26 de novembro de 2003

Quem tira o jazz do buraco?

Soube-se hoje que mais um autocarro mergulhou para o abismo no país do improviso. O acontecimento teve lugar desta feita em Alcântara, Lisboa, e não é insólito.

Aguarda-se confirmação sobre se o referido buraco pode ou não engolir o país. A SIC e a TVI estão em directo das profundezas da cratera e interromperão este blog a qualquer momento com as últimas.

Entretanto, também o jazz está refém de um buraco e não há grua à vista que possa tirá-lo de lá...

A saber:

- O Ministério da Cultura pouco ou nada apoia o jazz e devia porque ele também é cultura e já é considerado a música clássica americana, além de ser um dos expoentes da dita música popular;
- As autarquias, com honrosas excepções (Matosinhos e Cascais) preferem investir em festivais a investir nos músicos e na sua educação;
- Os preços dos concertos são extraordinariamente elevados e nem sempre com a correspondente qualidade. Nos anos 70, Villas-Boas foi alvo de cartas abertas na imprensa e por bem menos...
- Nas lojas, o espaço para o jazz definha a olhos vistos. Coisas da lei da oferta e da procura, dizem-nos.
- O preço dos discos de jazz é exageradamente elevado. Não há novidade que se preze que não ultrapasse já a fasquia dos 18/20 euros. Coisas do IVA a 19%.
- A literatura sobre jazz é mais difícil de encontrar do que o célebre Lince da Serra da Malcata. Se virem por aí algum livro avisem! É espécie rara e ameaçada de extinção.
- O espaço dos jornais para relatar os concertos de jazz já foi maior e já abrangeu mais jornais. Na televisão nem se fala, mas o mesmo se aplica à música em geral que não ande nos tops.
- Jazz na rádio... na TSF já era, resta o do José Duarte, o do Manuel Jorge Veloso e o da Rádio MArginal, a par de mais alguns programas mais ou menos desconhecidos, mais ou menos relegados para depois de 'Round Midnight'.
- Um museu do jazz (que faria sentido pelo menos em Cascais e mesmo em Lisboa), não passa de um sonho. Já não era mau se existisse integrado num verdadeiro museu da música. Existe o museu dos instrumentos ou da música, mas está bem enterrado no metro do Colégio Militar, salvo erro. Ali ninguém corre o risco de o encontrar, como 'convém'.
- Pautas para tocar jazz há, mas nunca a menos de uns 25/30 euros, o que as torna inacessíveis. Já para não falar do preço dos instrumentos, fiscalmente taxados como produtos de luxo. Depois queixam-se que na música pop e rock já só há sintetizadores e música plástica... (não resisti à provocação).


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