29 de novembro de 2005

Cascais pode receber museu do jazz e estátua de Villas-Boas

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Como já havíamos anunciado aqui, aproveitámos a sessão de ontem de lançamento do livro de que somos autores - Duarte Mendonça: 30 anos de jazz em Portugal - para lançar um repto/desafio ao Presidente da Câmara Municipal de Cascais: a edificação de um Museu do Jazz.

António Capucho acolheu muito bem o projecto, o qual considerou como sendo "a única forma de perpetuar a memória do jazz em Cascais", aceitando a nossa oferta para colaborar neste empreendimento.

De igual forma, lançámos ao Presidente desta autarquia e à comunidade do jazz a ideia de erguer neste Concelho uma estátua a Luís Villas-Boas, ideia que foi também prontamente aceite, de tal forma que no final da sessão António Capucho já debatia com alguns dos presentes os locais em que tal monumento poderia vir a nascer.

Aqui fica, pois, um excerto do discurso que ontem proferimos no centro Cultural de Cascais, no qual fundamentámos a importância de um Museu do Jazz para Cascais e a justiça de uma homenagem permanente a Luís Villas-Boas:

(...)Devo referir que Cascais acolhe concertos de Jazz desde os anos 20... e que poucas localidades se podem gabar de ter recebido tantos músicos de relevo desta que é considerada a principal revolução musical do Século XX. Em Portugal nem sequer Lisboa se pode gabar desse feito, cidade que continua sem um festival de jazz, feito em que deve ser única entre as capitais europeias...

Mas Cascais pode e deve fazer mais pelo Jazz.

Cascais pode tornar-se objectivamente a capital do jazz em Portugal e até da Península Ibérica (ambição que Barcelona vem alimentando secretamente...), captando o turismo sénior de uma Europa que caminha a passos largos para o envelhecimento da população e que vê este Concelho como um paraíso de praia, bom tempo, golfe e, claro, como o pretendemos, de cultura. Um turismo sénior que, como se sabe, procura qualidade, conhecimento, informação, história, arquitectura e que, além disso, tem no jazz muitas das suas memórias de infância... Este é, pois, um turismo de elevados recursos económicos e que Portugal não está em condições de poder negligenciar.

É por isso que sonhamos...

- Com uma Cascais sede de um museu do jazz.

- Com uma Cascais berço de um parque do Jazz... à semelhança do Parque dos Poetas, em Oeiras, e do futuro Parque dos Descobrimentos, em Carnaxide.

- Com uma Cascais de ruas e jardins em que os grandes nomes do jazz (e não só) que por aqui passaram no Cascais Jazz e no Estoril Jazz se ergam e contemplem aqueles que por eles passam.

Uma Cascais assim é uma Cascais que se diferencia não só pelas suas características geográficas e climatéricas, mas por um conceito que está em condições únicas, entre nós, de reivindicar: a Cascais capital da Música em Portugal.

Em tempos falou-se de uma Cascais do Cinema... Pois em nosso entender, Cascais não tem, ao contrário do que sucede na música, tradição e projecção mundial nesta arte, razão pela qual entendemos que é pelo jazz e pela música que deve afirmar-se, tal como sucede em Montreux, claramente posicionada como um centro de cultura, de música, onde é possível passear nas margens do Lago Genebra, na companhia de estátuas dos músicos que ali se exibiram nos seus célebres festivais de Jazz e não só.

Também Cascais pode e deve voltar a receber os gigantes da história do jazz: Miles Davis, Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Duke Ellington, Oscar Peterson... Todos eles passaram por aqui, a escassos metros deste espaço onde nos encontramos.

É imperioso que o rico espólio de Duarte Mendonça, de milhares de discos, vídeos, fotografias e gravações dos concertos que tem produzido ao longo destes 30 anos, não só não se perca como sirva para a projecção de Cascais como centro de cultura musical, acrescendo ao espólio do Museu da Música Portuguesa, que recentemente reabriu ao público, no Estoril, e acolhe os espólios de Michel Giacometti e de Fernando Lopes Graça.

Poderíamos assim ter uma Cascais sede das várias expressões musicais e duvido que tal não dinamizasse economicamente e culturalmente o Concelho.

É, pois, imperioso começar a projectar um museu do jazz para Cascais e estou certo de que este executivo camarário é sensível a este assunto, pois tem demonstrado orgulhar-se do seu festival anual de jazz e soube homenagear em vida, o que é raro entre nós, o seu mentor: Duarte Mendonça.

Estamos convictos de que no Século XXI os municípios não serão aquilo que são e sempre foram, mas sim aquilo que quisermos fazer deles, a capacidade que tivermos de os envolver num conceito legítimo, adequado e capaz de gerar reconhecimento público e mais valias económicas.

Referimo-nos à capacidade de cada município vir a posicionar-se de forma diferenciada, afirmando-se através de algo em que seja único ou melhor que os demais, um conceito que apele ao turismo interno e externo.

É aqui que entra a Cascais Capital da Música.

Desengane-se, porém, quem pense que estas minhas palavras denunciam um interesse político. Não é isso que me move, mas tão só a paixão que sempre tive por Cascais e pelo Jazz e a vontade de poder contribuir para um casamento que me parece fazer todo o sentido entre ambos.

Construir em Cascais um Museu do Jazz - não um museu elitista ou hermético, mas um espaço interactivo em que sobretudo as crianças, e destas, as menos favorecidas ou marginalizadas, possam experimentar os instrumentos, os sons, aprender música, conhecer a história do jazz e, através dela, os valores da tolerância, da não discriminação e do direito à diferença, à cultura e ao saber - este é o projecto de uma vida.

É um projecto que estou determinado a ajudar a erguer aqui, neste Concelho, e para o qual desde já me disponibilizo, Senhor Presidente, sem quaisquer intuitos lucrativos.

A música é, como sabemos, um excelente veículo de comunicação e quando aprendida em criança pode realmente ser também um instrumento de integração, de suavização da chama da violência que arde nas populações desfavorecidas e de sociabilização.
Como se percebe queremos um espaço vivo e que ajude a gerar uma vida mais interessante de viver e mais harmoniosa.

Não me alongarei mais nesta questão, pois o que nos congrega hoje é este livro em homenagem a Duarte Mendonça.

Porém, não posso deixar de aproveitar a presença do Senhor Presidente da Câmara de Cascais para, à boa portuguesa, lhe "meter uma cunha".

É que Luís Villas-Boas, que tanto fez pela afirmação cultural de Cascais, bem merecia um monumento que perpetuasse a sua memória e ilustrasse, de forma pública e permanente, a gratidão deste Concelho e o reconhecimento do valor que têm os homens que ousam sonhar, projectar e empreender.

E só em Cascais este monumento faz realmente sentido.

Estas palavras não são uma crítica à Câmara Municipal de Cascais e muito menos a este executivo. Se tal monumento ainda não existe é também porque a comunidade do jazz em Portugal dialoga pouco e infelizmente muitas vezes fecha-se sobre si própria e esquece o passado que viabiliza o presente.


Na intervenção de António Capucho foi de realçar o apoio declarado ao Estoril Jazz, o que sem sempre sucedeu noutros executivos camarários: "Só se fôssemos obscenos ou estúpidos é que não aproveitaríamos o elan que vem de trás do Cascais Jazz".

Fica dito e importante que fique dito.

6 Comments:

At quarta nov. 30, 02:48:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

As suas ideias são realmente bastante louváveis, assim sejam ouvidas, por quem tem meios para as realizar. A sua boa vontade é já digna de apreço por que hoje em dia quase ninguém se propõe fazer o que quer que seja sem contrapartidas. Esperemos um dia destes ir a Cascais visitar um sítio onde o jazz seja rei e senhor.

 
At quarta nov. 30, 03:24:00 da tarde 2005, Blogger JMS said...

Esperemos que sim, cara Maria.

Obrigado pelas suas palavras sempre simpáticas.

 
At quarta nov. 30, 05:22:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Caro João
Os meu parabéns! pelo lançamento do livro, como é evidente: mas também pelas ideias expressas no seu discurso. Quando uma vez falou na ideia dum parque temático Jazz brinquei sobre o tema, porque todos sabemos como as coisas em geral se passam por cá... mas não com a sua ideia: e sei que é com insistência que se conseguem resultados. Penso que o João fez o seu discurso perante a(s) pessoa(s)certa, com a atitude certa e tocando nos pontos mais relevantes. Gostei particularmente da sua referência à educação musical das crianças desfavorecidas. Tem toda a razão! E todos sabemos disso, mas nunca é demais falar.
Acabei de fazer 500 kms para ter uma reunião de duas horas, mas não quiz deixar de o felicitar. Tenha um excelente feriado amanhã.
Viva o Jazz! (ou como diz o John Pizzarelli, music is good!)

 
At quarta nov. 30, 06:33:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Caro Mateus,

Agradeço o facto de depois de ralizar 500 kms ainda ter disponibildiade para deixar aqui o seu comentário, o qual registo com apreço.

Se fôssemos todos tão participativos estou certo de que teríamos um Portugal bem melhor.

Bom feriado e bom jazz!

 
At quinta dez. 01, 08:10:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Cresci em Cascais e foi lá que ouvi os primeiros discos de jazz, que assisti aos primeiros concertos. Agora que voltei ao concelho, a sua ideia de um Museu do Jazz, João, só me merece aplauso.

Uma reserva apenas. Não sou grande apreciador de estátuas, nem creio que o Luís Villas-Boas fosse personagem que as apreciasse mais do que eu. O Parque dos Poetas é um mau exemplo que Cascais não deve repetir. Porque não dar ao futuro Museu o nome de Villas-Boas e assim juntar a sua memória a uma realização concreta, como ele gostaria?

Fora isto, susbscrevo palavra a palavra o parágrafo onde o João define o que deve ser esse Museu, na sua natureza e nos seus fins.

Um abraço!

 
At sexta dez. 02, 10:11:00 da manhã 2005, Anonymous Anónimo said...

Caro Gustavo,

Parece-me muito bem a sua sugestão.

Quando se fala em estátua fala-se sobretudo num monumento que evoque a vida e obra de Villas-Boas. De facto nesse ponto o meu discurso não foi muito claro.

Valeu!

 

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