Dee Dee no CCB: o público a seus pés
Foto de João Moreira dos Santos
Foto de João Moreira dos Santos
Como prevíamos, Dee Dee Bridgewater realizou um concerto inesquecível no CCB, no passado dia 24, não só pela qualidade das interpretações e dinamismo, mas também pelo lado cénico e teatral da sua actuação e pela extraordinária empatia que, com a sua comunicabilidade conseguiu estabelecer com o público logo desde o início, levando-o a imaginar Paris com as suas Edith Piaff ou Josephine Baker.
Para alguns dos espectadores que quase lotaram a sala, o concerto talvez tenha sido, porém, controverso, habituados que estamos às interpretações clássicas de temas como "La vie en rose" ou "Ne me quitte pas".
Porém, Dee Dee é a "fera" do bebop, é uma clara herdeira de Betty Carter, e portanto na sua voz as canções e as respectivas melodias e harmonias são apenas um ponto de partida e jamais serão lineares. A beleza da sua interpretação está nos arranjos inesperados, nas modulações vocais, no trabalho da melodia, na sua forma abrupta de cantar, nas inflexões do tempo, no extremar dos graves ou dos agudos e no scat singing com que nos brindou e que poucas cantoras actuais são capazes de igualar ou sequer tentar.
Foto de João Moreira dos Santos
Pelo palco do CCB passaram canções como "J'ai deux amours", "La Mer", "Ne me quitte pas", "Mon Homme" (com uma excelente interpretação de Dee Dee, ora na versão em francês, ora na versão em inglês), "Et maintenant", "Que reste-t-il de nos amours", "Dansez sur moi", "Avec le Temps", "La Vie en Rose" ou "Les feuilles mortes".
Dee Dee emocionou-se visivelmente a cantar "La belle vie/The good life", a canção favorita da sua mãe, que sofre de Alzheimer, o que a levou a deixar uma mensagem sentida ao público do CCB: "Tomem conta dos vossos pais e avós. Tomem conta uns dos outros".
Num tema meio falado, meio cantado, Dee Dee (praticamente possuída pela energia do momento) regressou à adolescência e passou em revista a sua vida amorosa, lançando sobre a audiência um misto de surpresa e incontido sorriso, tanto pela narrativa como pela linguagem corporal que a acompanhava... A "fera" mostrou aqui as suas garras.
Foto de João Moreira dos Santos
Quase duas horas e meia depois, Dee Dee preparava-se para abandonar o palco, mas o público não aceitou e levantou-se em peso para exigir um encore, solicitado por uma longa ovação.
Foto de João Moreira dos Santos
Dee Dee arrancou com o belo "Speak Low" e terminou a solo com "Amazing Grace", com a profundidade e espiritualidade que só certas vozes, como a sua, possuem. Não se lhe podia pedir mais, o público compreendeu isso e abandonou a sala. Estava tudo dito. A entrega da cantora fora total. Mais do que Dee, estiver em palco a sua alma. Aberta. Plena. Sem receios.
Foto de João Moreira dos Santos - Dee Dee canta "Amazing Grace".
Foto de João Moreira dos Santos - Dee Dee canta "Amazing Grace".
Seria injusto não referir ainda os músicos que a acompanharam em palco: Louis Winsberg, guitarras; Marc Berthoumieux, acordeão; Ira Coleman, contrabaixo; Minino Garay, bateria e percussão.
Foto de João Moreira dos Santos
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