23 de fevereiro de 2006

A gripe do jézz...

Ao ver no telejornal da SIC uma reportagem sobre a gripe das aves, em que pequenos criadores não sentiam necessidade de colocar as suas aves em espaço fechado (porque sempre andaram à solta... e assim sabem melhor), lembrei-me desta pequena história: a gripe do jézz.

Fevereiro de 2056 - TELEJORNAL DA IMPRESASICRTP

Pivot - O governo anunciou hoje que para prevenir a gripe do jézz toda e qualquer forma de improvisação deve ser evitada a partir de agora e que, caso seja necessário, pode mesmo recorrer à cessação coerciva desta prática musical. Uma equipa de reportagem recolheu no terreno a reacção dos criadores desta ave rara da cultura às medidas governamentais.

Algures no país profundo, num pequeno auditório abarracado... ouve-se um músico a improvisar um solo sobre um tema de Duke Ellington.

Repórter: O senhor sabia que a partir de hoje, para evitar a gripe do jézz, o governo interditou o livre improviso?
Jézzmen: Pois isso não sabia. Oh zhé, já ouviste esta!? Agora não querem que a malta improvishe! Diz que é por causa da gripe do jézz...
Repórter: E vai continuar a improvisar apesar dos riscos?
Jézzmen: Pois está claro... O meu avô ja improvisava, o meu pai improvisava igualmente. E além disso então já viu os custos dessha medida? Olhe eu preshentemente gasto cherca de 25 euros mensais em pautas asshim shó para os arranjos dos temas da orquestra. Ora she agora tenho de escrever tudo, onde é que eu vou arranjar dinheiro para tanta folha? Nós aqui não shemos milionários... Olhe essha medida é boa é para os cantores pimba porque esshes aquilo é sempre a mesma coisha. É o sholidó e pimba pumba!
Repórter: Está portanto fora de causa impedir a improvisação livre, encerrando a vossa música noutras formas mais presas ao papel?
Jézzmen: Bem, nós por nós não o faremos... Agora she aparecer por aí alguém que o queira fazher por nós...

Numa escola à beira tejo, o repórter encontra um professor de jézz em plena aula com o seu bando de alunos:

Repórter: Então o senhor continua a deixar que os seus alunos improvisem assim e misturem as suas ideias com as dos outros?
Professor: Olhe isto é assim, nós aqui sempre procedemos desta forma e não é agora por causa dessa gripe que vamos mudar. Além disso dá-me muito gosto ver assim os meus alunos a improvisar livremente por aí, ao sabor da inspiração.
Repórter: Mas não receia o contágio com outras ideias livres que possam passar por aqui a voar?
Professor: E lá vem você com essa! Pois se isso nunca aconteceu ao longo dos anos, agora é que ia acontecer? Diga-me lá? Oh tu aí... agarra aí esse mi bemol que vai a fugir para a reserva natural! Tou farto de te dizer que os guardas florestais depois vêm para cá chatear por causa da chafurdice lá no espaço aéreo deles...
Repórter: Portanto, não pensa fechar a hipótese do improviso?
Professor: Nem pensar. Além do mais o jézz quer-se livre e olhe que até sabe melhor ao ouvido quando anda por aí a debicar aqui e ali ao acaso, misturando-se com as ideias alheias, respondendo a uns e a outros que passam e mandam uma boca aqui e uma boca ali... Tem outro gostinho, se me entende.

Pivot: Pois é, as coisas acontecem sempre só aos outros...

2 Comments:

At sexta fev. 24, 03:37:00 da tarde 2006, Anonymous Anónimo said...

Do melhor ! Do melhor , João !!!
Maria

 
At sexta fev. 24, 07:08:00 da tarde 2006, Blogger JMS said...

É apenas uma nota de humor aproveitando uma reportagem sobre o comportamento surreal do zé tuga.

;)

 

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