do Luisiana ficou desde logo marcada pela possibilidade de encontro entre os jazzmen nacionais e estrangeiros, tendo sido uma autêntica escola para músicos como, entre outros, Rão Kyao, Zíngaro, Sarbib, Manuel Jorge Veloso, Canelhas e Bernardo Moreira.
O primeiro festival
Em Novembro de 1971, graças ao espírito empreendedor e visionário de Luís Villas-Boas, Cascais acolheu o primeiro Festival Internacional de Jazz realizado em Portugal, esgotando o Pavilhão do Dramático com cerca de 10 000 pessoas ansiosas por participar num evento ímpar. Tendo por base o modelo do prestigiado Festival de Jazz de Newport e o apoio do seu mentor, George Wein, foi possível apresentar um cartaz de excelência, onde cabiam nomes como Miles Davis, Ornette Coleman, Phill Woods, Dexter Gordon, Joe Turner e o sexteto «Giants of Jazz». Deste combo faziam parte tão só Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Art Blakey, Sonny Stitt, Kai Winding e Al McKibbon...
Em 1974, Villas Boas passou a contar com o apoio de Duarte Mendonça, o qual, sem saber, viria a continuar até hoje a herança e o legado do primeiro, contribuindo para a democratização desta forma de arte musical e para a sua afirmação no Concelho de Cascais.Jazz Num dia de Verão e Estoril Jazz
Em 1982, por iniciativa de Mendonça, nasceu o «Jazz Num Dia de Verão», rompendo com a tradição invernia do jazz em Cascais, e, em 1989, o «Estoril Jazz», festival que completa este ano 15 anos de ininterrupto swing ao mais alto nível. Pelo Parque Palmela e pelo Casino Estoril passaram os grandes nomes do jazz, desde Joe Williams a Joe Henderson, Ray Brown, Wayne Shorter, Chet Baker, Lionel Hampton ou a mais recente revelação do jazz, a cantora e pianista Diana Krall. E ao fim de quatro décadas o jazz teima em não abandonar Cascais e Cascais também não parece interessada em deixar de fazer ecoar pelo Concelho os seus sons, a bem da cultura, do turismo e do prestígio alcançado internacionalmente.
A ocorrência este ano do Cool Jazz Fest, evento que mistura jazzmen com fado e música brasileira, confundindo o público e degradando a palavra jazz, é um desafio que o Estoril Jazz terá de superar, como aliás já superou tantos outros bem mais difíceis de contornar. Assim a Junta de Turismo da Costa do Estoril perceba a mais valia deste histórico festival e a sua projecção nacional e internacional, separando claramente as águas e investindo num evento que ao longo dos anos já provou sobejamente no terreno a sua qualidade e integridade.
O contrário disto seria como, metaforicamente, deitar abaixo a Cidadela para aí construir um novo quartel sem contornos claros de utilidade.
João Moreira dos Santos, autor do livro «Jazz em Portugal no Século XX» (em preparação). www.bizarrologia.com/jazz.html
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