Jeffery Davis: Haunted Gardens
Fonte: JMS/JNPDI, 2009.
Fonte: JMS/JNPDI, 2009.
O vibrafonista Jeffery Davis acaba de lançar o CD Haunted Gardens, o seu primeiro registo como líder. Quem o viu e ouviu em Abril passado no CCB, no Dose Dupla, em duo com Pascal Schumacher, conhece já a excelência deste músico, que está bem patente nesta gravação da TOAP em que é acompanhado por André Fernandes, Nelson Cascais e Marcos Cavaleiro. JNPDI aproveitou o “pretexto” e entrevistou-o.
JNPDI: Vamos começar pelo princípio porque o teu nome e apelido deixam entender que és estrangeiro. Para quem não te conhece, quais as tuas origens?
Jeffery Davis: Sou filho de pai canadiano e mãe portuguesa. Nasci no Canadá e vim para Portugal muito cedo com cinco anos, devido a um problema de saúde que era incompatível com o mau tempo canadiano.
JNPDI: A tua formação foi inicialmente clássica, no Conservatório Calouste Gulbenkian, em Aveiro, e na Escola Profissional de Música de Espinho. Como é que chegaste ao jazz?
JD: Cheguei ao jazz muito cedo ate antes de começar a estudar música, através de algumas gravações que o meu pai tinha em casa (sendo ele fã desse estilo) e de um professor de percussão que tive em Espinho, Mário Teixeira, que me incentivou bastante.
JNPDI: Quais eram as tuas grandes referências jazzísticas no início?
JD: Os mais antigos, sendo essas as gravações que o meu pai possuía na altura, Louis Armstrong, Lester Young, Miles Davis, John Coltrane, Milt Jackson, John Coltrane, Bill Evans, Bud Powel, Charlie Parker, mais tarde Pat Metheny, Lennie Tristano e Lee Konitz, entre muitos mais.
JNPDI: E actualmente, que músicos e projectos te seduzem mais?
JD: Existem vários, mas para nomear alguns: Brad Mehldau, Kurt Rosenwinkel, Mark Turner, Steve Nelson, Dave Holland, Ben Monder, Ethan Iverson, Chris Cheek, Keith Jarret e muitos, muitos outros.
JNPDI: Regressemos aos estudos… porque em 2006 terminaste o curso da Berklee College of Music com grande distinção. Como foi essa experiência?
JD: Foi bastante intensa e divertida, conheci muita gente incrível e toquei com grandes músicos.
JNPDI: Na tua opinião de ex-aluno, o que é que faz da Berklee a referência que é?
JD: A história da própria escola e o facto de ter músicos de todo o mundo. A variedade cultural daquele sítio é incrível.
JNPDI: Ainda no âmbito da formação, não posso deixar de referir alguns dos músicos com quem estudaste nos EUA: Joe Lovano, Gary Burton, Dave Liebman… O que retiveste deste contacto privilegiado, nomeadamente para as master classes que realizas em Portugal e no resto da Europa?
JD: Na minha opinião acima de tudo numa situação de master classes ou workshops o mais importante é transmitir inspiração e amor pela música, para que os alunos tenham essa mesma inspiração e vontade de estudar e aprender esta música. Acima de tudo, foi isso que esses professores me transmitiram.
JNPDI: Mudavas alguma coisa no ensino do jazz em Portugal?
JD: Acho que o ensino da música em Portugal está melhor do que nunca.
JNPDI: E na programação dos festivais?
JD: Mais músicos portugueses! Este país está repleto de músicos com um nível incrível e acho que os festivais nacionais deveriam apostar mais em músicos da nossa própria terra.
JNPDI: Vamos então ao Haunted Gardens, que é o principal motivo desta nossa conversa. O que pretendias comunicar com este título tão sugestivo?
JD: Nada de especial. É o titulo de um dos temas do disco, que foi escrito em casa dos meus pais onde a minha mãe tem um jardim belíssimo, e assim surgiu o tema. A razão pela qual dei este nome ao disco é que por algum motivo sempre achei a minha música algo sombria em contraste com a minha forma de ser, e daí achei este titulo adequado.
JNPDI: Como surgiu este projecto?
JD: O projecto tem vindo a surgir desde que cheguei dos EUA em 2006. Tem sido uma constante busca de música e músicos até chegar a um resultado que me satisfizesse musicalmente. O André, curiosamente, conheci nos EUA, e percebi logo que era um músico muito especial e sem dúvida alguém com quem eu iria querer gravar o disco. Quando cheguei a Portugal conheci e ouvi tocar o Nelson Cascais e imediatamente percebi que era ele o contrabaixista. O Marcos Cavaleiro foi o último a chegar à banda. A primeira vez que toquei com ele foi noutro projecto que não o meu, até acho que foi numa banda do André Fernandes, e foi fácil perceber que seria ele o baterista desta banda.
JNPDI: Foi difícil chegar até aqui?
JD: Mais músicos portugueses! Este país está repleto de músicos com um nível incrível e acho que os festivais nacionais deveriam apostar mais em músicos da nossa própria terra.
JNPDI: Vamos então ao Haunted Gardens, que é o principal motivo desta nossa conversa. O que pretendias comunicar com este título tão sugestivo?
JD: Nada de especial. É o titulo de um dos temas do disco, que foi escrito em casa dos meus pais onde a minha mãe tem um jardim belíssimo, e assim surgiu o tema. A razão pela qual dei este nome ao disco é que por algum motivo sempre achei a minha música algo sombria em contraste com a minha forma de ser, e daí achei este titulo adequado.
JNPDI: Como surgiu este projecto?
JD: O projecto tem vindo a surgir desde que cheguei dos EUA em 2006. Tem sido uma constante busca de música e músicos até chegar a um resultado que me satisfizesse musicalmente. O André, curiosamente, conheci nos EUA, e percebi logo que era um músico muito especial e sem dúvida alguém com quem eu iria querer gravar o disco. Quando cheguei a Portugal conheci e ouvi tocar o Nelson Cascais e imediatamente percebi que era ele o contrabaixista. O Marcos Cavaleiro foi o último a chegar à banda. A primeira vez que toquei com ele foi noutro projecto que não o meu, até acho que foi numa banda do André Fernandes, e foi fácil perceber que seria ele o baterista desta banda.
JNPDI: Foi difícil chegar até aqui?
JD: Digamos que foi um processo, um processo bastante divertido e bastante trabalhoso. Mas como dizem, quem corre por gosto não cansa. Também gostava de dizer que a existência da TOAP foi uma enorme ajuda. Foram eles que deram o voto de confiança que eu precisava para gravar o disco.
JNPDI: Excusado será dizer que obviamente concordas comigo na importância que atribuo à editora Tone of a Pitch (TOAP) na promoção do jazz português...
JD: Plenamente, acho incrivelmente notável o esforço e a dedicação que as pessoas na TOAP têm pelo jazz nacional. Acho que se não fossem eles o mundo jazzístico português estaria bem mais pobre.
JNPDI: Os oito temas presentes no CD são todos originais teus, o que confirma de facto algum afastamento dos standards (pelo menos em disco) por parte das novas gerações de músicos. Achas que os velhinhos standards do jazz e do American Songbook estão esgotados?
JD: Acho que não, de todo. Só que visto que venho de uma escola onde eles são a grande parte do reportório que se toca ,para mim era um desafio bastante refrescante escrever toda a música para o disco. Era uma oportunidade de também incluir as minhas outra influências que não o jazz na própria escrita. A ideia de escrever especificamente para cada músico também me agradava imenso. Tendo os músicos escolhidos, torna-se mais fácil escrever e bem mais divertido. Mas tenho grande vontade de num futuro próximo gravar um disco com standards.
JNPDI: Como é que compões? Isto é, qual é o processo e qual a inspiração?
JD: Não há grande processo, sento-me ao piano e escrevo o que ouço na cabeça. A inspiração vem de toda a música que ouço e todas as situações que vivo no dia a dia.
JNPDI: Se agora aterrasse aqui um ET e te perguntasse que música é esta que tocas no CD, o que lhe responderias? Não basta dizeres que é jazz porque desconfio que em Marte eles desconhecem o que por aqui fazemos musicalmente…
JD: Diria que era a minha música. Acho que a música tem um toque bastante pessoal com o qual eu me identifico imenso, que vai para além da necessidade de a catalogar. Tenho influências de todo o lado: música clássica, contemporânea, jazz, rock e outras. E acho a minha música uma mistura de todas essas influências.
Fonte: JMS/JNPDI, 2009.
JD: Plenamente, acho incrivelmente notável o esforço e a dedicação que as pessoas na TOAP têm pelo jazz nacional. Acho que se não fossem eles o mundo jazzístico português estaria bem mais pobre.
JNPDI: Os oito temas presentes no CD são todos originais teus, o que confirma de facto algum afastamento dos standards (pelo menos em disco) por parte das novas gerações de músicos. Achas que os velhinhos standards do jazz e do American Songbook estão esgotados?
JD: Acho que não, de todo. Só que visto que venho de uma escola onde eles são a grande parte do reportório que se toca ,para mim era um desafio bastante refrescante escrever toda a música para o disco. Era uma oportunidade de também incluir as minhas outra influências que não o jazz na própria escrita. A ideia de escrever especificamente para cada músico também me agradava imenso. Tendo os músicos escolhidos, torna-se mais fácil escrever e bem mais divertido. Mas tenho grande vontade de num futuro próximo gravar um disco com standards.
JNPDI: Como é que compões? Isto é, qual é o processo e qual a inspiração?
JD: Não há grande processo, sento-me ao piano e escrevo o que ouço na cabeça. A inspiração vem de toda a música que ouço e todas as situações que vivo no dia a dia.
JNPDI: Se agora aterrasse aqui um ET e te perguntasse que música é esta que tocas no CD, o que lhe responderias? Não basta dizeres que é jazz porque desconfio que em Marte eles desconhecem o que por aqui fazemos musicalmente…
JD: Diria que era a minha música. Acho que a música tem um toque bastante pessoal com o qual eu me identifico imenso, que vai para além da necessidade de a catalogar. Tenho influências de todo o lado: música clássica, contemporânea, jazz, rock e outras. E acho a minha música uma mistura de todas essas influências.
Fonte: JMS/JNPDI, 2009.
JNPDI: Tens 28 anos e este é o teu primeiro disco, que é editado numa época de crise para as grandes editoras tradicionais e em que se coloca muito seriamente a hipótese do fim do CD. Pensas que a tua carreira pode ser já feita sobretudo através de músicas compradas online?
JD: É uma possibilidade, mas para ser honesto não me incomoda. Eu compro a maior parte da música que ouço online, só por uma questão de conveniência, pois muitas vezes os discos que pretendo não existem nas discotecas neste país e para os encomendar demoraria uma eternidade. Esta é uma forma de estar tudo bastante mais acessível.
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