Jean-Pierre Gebler e Luís Sangareau, Barcelona. Fonte: Augusto Mayer.
Faleceu hoje, com 85 anos, Luís Sangareau, um dos primeiros bateristas de jazz em Portugal - sem dúvida o mais influente da sua geração - e um dos mentores, com Luís Villas-Boas, da fundação do Hot Clube de Portugal. O músico, e também artista plástico, encontrava-se hospitalizado há 15 dias e foi vítima de enfarte agudo do miocárdio.
Filho do então Chanceler da Embaixada de Espanha em Portugal, Luís Sangareau nasceu em Lisboa a 18 de Novembro de 1923. A sua paixão pelo jazz, partilhada por três dos seus seis irmãos, e a amizade com Luís Villas-Boas - que conheceu em meados de 1944 - rapidamente transformaram a sua casa num centro de audição de discos e improvisação instrumental. Aí se reunia, assim, o primeiro grupo organizado de amadores de jazz em Portugal, de que faziam ainda parte, entre outros, Gérard Castello-Lopes, Augusto e Ivo Mayer e Manuel Menano.
O seu nome tornou-se referencial no jazz quando em Novembro de 1945 participou na primeira jam-session realizada em Portugal, no Instituto Superior Técnico, onde tocou com José Puertas (violinista espanhol), Nereus Fernandes, António Mendonça, Aleixo Fernandes e Fernando Freitas da Silva. Esta sessão marcou o arranque do programa radiofónico Hot Club, que Luís Villas-Boas manteve na rádio nacional ao longo de três décadas.
Carlos Menezes, Luís Sangareau e Viegas (1954). Fonte: Augusto Mayer.
Nos anos 40 e 50 esteve bastante activo como baterista, participando em inúmeras jam-sessions no café Chave d'Ouro (no Rossio), na sede do Hot Clube de Portugal e no Festival de Música Moderna. Ocasionalmente, acompanhou músicos estrangeiros de passagem por Portugal, de que é exemplo a jam-session organizada por Luís Villas-Boas em Fevereiro de 1953, para o programa Hot Club, transmitido em directo dos estúdios do Rádio Club Português (Parede).
A este propósito, JNPDI divulga hoje, em estreia absoluta, uma das faixas gravadas na referida sessão, na qual participam dois músicos brasileiros - Ary Magalhães (trompete) e Jadir (bateria) - e António José de Barros Veloso (piano), Bernardo Moreira (contrabaixo) e Luís Sangareau (percussão).
Depois de experiências na restauração - na Taverna Sevilhana e na boite Ronda - nos anos 60 Sangareau radicou-se em Espanha, em Ibiza, tocando com vários músicos de renome de passagem pela Península Ibérica, incluindo Tete Montoliu, Pony Poindexter e Perry Robinson. Este último recorda-o elogiosamente na sua biografia, comparando-o a um dos melhores bateristas de jazz de sempre: "O Luís tinha um bom feeling como o do Kenny Clarke". Este não era porém o único músico a admirá-lo, tal como Villas-Boas testemunhou pessoalmente: "Uma vez encontrei na América o Booker Ervin, um saxofonista que esteve em Barcelona, que me disse que conhecia o Sangareau perfeitamente, que gostava muito de tocar com ele porque era um músico que tocava bateria sem interferir".
Luís Sangareau e Barros Veloso (Estoril Jazz, 2006). Fonte: JMS/JNPDI
Barros Veloso, companheiro de inúmeras sessões musicais, amigo e médico, recordou-o hoje a JNPDI: "O Luís Sangareau foi o primeiro baterista de jazz em Portugal. Tinha um bom gosto e um sentido musical excepcionais. Era uma pessoa encantadora e como baterista marcou uma época".
1 Comments:
Tive o prazer de o conhecer pessoalmente, e apesar de ser um jovem , n consegui diferenciar a distancia de idade em nossos espiritos. Pelos breves momentos que partilhamos,nunca esquecerei de sua humildade e simplicidade, e a bela forma como vivia sua vida e partilhava seus conhecimentos. Compartilho os meus sinceros sentimentos para os que cá ficaram, familia e amigos, pois certamente sua energia é eterna.
Enviar um comentário
<< Home