Herb Geller em Portugal
Foto de João Freire
Foto de João Freire
Publicamos hoje a reportagem do que foi o regresso a Portugal de Herb Geller, 45 anos depois da sua meteórica passagem por Lisboa e pelo Hot Clube de Portugal, regresso esse que só foi possível graças à nossa parceria com Maria Viana e à pronta adesão do Hot Clube de Portugal, nas pessoas de Bernardo Moreira e Luís Hilário.
6 de Outubro
Herb Geller actuou no Centro Cultural do Seixal a convite de Maria Viana e do seu trio, composto por Paulo Gomes (piano) e Zé Eduardo (contrabaixo).
Foto de João Freire
Foto de João Freire
Foto de João Freire
Foto de João Freire
Foto de João Freire
Foto de João Freire
8 de Outubro
O dia iniciou-se por uma visita a Duarte Mendonça, em cuja casa tocou no piano um tema interpretado por Billie Holiday.
Às 18h00 dirigiu na Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal um seminário sobre Técnicas de Improvisação, ao qual assistiram mais de 20 alunos, um número invulgarmente elevado de participantes.
O saldo foi extremamente positivo, como testemunharam vários dos alunos.
9 de Outubro
Depois de um almoço no Café do Chiado seguiu-se uma visita aos irmãos Augusto e Ivo Mayer para agradecer a fotografia que o primeiro tirara a Geller quando da sua actuação no Hot Clube de Portugal, em Janeiro de 1962.
A visita a alguns miradouros de Lisboa era incontornável, ainda que tenha de ter sido relativamente breve já que a hora do ensaio aproximava-se minuto a minuto.
18h00, tempo de dar início ao ensaio. Herb Geller chega ao Hot Clube de Portugal, onde já o aguardavam Filipe Melo, Bruno Santos, Demian Cabaud e Bruno Pedroso.
À porta do Hot estava a carrinha de exteriores da RDP, enquanto no interior se ia procedendo à montagem dos microfones.
Entretanto, Luís Hilário apresenta a Geller as memórias do Hot Clube, ou seja, algumas fotografias dos grandes nomes que por ali passaram ao longo dos mais de 50 anos de história desta mítica casa do jazz. Entre eles estão alguns dos seus amigos, como Lee Konitz e tantos outros.
É tempo de começar o ensaio...
Geller traz consigo uma série de pautas, todas elas numeradas, e limita-se a indicar aos músicos os números das canções que quer ensaiar. Alinhados os dois sets, segue-se um ensaio de cerca de duas horas em que os músicos acompanham Geller com enorme facilidade, que vai dando indicações sobre os seus arranjos para cada tema.
Na carrinha da RTP afina-se o som para a gravação de logo à noite, sob a orientação de Andrea Lupi, a produtora do programa a emitir pela RDP2.
O tema "Isfahan", de Billy Strayhorn, serve para testar o som de Herb Geller.
No Hot Clube o ensaio prossegue a bom ritmo.
Às 23h00 em ponto o autor do JNPDI! apresenta Geller e os músicos. É um momento histórico para este blogue.
O concerto tem então início e revela um grupo coeso liderado por um saxofonista cuja sonoridade límpida e plena em nada deixa adivinhar um músico de 78 anos e que sofre de asma...
Herb Geller irradia felicidade e a sua empatia com os músicos que o acompanham em palco é inegável.
Aqui deixamos ainda algumas magníficas fotografias que nos foram enviadas por Pedro Esteves, o leitor que foi contemplado com dois convites para este concerto.
Foto de Pedro Esteves
Foto de Pedro Esteves
Foto de Pedro Esteves
Foto de Pedro Esteves
10 de Outubro
No dia seguinte chegou a vez de nova despedida de Portugal, mas com regresso prometido para breve.
Balanço
Tempo de fazer o balanço deste concerto, para o que pedimos opinião a algumas figuras conceituadas do Jazz.
António José de Barros Veloso
Excelente concerto o de Herb Geller no Hot Club
Herb Geller continua em grande forma, tem uma sonoridade fantástica e, além da sua extraordinária simpatia, trouxe-nos o testemunho de quem está dentro da cultura do jazz, conviveu com os criadores desta música e tocou com eles.
O quarteto português esteve à altura das suas responsabilidades e mostrou que o jazz indígena tem nível internacional.
Dois destaques. O Bruno Santos está em grande forma e só se poderá disso espantar quem não o conhece como eu o conheço.
O Filipe de Melo, inferiorizado fisicamente por acidente recente, mostrou que quando se é músico de jazz como ele é, até dois dedos chegam para fazer música de rara qualidade.
Os temas foram bem escolhidos: uma excelente amostra de standards, alguns deles pouco conhecidos.
Eng.º Bernardo Moreira
JNPDI! Qual a sua opinião sobre o concerto de ontem?
BM: Excelente.
JNPDI! O que destacaria na prestação de Herb Geller?
BM: O som. O controlo da sonoridade, a frescura das ideias. A excelente forma.
JNPDI! E os músicos que o acompanharam?
BM: Seguros e confiantes embora um ou outro desfasados da linguagem.
JNPDI!: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
BM: Nenhum em especial. Mas gostei muito do “Come rain or come shine”.
Jorge Costa Pinto
JNPDI: Qual a sua opinião global sobre o concerto de ontem?
JCP: Excelente! Não tendo sido uma 'Jam Session', a atmosfera de tal pairou pelo Hot!
JNPDI: O que destacaria na prestação de Herb Geller?
JCP: A prestação de Herb G. foi algo que me surpreendeu pela 'positiva'. Não tanto a idade avançada (79 anos!), mas sim pela "entrega" à música, a energia, a sonoridade, as ideias musicais que 'mostraram' a sua matriz 'West Coast', talvez por isso a 'menos' bem conseguida (?) interpretação do tema de Parker "Confirmation"...
JNPDI: E nos músicos que o acompanharam?
JCP: Muito bons! os "Brunos", Santos e Pedroso, são elementos possuidores de boa técnica, e Pedroso um excelente 'Swinger', qualidade invulgar nos músicos europeus!!! Melo tem bom 'feeling', é muito jovem e o piano é instrumento que, para se dominar a técnica, requer muito trabalho... lá chegará! O baixista não desmereceu "quem" foi substituir!
JNPDI: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
JCP: Não um, mas dois... 'You Go to My Head' e o de Zoot Sims (Red Door ??).
Manuel Jorge Veloso
JNPDI: Qual a sua opinião global sobre o concerto de ontem?
MJV: Creio que foi um concerto muito interessante, não só em termos musicais mas também no que se refere ao calor humano que o rodeou, o que não é de estranhar: como se sabe, Geller esteve há 45 anos no mesmo Hot Clube e vários de nós que agora voltámos a estar presentes (e que com ele tocámos em 62) matámos as saudades que já tínhamos do excelente músico que Geller é mas também do homem aberto e nada arrogante que sempre foi e que já não víamos desde então.
JNPDI: O que destacaria na prestação de Herb Geller?
MJV: A força impressionante e a segurança técnica e de embocadura que ainda está presente na forma como toca, o que é tanto mais notável quanto Geller já vai a caminho dos 80, o que é obra! Enfim, um exemplo para todos nós...
JNPDI: E nos músicos que o acompanharam?
MJV: Estiveram quase todos bastante bem, sobretudo Bruno Santos (guitarra) cujos solos foram, regra geral, muito bem delineados e ultrapassando com naturalidade a leitura da cifra (nos temas que porventura conhecia menos bem) e dando ao discurso melódico uma lógica interna muito interessante. Infelizmente, Filipe Melo (pelas limitações físicas que o sacrificaram e penalizaram) não pôde estar sempre à altura do que pode e sabe, mas o certo é que, ao tocar naquelas condições, deu um assinalável exemplo de profissionalismo que é de realçar.
JNPDI: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
MJV: Houve um que sobretudo me impressionou em termos de coesão colectiva mas cujo título me não vem à memória... é da idade! Acrescentaria, assim, a nível individual, o solo absoluto de Herb Geller para «The Peacocks», essa notável composição de Jimmy Rowles.
Paulo Gil
JNPDI!: Qual a sua opinião global sobre o concerto de ontem?
PG: Uma noite bem especial, para recordar durante muito tempo. Bom jazz feito (com amor) por bons músicos.
JNPDI!: O que destacaria na prestação de Herb Geller?
PG: É impressionante que um homem, com quase 79 anos, asmático há longo tempo, consiga tocar saxofone alto daquela forma: notas límpidas, um fraseado pleno e fluente, um sopro robuso e enérgico.
JNPDI!: E nos músicos que o acompanharam?
PG: Do quarteto de apoio, são bons músicos de quem gosto muito e que respeito há anos. Vi-os (e ouvi-os) crescer de mês para mês, o que não é dizer pouco. Tocaram muito bem, com algum destaque para o Bruno Santos, que foi quase brilhante. Aliás, julgo que Herb Geller também sentiu isso.
JNPDI!: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
PG: Praticamente todos, mas o tema interpretado em saxofone solo, "The Peacocks", composto pelo pianista Jimmy Rowles, deixou-me particularmente impressionado.
Jorge Costa Pinto
JNPDI: Qual a sua opinião global sobre o concerto de ontem?
JCP: Excelente! Não tendo sido uma 'Jam Session', a atmosfera de tal pairou pelo Hot!
JNPDI: O que destacaria na prestação de Herb Geller?
JCP: A prestação de Herb G. foi algo que me surpreendeu pela 'positiva'. Não tanto a idade avançada (79 anos!), mas sim pela "entrega" à música, a energia, a sonoridade, as ideias musicais que 'mostraram' a sua matriz 'West Coast', talvez por isso a 'menos' bem conseguida (?) interpretação do tema de Parker "Confirmation"...
JNPDI: E nos músicos que o acompanharam?
JCP: Muito bons! os "Brunos", Santos e Pedroso, são elementos possuidores de boa técnica, e Pedroso um excelente 'Swinger', qualidade invulgar nos músicos europeus!!! Melo tem bom 'feeling', é muito jovem e o piano é instrumento que, para se dominar a técnica, requer muito trabalho... lá chegará! O baixista não desmereceu "quem" foi substituir!
JNPDI: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
JCP: Não um, mas dois... 'You Go to My Head' e o de Zoot Sims (Red Door ??).
Manuel Jorge Veloso
JNPDI: Qual a sua opinião global sobre o concerto de ontem?
MJV: Creio que foi um concerto muito interessante, não só em termos musicais mas também no que se refere ao calor humano que o rodeou, o que não é de estranhar: como se sabe, Geller esteve há 45 anos no mesmo Hot Clube e vários de nós que agora voltámos a estar presentes (e que com ele tocámos em 62) matámos as saudades que já tínhamos do excelente músico que Geller é mas também do homem aberto e nada arrogante que sempre foi e que já não víamos desde então.
JNPDI: O que destacaria na prestação de Herb Geller?
MJV: A força impressionante e a segurança técnica e de embocadura que ainda está presente na forma como toca, o que é tanto mais notável quanto Geller já vai a caminho dos 80, o que é obra! Enfim, um exemplo para todos nós...
JNPDI: E nos músicos que o acompanharam?
MJV: Estiveram quase todos bastante bem, sobretudo Bruno Santos (guitarra) cujos solos foram, regra geral, muito bem delineados e ultrapassando com naturalidade a leitura da cifra (nos temas que porventura conhecia menos bem) e dando ao discurso melódico uma lógica interna muito interessante. Infelizmente, Filipe Melo (pelas limitações físicas que o sacrificaram e penalizaram) não pôde estar sempre à altura do que pode e sabe, mas o certo é que, ao tocar naquelas condições, deu um assinalável exemplo de profissionalismo que é de realçar.
JNPDI: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
MJV: Houve um que sobretudo me impressionou em termos de coesão colectiva mas cujo título me não vem à memória... é da idade! Acrescentaria, assim, a nível individual, o solo absoluto de Herb Geller para «The Peacocks», essa notável composição de Jimmy Rowles.
Paulo Gil
JNPDI!: Qual a sua opinião global sobre o concerto de ontem?
PG: Uma noite bem especial, para recordar durante muito tempo. Bom jazz feito (com amor) por bons músicos.
JNPDI!: O que destacaria na prestação de Herb Geller?
PG: É impressionante que um homem, com quase 79 anos, asmático há longo tempo, consiga tocar saxofone alto daquela forma: notas límpidas, um fraseado pleno e fluente, um sopro robuso e enérgico.
JNPDI!: E nos músicos que o acompanharam?
PG: Do quarteto de apoio, são bons músicos de quem gosto muito e que respeito há anos. Vi-os (e ouvi-os) crescer de mês para mês, o que não é dizer pouco. Tocaram muito bem, com algum destaque para o Bruno Santos, que foi quase brilhante. Aliás, julgo que Herb Geller também sentiu isso.
JNPDI!: Que tema o impressionou mais favoravelmente?
PG: Praticamente todos, mas o tema interpretado em saxofone solo, "The Peacocks", composto pelo pianista Jimmy Rowles, deixou-me particularmente impressionado.
1 Comments:
Excelente reportagem. Quase senti o cheiro do Hot Clube. A Master Class também deve ter sido muito interessante.
Obrigado.
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