Uma raridade de Miles Davis
Em Dezembro de 1957, com 31 anos de idade, Miles Davis encontrava-se novamente em Paris (depois da primeira deslocação, em 1949), contratado como "guest soloist" pelo Clube St. Germain, onde se juntou ao saxofonista Barney Willen, ao pianista René Urtreger, ao contrabaixista Pierre Michelot e ao baterista Kenny Clarke.
Miles Davis actuou com este mesmo grupo - que participou também nas gravações da banda sonora que o trompetista compôs nesta data para o filme "Ascensor para o Cadafalso, de Louis Malle - em Amesterdão, em 8 de Dezembro, um concerto que foi difundido ao vivo pela rádio e que agora chega até nós em disco.
A preciosidade deste registe reside no facto de este ser um testemunho de um período e de um grupo de que não existem praticamente gravações ao vivo, revelando um Miles Davis já em gestação para o que viria a ser musicalmente nos anos 60.
Este concerto é composto por 10 temas do repertório standard de Miles Davis, desde «Bag's Groove» a «Round About Midnight», e, ainda que a qualidade sonora seja por vezes atraiçoada pelos meios técnicos da época, este é um registo que revela algumas surpresas, como a suprema interpretação e solo que Miles Davis faz em «What's New». Por outro lado, por vezes Miles Davis surge aqui fora do seu tom médio normal, fugindo para um registo mais agudo.
E se é verdade que Miles Davis não morria de amores pela música de Barney Wilen, este saxofonista aparece contudo a complementar muito bem as intervenções de Miles. Aliás, a propósito da relação de Miles com Wilen as notas que acompanham este disco fornecem uma informação interessante:
"Making his way to the bar after the completion of one of his solos at the Saint Germain, Wilen was reported to have ordered a double and quoted as saying: «You know what Miles just said to me? He said, "Why don't you stop playing those terrible notes?»"
Sobre a música que estava a tocar na época e sobre a sua passagem pelo St. Germain, Miles Davis escreveu o seguinte na sua autobiografia (p. 208, Picador, 1990):
"I remember this gig because a lot of French critics got mad when I wouldn't talk from the bandstand and introduce tunes like everyone else did, because I thought the music spoke for itself. They thought I was arrogant and snubbing them. They were used to all those black musicians who came over there grinning and scracthing up on stage. There was only one critic who understood what I was doing and didn't come down hard on me and that was André Hodeir, who I thought was one of the best music critics I had come across.
Este CD é editado pela Lone Hill Jazz e encontra-se à venda na FNAC do Chiado, por cerca de 11 euros.
Já agora vale a pena recordar um história curiosa que Miles Davis conta na sua autobiografia, a qual envolve Paris, um saxofone e John Coltrane:
"And later in 1960, after I gave him [John Coltrane] a soprano saxophone that I got from a woman I knew in Paris, an antique dealer, it had an effect on his tenor playing. Before he got that soprano, he was still playing like Dexter Gordon, Eddie "Lockjaw" Davis, Sonny Stitt and Bird. After he got that horn, his style changed. After that, he didn't sound like nobody but himself".
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