30 de novembro de 2005

O que vai nascer no antigo Pavilhão do Dramático

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[Pav. Dramático, Julho 2005 - J. M. Santos]

A agenda cultural de Cascais, de Novembro/Dezembro, revela o que vai nascer onde antes se erguia o Pavilhão do Dramático, berço do primeiro grande festival de jazz em Portugal.

Aqui fica, pois, o referido artigo, diga-se, muito bem redigido:

Em cada pedaço de pedra, de betão ou de metal demolido ainda parecem soar as notas que, durante duas décadas, fizeram do Pavilhão do Grupo Dramático e Sportivo de Cascais a famosa "Catedral" do Jazz e do Rock em Portugal.

Construído no início dos anos 70, com projecto da autoria do arquitecto Henrique Albino, o "Dramático de Cascais", como rapidamente passou a ser abreviado, destinava-se sobretudo à realização de actividades desportivas, pelo que as suas condições acústicas não seriam propriamente as mais adequadas para espectáculos musicais.

Contudo, quem se importava com a acústica, quando se tratava de assistir a concertos de nomes incontornáveis, como os que entre 1971 e 1980 ostentaram os cartazes do Cascais Jazz, ou dos grupos rock que faziam furor na época?

À falta de espaços adequados, improvisava-se um, mesmo que o som fosse mau, que as bancadas não primassem pelo conforto ou que as normas de segurança nem sempre fossem respeitadas à risca Portugal estava ávido de música nova, que era impossível continuar a ignorar.

Pelo recinto escutaram-se os improvisos dos mestres Miles Davis, Dizzy Gillespie, Chet Baker, "swingou-se" ao ritmo do contrabaixo de Charles Mingus, da voz da diva Sarah Vaughan e do sax de Sonny Rolins, vibrou-se com o blues de Muddy Waters. E tantos outros sons do jazz por lá passaram, a par do pop rock de músicos e bandas em ascensão como os Genesis, Duran Duran, Supertramp, The Tubes, Lou Reed, Iron Maiden ou Nirvana, esta última numa das suas derradeiras apresentações ao vivo, dois meses antes do suicídio do seu vocalista Kurt Cobain.

E para que a história do Dramático não se confunda nos nomes e nas datas, a Câmara Municipal de Cascais pretende preservá-la no novo equipamento cultural que surgirá no lugar do antigo pavilhão, há muito desactivado devido ao seu estado de degradação crescente. No seu lugar nascerá o Centro de Artes de Cascais: um espaço moderno e sofisticado, provido de áreas para exposições permanentes e temporárias, auditório polivalente, cafetaria e restaurante, livraria e parque de estacionamento com capacidade para 150 viaturas.

O projecto, da autoria do arquitecto Fernando Martins, prevê o enquadramento do edifício em todo o espaço envolvente, nomeadamente através do alargamento do Parque Marechal Carmona e da evidente ligação ao hipódromo municipal Manuel Possolo.

Indissociável, num futuro breve, será também o seu vínculo temático à Casa das Histórias e dos Desenhos de Paula Rêgo, com orojecto do arquitecto Eduardo Souto de Moura, a edificar a escassos metros, junto ao Museu do Mar - Rei D. Carlos.

A autarquia espera ver lançado o concurso público de adjudicação da obra do Centro de Artes ainda este ano, estimando-se a sua conclusão no ano 2007.

E não se espante se, nessa altura, encostar o ouvido à parede e ainda lhe parecer escutar baixinho a inconfundível voz de leonard Cohen ou o free jazz de Ornette Coleman, pois os materiais da demolição serão reciclados e reaproveitados na nova construção. A esses sons antigos juntar-se-ão outros, à espera do dia em que também as pedras aprendam a cantar.

1 Comments:

At quinta dez. 01, 12:23:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Faz bem à alma ler um texto destes e perceber/sentir a sensibilidade do que antecipa.
Será que estamos em Portugal? reciclar os materiais da demolição, aproveitando-os para a nova construção do Centro de Artes de Cascais ?
É bom demais.

 

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