Ricardo Toscano: “O meu sonho é ser um grande do Jazz”
Ricardo Toscano na 8.ª Festa do Jazz do S. Luiz
Ricardo Toscano na 8.ª Festa do Jazz do S. Luiz
Foto de JMS/JNPDI
Ricardo Toscano é um dos mais jovens talentos do Jazz em Portugal. Com apenas 16 anos, acaba de ser admitido como sobredotado na licenciatura em jazz da Escola Superior de Música de Lisboa e em Abril passado foi distinguido na Festa do Jazz do S. Luiz com a menção honrosa como saxofonista-alto. JNPDI foi conhecer o seu percurso musical e confessa-se impressionando sobretudo com a sua personalidade e a sua sensibilidade para o que é a música e ser-se músico… Vale a pena lê-lo nesta que é a sua primeira entrevista.
JNPDI: Este ano tem sido excepcional para ti: foste premiado na Festa do Jazz, participaste na LJSS e acabas de ser admitido na licenciatura em jazz da ESML… Onde pensas chegar se com apenas 16 anos já tens este palmarés todo?
Ricardo Toscano: Sim, este ano tem sido muito bom e bastante produtivo, cheio de boas oportunidades que não seriam possíveis sem o apoio do professor de saxofone que tive neste último ano, o Desidério Lázaro, que foi o primeiro a incentivar-me para fazer a candidatura à ESML. E, claro, o apoio dos meus pais: nestas situações acho que o mais importante é ter uma família que apoie um filho com o sonho de ser músico. E como eu gosto de pensar grande, tenho em mente objectivos como ir estudar para os E.U.A., para umas das melhores universidades, como a Berklee, a New School, ou o New England Conservatory. O [meu] maior sonho é conseguir ser um grande e estar rodeado das pessoas de que mais gosto.
JNPDI: Pensas profissionalizar-te um dia como músico de Jazz?
RT: Sim, esse é o principal objectivo.
JNPDI: Que tipo de sonoridade e ambiente musical gostarias de apresentar ao público um dia? Tens algum ambiente musical que te inspire particularmente ou que gostasses de realizar como músico?
RT: Gostava de poder apresentar os meus originais e num futuro mais distante gostava de explorar a música portuguesa para ver no que poderia dar. Mas num futuro não tão distante gostava mesmo, e é também um sonho, de gravar e tocar com orquestra de cordas – fazer uma recriação do CD do grande Charlie Parker com cordas (Bird with strings).
JNPDI: Achas que a música do Parker ainda é atractiva para a tua geração, considerando que o estilo (o Bebop) que ele nos legou já tem sete décadas e tu és um jovem de 16 anos a viver numa sociedade bem diferente da do tempo dele?
RT: Pessoalmente, é a minha linguagem e música favorita, mas acredito que não seja a mais atractiva para a minha geração, mas já convivo com essa música desde de sempre e tornou-se bastante natural perceber a linguagem. Faz parte do início de uma grande tradição do jazz que na minha opinião deve ser sempre recordada, e para nós, como músicos, aumenta bastante o nosso vocabulário musical se aprendermos a tocar o jazz mais tradicional e é também o que procuro na minha formação como músico.
Combo da Escola de Jazz do Hot Clube na 8.ª Festa do Jazz do S. Luiz
Foto de JMS/JNPDI
JNPDI: O que te motivou para o saxofone?
RT: O que me motivou mesmo a aprender saxofone foi sem dúvida o meu pai, que também é saxofonista. Por isso, vivi sempre num ambiente musical e com os instrumentos à minha volta e um leque de CD's, que ouvi desde muito cedo.
JNPDI: Como e onde aprendeste o instrumento?
RT: Desde os meus oito anos que toquei numa banda filarmónica e lá aprendi clarinete e aos 13 anos entrei para o Conservatório Nacional, em Lisboa, e estudei lá dois anos. Depois, aos 15 entrei para a Escola Professional Metropolitana, onde ainda vou estar mais este ano que vem para concluir o 12º ano. E estive este ano na escola de jazz Luís Villas-Boas (Hot Clube) com o professor Desidério Lázaro, a quem dou o meu sincero e enorme agradecimento.
JNPDI: O que te levou a decidir ir para a escola do Hot Clube?
RT: A minha ida para a escola do Hot foi por várias razões. Uma delas, claramente a sua reputação e elenco de professores. Outra razão foi porque estava a estudar na Escola Profissional Metropolitana (que ainda frequento) e que por acaso [ambas] coexistem no mesmo edifício. E outra razão é porque sabia que poderia vir a abrir muitas portas porque os professores do Hot são alguns dos melhores músicos do momento em Portugal.
JNPDI: O antigo presidente do Hot, Eng.º Bernardo Moreira, conta que um dia estava no seu gabinete e ouviu o “Charlie Parker a tocar numa sala ao lado” e foi ver quem era… e eras tu. Sabias disso? É um elogio tremendo!
RT: É certamente um grande elogio. Sei que ele foi à minha sala ver quem era, mas não sabia da parte do "Charlie Parker a tocar na escola", mas agora recordo-me que nesse momento estava a estudar um tema do Charlie Parker e ele entrou pela sala adentro... Confesso que me senti um pouco nervoso porque nunca tinha falado com o Engº Bernardo Moreira - uma pessoa com um grande historial no Jazz como ele e que conviveu com os grandes nomes do Jazz - e de repente ele entra pela sala adentro e eu até fiquei um pouco nervoso e envergonhado, ainda por cima nos meus primeiros dias na escola. Mas é um elogio que nunca hei-de esquecer.
JNPDI: Como chegaste ao Jazz e com que idade?
RT: Foi mais o jazz que chegou a mim: quando eu era bebé o meu pai adormecia-me com CD's de Jazz, como Miles Davis, John Coltrane, Bill Evans, Cannonball Adderley, etc...
JNPDI: Neste momento, quais são as tuas referências no Jazz nacional e mundial?
RT: Neste momento cá em Portugal há cada vez mais referências para mim, como por exemplo o Nuno Ferreira, o André Fernandes, o Mário Laginha, o João Moreira, Carlos Bica, e muitos outros... A nível internacional, o Chris Potter, o Herbie Hancock, Danilo Perez, Roy Hargrove, Dave Holand, entre muitos outros...
JNPDI: Como ouvinte de Jazz, ainda compras CD’s ou já ouves tudo em formato digital?
RT: Tenho muitas coisas em formatos digitais, mas gosto sempre de comprar CD’s. É outra sensação...
JNPDI: Tens uma boa colecção de gravações de Jazz?
RT: Sim, sem dúvida.
JNPDI: Qual o teu disco favorito?
RT: Tenho vários, mas este foi realmente o primeiro que ouvi e ainda hoje deliro a ouvi-lo, como se fosse das primeiras vezes. Chama-se Know what I mean?, do Cannonball Adderley. Também o Kind of Blue, de Miles Davis.
Ricardo Toscano com Danilo Perez na LJSS'10
Foto de JMS/JNPDI
JNPDI: Como foi para ti participar este ano na LJSS?
RT: Foi uma oportunidade única e fantástica poder conviver e trabalhar com pessoas e músicos daquele nível e deram-nos tanta informação e tantas maneiras de a usar... Foi de longe o melhor workshop em que algumas vez participei. Foi uma grande experiência de vida. A lição que tirei do curso é que a nossa música vem da nossa pessoa.
JNPDI: O que é o Jazz para ti?
RT: O Jazz para mim... é simplesmente a nossa maneira de poder contar a nossa vida na nossa maneira de tocar. É uma forma de liberdade que ninguém nos tira enquanto estamos em cima de um palco a tocar e a mim, pessoalmente, faz-me sentir realmente bem, relaxado, e esquecer todas as coisas más da vida. É também a liberdade musical de exprimir as nossas ideias e definirmos a nossa identidade e personalidade como pessoas e como músicos.
JNPDI: Como te definirias pessoalmente e como músico?
RT: Essa é dificil, mas, tanto como pessoa e como músico, procuro sempre melhorar em todos os aspectos, sempre procurando algo novo e de pessoal para me poder dar novas ferramentas, para poder aprender mais e ser cada vez melhor em ambos aspectos (musicais e pessoais). É tudo uma jornada grande e sinceramente acho que vou no bom caminho.
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