Bernardo Moreira (presidente do HCP) e José Soares (antigo director do HCP)
Foi ontem inaugurada a exposição do 60.º aniversário do Hot Clube, mostra que tem o título de Prelúdio para um museu já que antecipa o que poderá ser um dia a Casa do Jazz em Portugal, naturalmente sediada nas instalações deste histórico clube.
A exposição decorre até ao dia 10 de Junho na Fábrica do Braço de Prata, em Cabo Ruivo, sendo a primeira vez que o Hot Clube apresenta publicamente peças do seu arquivo e do espólio de Luís Villas-Boas.
Embora francamente limitada, em face da escassez do espaço disponível e nunca da dimensão do espólio (que dava para ocupar a totalidade da Fábrica do Braço de Prata...), esta é uma exposição plena de interesse que exibe cartazes, programas de concertos, autógrafos e vários documentos e peças realmente desconhecidos do público, nomeadamente uma carta da PIDE a Villas-Boas.
Vejamos, pois, alguns dos elementos expostos que nos chamaram mais a atenção.
Concerto de Sidney Bechet (Lisboa, 1955)
Foto JNPDI!JMS
Em 28 e 29 de Novembro de 1955, Villas-Boas, respondendo a um desejo de Vasco Morgado (empresário do teatro), ajudou a trazer o lendário Sidney Bechet ao teatro Monumental, consumando assim o primeiro concerto de jazz realizado em Portugal por um dos grandes nomes deste género musical. É precisamente um destes dois concertos que é possível ouvir pela primeira vez (recuperado das várias gravações do espólio de Villas-Boas) nesta exposição, o que foi para nós um grande acontecimento, pois temos vindo a fazer investigação sobre este evento sem imaginar que o mesmo tinha sido gravado.
JNPDI! dá-lhe a ouvir em primeira mão esta gravação inédita, cuja qualidade só não é melhor porque gravámos directamente do i-pod, com muito barulho de fundo da sala da exposição. A voz inicial é, claro, de Villas-Boas.
Cartazes
Foto JNPDI!/JMS
Entre os vários cartazes expostos, o que causou mais interesse foi o desenhado por Julião Sarmento para o Cascais Jazz de 1973, peça que resultou de um concurso aberto por este festival, mas que nunca chegou a ser utilizada. Veja-se como o artista plástico expõe criativamente a palavra Jazz utilizando linhas verdes e pretas.
Livro de Honra do Hot Clube
Foto JNPDI!/JMS
Outra das peças interessantes desta exposição é um pequeno Livro de Honra do Hot Clube onde ficaram registados os testemunhos de alguns dos músicos que por lá passaram. Tal é o caso de Sidney Bechet, Dexter Gordon e Sarah Vaughan (que não cantou, porque o agente artístico de que se fazia acompanhar não deixou, mas tocou piano).
Primeiros Estatutos e Logotipos
Foto JNPDI/JMS
Foto JNPDI!JMS
Foto JNPDI!JMS
Carta da PIDE
Foto JNPDI/JMS
Em 1956, Luís Villas-Boas trouxe à discoteca Ronda (em Cascais) um quinteto liderado pelo trompetista Dizzy Reece, o que lhe valeu receber uma carta da PIDE em que se podia ler:
Queira V. Exa. informar esta directoria se espera a vinda de alguns estrangeiros de nomes [...]. Em caso afirmativo, deve indicar motivos da vinda e tempo de permanência que pretende ter em Portugal.
Deve ainda V. Exa. apresentar uma declaração em papel selado com a assinatura reconhecida, responsabilizando-se pela idoneidade moral e política do mesmo, comprometendo-se a que saia do País finda a autorização de permanência que lhe for concedida, se esta Polícia assim o determinar.
Revistas e livros
Foto JNPDI/JMS
Foto: JNPDI/JMS
Foto JNPDI/JMS
Programas de concertos
Paulo Gil
Foto JNPDI/JMS
Discos
Foto JNPDI/JMS
Foto JNPDI/JMS
Deixámos para o fim outra peça interessante desta exposição: o bilhete de avião que trouxe a Portugal, em 1956, a orquestra de Count Basie, mais uma vez com o empenho de Villas-Boas e do Hot Clube de Portugal.
Foto JNPDI/JMS
CONCERTO INAUGURAL
Foto JNPDI/JMS
A inauguração da exposição foi assinalada com um concerto pelo Septeto do Hot Clube de Portugal.
Ironicamente, à mesma hora que decorria este concerto, a sala da exposição do Hot Clube era tomada pelo Fado, talvez um sinal de que ambos os géneros musicais encontraram uma forma saudável de conviver.
Foto JNPDI/JMS
E assim foi que entre fotografias de Armstrong, Basie e outros gigantes do jazz se ouviu o fado!
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