14 de maio de 2008

Miguel Zenón: Awake

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JNPDI! falou com o saxofonista Miguel Zenón a propósito do seu mais recente CD - Awake - e do concerto que dá em Julho próximo no Estoril Jazz. Conhecido pela sua ligação umbilical ao SF Jazz Collective, Zenón é considerado um dos expoentes da nova geração de saxofonistas e tem tido uma carreira de progressão meteórica desde que terminou (há escassos anos) os seus estudos na Berklee e na Manhattan School of Music. Entre os músicos com quem tem dividido o palco contam-se David Sanchez, Danilo Perez, Charlie Haden, Bobby Hutcherson, Ray Barretto, Steve Coleman e Branford Marsalis.

JNPDI: O que está implícito no título deste seu novo CD?

Miguel Zenón: Intitulei o CD de Awake porque quando fiz este disco estava a passar por um período de despertar em termos das minhas prioridades musicais e da minha visão pessoal da música e da vida...

JNPDI: Que sensações gostaria de despertar nos ouvintes?

MZ: Alegria e prazer.

JNPDI: Neste CD existem três peças intituladas "Awakening". As 10 faixas foram pensadas como um género de suite?

MZ: Não, muito embora o tema "Awakening" sirva como motivo central do disco. Todas as outras peças gravitam em torno desse tema central.

JNPDI: Este novo projecto encontra-o a fundir o som do seu saxofone com um quarteto de cordas. O que levou a esta decisão?

MZ: Inicialmente, antevi o tema "Lamamillia" com cordas e posteriormente decidi (uma vez que as cordas já iam ser utilizadas) escrever algo mais para as cordas para uma das versões do tema "Awakening".

JNPDI: Quão desafiador foi orquestrar as cordas?

MZ: Foi de certa forma um desafio porque eu não tinha qualquer experiência prévia na escrita para esses instrumentos e para esse formato. Fiz alguma pesquisa, estudei algumas partituras e falei com alguns instrumentistas de cordas para me preparar o melhor que podia.

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JNPDI: Neste CD recorre também ao Fender Rhodes [piano eléctrico], que parece estar novamente a ganhar alguma visibilidade no mundo do jazz. Qual foi o seu objectivo ao utilizar este instrumento eléctrico?

MZ: Tal como com as cordas, estava a procurar uma cor diferente... Tinha usado o Rhodes antes numa faixa do CD Ceremonial e queria incorporar o som também neste disco.

JNPDI: Temas como "Camarón", "Penta" e "The Third Dimension" usam aquilo que designa de "dimensões rítmicas da melodia". Como explica este conceito?

MZ: É basicamente um padrão rítmico que pode ser ouvido em dois ou mais compassos (ou dimensões) pela mudança da acentuação e pela subdivisão da batida.

JNPDI: O que sucede musicalmente em "Penta"? Tem uma belíssima linha melódica.

MZ: A canção "Penta" é baseada no número 15 (ou 5 e 3). Usa o conceito de dimensão rítmica na primeira secção para criar um género de contraponto rítmico entre os diferentes instrumentos da banda e na segunda secção evolui de curtos compassos para largos compassos (4+5+6=15)... A melodia foi escrita para ilustrar estas mudanças.

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JNPDI: O que procura quando compõe?

MZ: Ser honesto e representar as minhas ideias com clareza.

JNPDI: Este é o seu terceiro CD para a Marsalis Music. Como tem sido trabalhar com esta editora?
MZ: Trabalhar com o Branford [Marsalis] tem sido uma experiência fantástica. Considero uma honra que ele tenha pensado em mim para fazer parte da sua editora e estou muito grato por toda a confiança que ele colocou na nossa música.

JNPDI: Até que ponto se envolveu ele neste Awake?

MZ: Ele dá muita liberdade em termos de produção e não interfere de todo no processo musical. Dito isto, claro que ele tem muito a dizer em termos da qualidade global do som dos instrumentos e do produto final e investe muito tempo a garantir que tudo soa tão bem quanto possível.

JNPDI: Em Julho, vai tocar no Estoril Jazz, o mais antigo festival de Jazz em Portugal e um dos mais respeitados. O que pode o público esperar do seu concerto?

MZ: Sentimo-nos muito honrados por nos ter sido dada a oportunidade de levar a nossa música a um festival tão prestigiado. Vamos tocar música do Awake e provavelmente alguns novos temas em que temos estado a trabalhar. Estamos certos de que o público vai gostar.

JNPDI: Para quem não conhece o seu quarteto, quem são os músicos que tocam consigo ao vivo?

MZ: No Estoril Jazz o grupo será composto por Luis Perdomo (piano), Hans Glawischnig (contrabaixo) e Eric Doob (bateria).

JNPDI: É-lhe fácil gerir o seu envolvimento nos SF Jazz Collective com os seus próprios projectos?

MZ: Sim, porque as datas dos concertos do Collective são sempre organizadas com muita antecedência e ocorrem sempre no mesmo período do ano e por isso posso organizar os concertos do meu projecto em torno delas.


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