6 de setembro de 2007

Bruno Santos: Blindfolded by JNPDI!

Bruno Santos, guitarrista natural da ilha da Madeira e que acaba de lançar um novo disco (de que em breve falaremos), realizou para o JNPDI! um clássico blindfold test, ou seja, teve de identificar de ouvido vários guitarristas através de gravações em CD. A nossa selecção de intérpretes e temas foi o mais diversificada e abrangente possível e Bruno Santos passou com distinção neste primeiro "exame" que realizámos.

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1.º Disco: Live at the Circle Room
Guitarrista: Oscar Moore
Tema: "C Jam Blues"

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Bruno Santos: [aos 10 segundos] O tema já identifiquei: é o C Jam Blues. Isto soa-me ao trio do Oscar Peterson, com guitarra, contrabaixo e piano; é nesse espírito. Conheço alguns grupos que tocam nesta formação... pode ser o trio do Nat King Cole ou mesmo do Ahmad Jamal, que também tem um trio nesta formação, mas não estou a reconhecer os músicos. O trio que conheço melhor nesta formação é o do Oscar Peterson.

[Depois de saber] Cheguei lá um pouco por exclusão de partes porque já ouvi algumas coisas desta formação do Nat King Cole e sei que foi uma das grandes influências do Oscar Peterson. Tenho que arranjar isto!


2.º Disco: Am I Blue
Guitarrista: Grant Green
Tema: "For All We Know"

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Bruno Santos: Soa muito bem, muito bem. É um som característico de vários guitarristas... Gosto deste tipo de som. Será o Kenny Burrell? Isto é o tipo de som que tanto podia ser de um guitarrista de há 40 anos como de um actual. O Peter Bernstein tem um som muito semelhante a este. Grant Green? É um guitarrista que me faz lembrar muito o som do Peter Bernstein e ele diz que a maior influência dele é o Grant Green, mesmo a nível de som. Soa ao Grant Green só que neste disco sinto-o muito mais contido, muito controlado. Havia um disco dele que ouvia muito, chamado Solid, com uma data de estrelas: o McCoy Tyner, Joe Henderson, Bob Cranshaw. É um guitarrista que tem um grande sentido melódico e um som muito limpo.


3.º Disco: Beyond the Bluebird
Guitarrista: Kenny Burrell
Tema: " Barbados"

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Bruno Santos: [imediatamente] Isto é um tema do Charlie Parker. "Barbados"? Apesar de me soar a um guitarrista antigo soa-me a uma coisa mais recente, pelo som do contrabaixo. Agrada-me, mas gostei mais do ambiente do Grant Green. Senti que este apesar de tocar bem é um bocadinho trapalhão num ou noutro aspecto. O pianista é o Tommy Flanagan? O guitarrista soa-me ao Kenny Burrell... que é um guitarrista que às vezes tem mais olhos que barriga. O Grant Green, por outro lado, é um guitarrista um bocadinho mais contido.


4.º Disco: Chet’s Choice
Guitarrista: Philipe Catherine
Tema: "My Foolish Heart"

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Bruno Santos: Chet Baker. É o trio do Chet Baker no "My Foolish Heart". Gostei da introdução do guitarrista, foi uma bela introdução. Eu tenho um ou dois discos desta formação, em trio, com dois guitarristas diferentes. Acho que este será o Philipe Catherine. Não gosto de tudo dele, mas do que conheço com o Chet Baker acho que ele encaixa como um luva e está a soar muito bem aqui.


5.º Disco: Telephone
Guitarrista: Jim Hall
Tema: "Alone Together"

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Bruno Santos: [durante a introdução] Isto é o "Alone Together"? É o Jim Hall com o Ron Carter, não é? Gosto muito, são dois músicos que admiro bastante. Na introdução pareceu-me logo ser o "Alone Together", mas tive dúvidas se seria o som do Ron Carter. Ainda ontem estive a ouvir este disco. É um clássico.


6.º disco: Remember: A tribute to Wes Montgomery
Guitarrista: Pat Martino
Tema: “Full House”

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Bruno Santos: [imediatamente] O tema é o "Full House", mas soa-me a uma coisa mais recente... Talvez ouvindo o solo, a guitarra isolada... Este tipo toca muito bem o instrumento, mas confesso que prefiro o Wes Montgomery. Eu tenho um disco de um guitarrista que tem um bocado esta abordagem muito densa, mas confesso que conheço mal e nem estou a reconhecer o som, que é o Peter Leitch. Deste gosto de algumas coisas, mas acho que ele é demasiado intenso a tocar, põe muita informação nos solos, o que não é necessariamente mau. Eu adoro o John Coltrane e mais ninguém põe tanta informação nos solos.

[Depois de saber] Ah... Isto é uma vergonha, mas nunca ouvi nada do Pat Martino. Ele teve um problema qualquer... O Mário Delgado disse-me que ele teve de reaprender a tocar guitarra. É incrível! O Mário Delgado falava-me muito dele, dizia que foi uma influência para a sua geração.


7.º disco: The Return of Tal Farlow
Guitarrista: Tal Farlow
Tema: "Darn That Dream"

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Bruno Santos: [imediatamente] É o "Darn that Dream", não é? Está a soar-me um bocado ao Joe Pass, mas vou ouvir mais um bocado. Tem uma abordagem muito boa... Tenho de confessar que sou muito esquisito quanto aos guitarristas. Sou bastante esquisito com o som... O Joe Pass tem muito destas coisas rápidas, às vezes um bocado trapalhonas. Adoro o Joe Pass a tocar a solo, acho que é incrível. Não me soa a nada familiar, o único guitarrista que conheço a tocar desta maneira é o Joe Pass. O Tal Farlow? É que eu ouvi um disco em que é esta abordagem, mas com ele em muito pior forma. Ele aqui está em forma.


8.º disco: Triple Scoop
Guitarrista: Herb Ellis
Tema: "But not for me"

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Bruno Santos: [quase imediatamente] É o Ray Brown. É o espírito do trio do Oscar Peterson, mas não é ele... O tema é o "But not for me". Há uma versão muito famosa deste tema pelo trio do Ahmad Jamal. É um guitarrista com influência da cena antiga, mas é uma gravação recente. Será o Russell Malone? Gsotei do som, é um som antigo. Ele na intro faz aquela cena do Herb Ellis a sugerir as congas, que é uma coisa clássica do Herb Ellis... Ele fazia muito isso no trio do Oscar Peterson. Não sei se não será o Herb Ellis. Ele neste contexto, a acompanhar, é irrepreensível. É o trio do Monty Alexander?


9.º disco: So near so far: musings for miles
Guitarista: John Scofield
Tema: "Circle"

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Bruno Santos: [imediatamente] É o Joe Henderson? Este também é daqueles músicos que têm um som inconfundível. Isto é o Scofield? Não é aquele disco de tributo ao Miles, o So near so far? Gosto muito deste disco e gosto muito do Scofield. O som dele é mais influenciado pelo rock, usa sempre um bodainho de distorsão. É um guitarrista que soa sempre bem.


10. disco: Question and answer
Guitarrista: Pat Metheny
Tema: "Solar"

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Bruno Santos: [imediatamente] É o Pat Metheny com o trio do Roy Haynes e o Dave Holland. Gosto bastante. É um disco que recomendo. Para a formação de trio este é um disco que está entre os 5 melhores. Eu ouvi muito o Pat Metheny quando comecei a gostar de jazz e absorvi alguns aspectos dele na parte melódica. Acho bastante interessante a abordagem dele a nível melódico. Ao nível do som de facto não foi um guitarrista que eu tivesse ouvido muito.


11.º Disco: Jazz at the bistro
Guitarrista: Russell Malone
Tema: WTale of the fingersW

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Bruno Santos: Penso que sei o que é, mas vou ouvir mais um bocadinho para ter a certeza... É o Benny Green com o Russell Malone. Isto é incrível! Curiosamente o Russell Malone não é um dos meus guitarristas favoritos, mas é incrível como eles em duo conseguem fazer isto soar de tal forma que não se sente a falta de nada, nem do contrabaixo nem da bateria. Isto é uma parede de som! O Filipe Melo é que é vidrado neste disco.


12.º disco: How long has this been going on
Guitarrista: Joe Pass
Tema: "More than you know"

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Bruno Santos: É o "My Old Flame". É a Sarah Vaughan. O guitarrista... não por ele também ter a cena em duo com a Ella Fitzgerald, mas soa-me ao Joe Pass. A cena do vibrato da Sarah Vaughan é inconfundível. O Joe Pass é super crack a acompanhar as vozes. Eu fiz algumas coisas em duo com a Lena d'Água e dá-me algum gozo. É um bocadinho mais exigente, há que garantir os acordes e a pulsação e é um bocado sem rede. O Joe Pass é imbatível a acompanhar as cantoras.

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E em jeito de surpresa o 13.º guitarrista surgiu em cassette e não em CD, numa gravação nossa de 1990, realizada no Hot Clube de Portugal.

Guitarrista: Sérgio Pelágio (com David Liebman)
Tema: "I Love You"

Bruno Santos: [imediatamente] É o "I Love You". Isto tem quantos anos? Está a soar muito bem.

[Depois de saber] Eu ia mandar esse nome para a frente porque dessa geração não me estava a soar nem ao Mário Delgado nem ao Pedro Madaleno. Eu conheço-o do disco do Laginha. Soa bem... fogo!

Ainda expusemos Bruno Santos a uma gravação de John Abercrombie no Palácio Fronteira, por nós realizada em 1989:

Bruno Santos: Ele tem um excelente som. Nos guitarristas da nova geração inclino-me mais para este tipo de sonoridade do que a dos que seguem a linha tradicional. O único de que gosto na linha tradicional é o Peter Bernstein.

Aceitam-se sugestões para uma próxima "vítima"...

Entretanto fiquem com um excerto da actuação do trio de Filipe Melo, com Bruno Santos e Bernardo Moreira, no Angra Jazz.


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