2 de maio de 2008

Novos CD's no mercado

JNPDI! dá hoje conta de algumas novidades discográficas que temos recebido para recensão crítica.

Ella Fitzgerald & Oscar Peterson: JATP Lausanne 1953

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Já noutra ocasião falámos aqui em JNPDI! da excelente colecção Swiss Radio Days criada pela editora TCB para divulgar gravações antológicas realizadas pela Swiss Radio entre os anos 40 e os anos 60.

É precisamente uma dessas gravações de excepção que contém este volume 15, disco que regista um concerto realizado em Março de 1953 por Oscar Peterson e Ella Fitzgerald em Lausanne.

Ella e Peterson estavam no topo das suas carreiras e Norman Granz juntou-os em mais uma digressão do seu Jazz At The Philharmonic, acompanhados por Barney Kessel (guitarra), Ray Brown (contrabaixista que neste período estava casado com Ella, embora o divórcio estivesse preso por escassos meses) e J. C. Heard (bateria).

o repertório é como sempre preenchido pelos melhores standards, incluindo o uptempo "Lady Be Good" (cenário para Ella evidenciar o seu inconfundível scat singing), a balada "Someone to watch over me" e uma bela versão de "Why don't you do right", canção celebrizada por Peggy Lee, mas que Ella tão bem sabe interpretar e reinventar. E, claro, não podiam faltar o "A Tisket - A tasket", tema que foi um grande êxito discográfico da cantora nos idos de 1938, e o sempre interessante "St. Louis blues". Em "Lester Leaps in", Lester Young e Charlie Shavers juntam-se ao quinteto, enriquecendo este registo que apresenta ainda cinco temas instrumentais protagonizados pelo trio de Oscar Peterson.

Em resumo, este pode não ser um dos discos fundamentais da longa discografia de Ella, mas é sem dúvida uma boa fonte de prazer auditivo daquela que foi uma das grandes vozes do jazz e daquele que foi um dos seus mais importantes e representativos pianistas.

Marian McPartland: Twilight World

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Através deste CD, a pianista Marian McPartland celebrou no passado dia 20 de Março o seu 90.º aniversário, ela que é um caso raro de longevidade no jazz, só tendo praticamente par em Hank Jones.

Desengane-se, porém, quem pensa que McPartland (viúva de Jimmy McPartland, músico que subsituiu Bix Beiderbecke nos Wolverines em 1925!) ressurge da obscuridade com este registo discográfico, já que a pianista tem estado sempre activa através de um programa de rádio que apresenta desde 1979 na NPR, o Marian McPartland's Piano Jazz. E, por outro lado, não tem parado de gravar desde que em 1951 lançou o seu primeiro LP.

Twilight World é editado pela Concord (é o 21.º que a pianista grava para esta editora) e nele participam, além de McPartland, o contrabaixista Gary Mazzaroppi e o baterista Glenn Davis. O repertório é quase tão abrangente como a vida de McPartland, variando entre temas de Irving Berlin ("How deep is the ocean") e de Ornette Coleman ("Lonely woman") e compreendendo ainda originais da pianista, como é o caso do belo e cativante tema que dá o título a este CD e de "In the days of our love" e "Stranger in a dream". A estes temas juntam-se ainda outros, como o belo "Alfie" (de Burt Bacharach), e "Blue in green", de Miles Davis e Bill Evans.

Este é o disco certo para quem gosta de um bom trio de piano, com umaforte componente melódica e de tempos lentos e médios. É o nosso caso.

e.s.t.: Live in Hamburg

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De vez em quando aparecem discos como este, discos que são autênticas pérolas e cujo prazer auditivo que proporcionam é imediato e eterno. Claro que escrever tais palavras sobre um disco pode ser arriscado, o que não é o caso aqui. Este é sem dúvida um dos melhores registos deste super trio do pianista Esbjörn Svensson e não é por acaso que o jornal The Guardian dele publicou a seguinte crítica:

“Anybody who wants the quintessential Esbjörn Svensson gig can tick this CD as a must”

Live in Hamburg foi gravado nesta cidade alemã em 22 de Novembro de 2006, no âmbito da digressão do disco Tuesday Wonderland, e para registar as cerca de duas horas do concerto realizado no Laeiszhalle foram necessários dois discos. Mas para fazer a música que aqui se ouve foram necessários três músicos no seu melhor: Esbjörn Svensson (piano), Dan Berglund (contrabaixo) e Magnus Ostrom (bateria).

Este é um dos grupos de jazz contemporâneos mais importantes e este CD dá bem uma ideia de como o trio soa ao vivo e de tudo (ou quase tudo) o que tem para oferecer. Imprescindível, dizemos nós...

Richard Bona: Bona makes you sweat

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Richard Bona é um dos baixistas eléctricos mais aclamados da nova geração, ele que tem as suas raízes no grande Jaco Pastorius.

Nascido nos Camarões, em 1967 (facto que não é de todo irrelevante citar para a análise deste CD), numa família com fortes tradições musicais, mas não abastada, Bona teve de construir a sua própria guitarra, cujas cordas foram improvisadas com os cabos dos travões de uma bicicleta!

Em 1980, um francês abriu um clube de jazz num hotel próximo da aldeia de Bona e desafiou-o a tocar este desconhecido género musical e foi através da audição da magnífica colecção de 400/500 Lp's de jazz do referido empresário que Bona aprendeu as artes do ofício. O primeiro album que estudou foi precisamente um da autoria de Jaco Pastorius, o que explica que a sua sonoridade seja muito inpirada na deste músico, pelo menos nos primeiros discos que lançou.

A morte do seu pai levou-o a decidir aventurar-se em Paris, cidade em que aterrou aos 22 anos. Ao fim de dois meses já dividia o palco com músicos como Didier Lockwood, Marc Ducret, Manu Dibango e Salif Keita. Estudar era, porém, imperativo, e durante 7 anos dedicou-se às obras de Miles Davis, Chet Baker e Ben Webster.

Por sugestão do guitarrista de Mike Stern, viria a mudar-se para Nova Iorque, a cidade dos músicos e da música. Estávamos então em 1995. Pouco tempo depois gravava e tocava com Joe Zawinul, a que se seguiriam parcerias com músicos como Larry Coryell, Michael, Steve Gadd, Pat Metheny, George Benson, Bobby McFerrin, Branford Marsalis e Chaka Khan.

Há precisamente 10 anos, Bona gravava o seu primeiro CD para a Columbia, intitulado Scenes from my life, e assim chegamos ao presente CD, o seu 7.º como líder. Este CD foi gravado ao vivo em Budapeste, em Julho de 2001, e apresenta não só o baixista, mas também o vocalista Richard Bona, músico de quem o Los Angeles Times publicou a seguinte crítica:

"Imagine an artist with Jaco Pastorius's virtuosity, George Benson's vocal fluidity, João Gilberto's sense of song and harmony, all mixed up with African culture. Ladies and gentlemen, we bring you Richard Bona!"

O que se passa neste Bona makes you sweat é uma mistura das raízes africanas de Bona com as várias influências da música ocidental a que esteve exposto desde cedo, resultando num trabalho interessante e multifacetado. Vale, pois, a pena ouvir este projecto de boa música do Mundo realizado por um músico com sólidos conhecimentos musicais.

Franco Ambrosetti: The wind

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The wind é o título do mais recente disco do trompetista suiço Franco Ambrosetti e deriva de um tema composto por Russ Freeman e interpretado por Chet Baker no LP Chet Baker with Strings, registo lançado em 1952. Ambrosetti tinha então 11 anos, mas o fascínio por este tema manteve-se até ao presente, razão suficiente para agora o reinventar.

Este é um disco muito consistente e com excelentes interpretações por Ambrosetti e pelos músicos que o acompanham, com destaque para o pianista Uri Caine e o contrabaixista Drew Gress, a que se junta ainda Clarence Penn (bateria). O repertório é constituído por originais de Ambrosetti e Caine, mas também por um tema de Sonny Rollins, o incrível "Doxy".

Embora Ambrosetti seja pouco conhecido em Portugal, a sua carreira está indelevelmente ligada ao nosso país e particularmente ao Hot Clube, onde nos anos 60 participou com o seu pai - o saxofonista Flavio Ambrosetti - numa histórica jam-session com músicos portugueses, sessão de que, como nos confidenciou recentemente, ainda guarda franca memória, assim como da ditadura que então se vivia por cá...

Helen Merrill: Dream of you

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A Fresh Sound Records, editora discográfica criada por Jordi Pujol, em Barcelona, acaba de publicar um CD que reúne dois LP's da cantora Helen Merril gravados nos anos 50: Dream of You e Merrill at Midnight.

Ambos os trabalhos se sucederam ao disco que a cantora gravou em 1954 com o trompetista Clifford Brown. O primeiro é, sem dúvida, o mais significativo, pois juntou Merrill a Gil Evans, que se ocupou dos arranjos dos temas. Sobre este disco, ouvimos Merrill quando há dois anos a entrevistámos para o site Allaboutjazz, que então respondeu assim quando lhe perguntámos de quem tinha sido a decisão de contratar Evans:

"It was my decision and [producer] Bob Shad was horrified because Gil was famous for using lots of studio time. I still wanted Gil and Gil never forgot my loyalty to him. He was a living treasure and we all loved him. Miles and Gil had a very caring relationship. I think he saw Gil as a super father figure. Yes, I told Miles about my recording and he said simply: “I think I will call Gil and record with him again...”"

O resultado desta colaboração foi um disco muito aclamado e que se ouve com grande prazer ainda hoje em dia, volvidos que estão mais de 50 anos, para o que muito contribuem as participações de instrumentistas como Hank Jones, Art Farmer e Oscar Pettiford. Entre os temas interpretados, salientam-se "People will say we're in love", "By myself", "Dream of you", "I'm a fool to want you" (tema que tão bem casa com a voz sussurrada de Merrill) e "I'm just a lucky so and so".

O segundo disco foi gravado seis meses depois deste e contou com os arranjos de Hal Mooney e uma selecção de temas de Tin Pan Alley, nomeadamente o pouco conhecido "After you, who", de Cole Porter, que Herb Geller tão bem contextualizou e tocou no concerto do 4.º aniversário de JNPDI!


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