BD Jazz ou Let's Jazz, eis a questão!
Espero que este post possa ser útil a quem, não tendo possibilidades económicas de comprar ambas as colecções publicadas pelo DN e pelo Público, necessite de alguma "orientação" para se decidir pela que melhor se lhe adequa.
Dito isto, importa responder à seguinte interrogação: não podendo comprar ambas as colecções destes jornais (BD Jazz e Let's Jazz, respectivamente) qual a mais indicada para mim?
Comecemos pelo projecto do DN...
Confesso que estava com receio que esta BD Jazz incorresse no mesmo "pecado" de outras edições que apresentam grandes nomes do jazz, mas com uma qualidade sonora absolutamente lamentável, normalmente utilizando gravações antigas porque já isentas do pagamento de direitos de autor.
Porém, esta BD Jazz que o DN tem vindo a divulgar é uma surpresa pela positiva. O que se tinha constatado em Ray Charles é agora confirmado neste segundo volume, dedicado a Ella Fitzgerald. A qualidade das gravações é boa, a selecção dos temas é interessante e, claro, só peca por não permitir acompanhar a carreira global dos artistas. Na verdade, no caso de Ella Fitzgerald as gravações apresentadas centram-se exclusivamente nos anos 40 (2.ª metade) e 50 (início), o que deixa de fora o início da sua carreira (o primeiro disco foi gravado em Junho de 1935, com Chick Webb) e os melhores anos, que começam precisamente a partir de meados dos anos 50 (Norman Granz torna-se seu empresário somente a partir de 1955 e os célebres songbooks começam a sair um anos depois).
Outra das canções que fica de fora é "A Tisket, A Tasket", o tema que projectou Ella para a fama. Gravado em 1938, por uma jovem Ella de 21 anos, vendeu 1 milhão de exemplares e esteve no topo das tabelas durante 17 semanas...
[Ella interpreta "A Tisket, A Tasket" no filme "Ride'Em Cowboy", de 1942]
Por outro lado, a BD apresentada peca um pouco pelo minimalismo, mas ainda assim não deixa de ser um trabalho criativo interessante e digno de apreciação positiva. A opção dos editores, pelo que vimos até agora, parece ter sido apresentar apenas os factos mais marcantes do início da carreira de cada um dos músicos retratados, o que é legítmo e um critério como outro qualquer. Claro que preferíamos uma BD que acompanhasse os artistas ao longo da sua carreira, mas isso teria outros custos...
Falemos agora do Público...
A meu ver, a colecção do Público é mais indicada para quem não tem grandes conhecimentos de jazz e pretende uma exposição genérica a esta forma de arte, tomando contacto com a sua história, diversas correntes e com um leque diversificado de músicos. É também indicada para quem já tendo alguns conhecimentos de jazz pretende agora alargar os mesmos, podendo, por um preço acessível, conhecer a obra de músicos que desconhecia.
Quanto à colecção do DN parece-me mais indicada para especialistas e cleccionadores porque (e atenção!) deixa de fora muitos dos momentos mais marcantes de cada jazzman (o que não é grave porque este público já os conhece), não permite situar os artistas nas diversas correntes do jazz (idem idem) e a grande mais valia que apresenta é realmente acrescentar o aliciante da BD. Não quer isto dizer que um leigo quanto ao jazz não possa tirar daqui grande prazer auditivo, entenda-se, mas tão só que esta colecção não nos parece tão interessante para ele como a do Público, que é muito mais abrangente e histórica do jazz em si, sem deixar de sublinhar os seus principais intérpretes.
Ou seja, se tivesse de optar o que faria era comprar a Let's Jazz e adquirir pontualmente os coleccionáveis da BD Jazz que tratassem de jazzmen que me interessassem particularmente.
Nota histórica
A propósito do volume sobre Ella Fitzagerald publicado na BD Jazz do DN, convém referir algo que não é dito na história da sua actuação na noite de amadores do Apollo Theatre.
É que a canção que Ella cantou (quando decidiu à última hora não dançar, mas sim cantar) foi "Judy", de Hoagy Carmichael. Depois de um intenso aplauso, Ella cantou "The Object of My Affections" em encore.
Já agora, na banda que acompanhou Ella nessa noite (assim como todos os concorrentes) estava o saxofonista Benny Carter, que ficou de tal forma bem impressionado com a sua prestação que começou a apresentá-la às pessoas certas para lançá-la profissionalmente.
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