26 de junho de 2008

Sílvia Cancela e Claude Bolling: "Valeu a pena esperar!"

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Em Março deste ano o pianista e compositor Claude Bolling desclocou-se a Viana do Castelo para um encontro muito especial com a flautista Sílvia Cancela. JNPDI! acompanhou esse concerto e publica hoje uma pequena entrevista com esta notável intérprete, trabalho enriquecido com imagens e som exclusivos e inéditos do referido concerto.

JNPDI!: Como correu este encontro musical com Claude Bolling e como surgiu?

Sílvia Cancela: Conheço o Claude Bolling desde sempre e, após vários anos de estudo e aperfeiçoamento musical, senti que chegara o momento de realizar um concerto com ele. Era um sonho que albergava há muito. Claude quis esperar que eu tivesse um determinado nível para que esse encontro musical fosse possível. E valeu a pena esperar!

JNPDI!: É para repetir? Quando?

S.C.: Pensamos repetir, mas desta vez em França. No entanto, ainda desconhecemos a data.

JNPDI!: Que desafios colocam as composições dele que tocou neste concerto?

S.C.: O desafio é a linguagem porque apesar de a parte de flauta ser dita «clássica» em oposição a um trio de jazz, há alguns andamentos como a "Javanaise" ou "Jazzy" que requerem swing e um fraseado bem diferente daquele que eu costumo interpretar.

"Jazzy"



JNPDI!: Em que se nota nelas a paixão de Bolling pelo jazz ?

S.C.: A parte de piano, o trio!! Apesar de estar tudo escrito na partitura, se o pianista se limitar a tocar somente as notas não vai despertar muito interesse. A interpretação, o swing é o que realmente conta… Mas acrescentaria que o que se denota nestas páginas da suite é também a sua escrita para o cinema. Há alguns momentos musicais completamente cinematográficos, como a "Sentimentale".


"Sentimentale"




JNPDI!: O que a impressiona mais em Bolling enquanto intérprete?

S.C.: A sua técnica de improvisação e a independência das duas mãos é deveras impressionante. A sua interpretação do "Caravan" na versão de Art Tatum deixou-nos de boca aberta no dia do concerto!


"Caravan"




JNPDI!: E como compositor?

S.C.: Ele é dos poucos da sua geração que foi aceite nos Estados Unidos pelos músicos de Jazz, aliás, trabalhou durante vários anos com o Duke [Ellington]. Mas não só: também foi um grande compositor de música de filmes, dois géneros que ele soube conciliar muito bem e que são perceptíveis nas Suites para Flauta e Jazz Piano Trio.

JNPDI!: O que aprendeu nesta colaboração com ele?

S.C.: Como referi, tive que trabalhar novos fraseados, mas não só: tive também de me acostumar a tocar com a bateria, que se revelou um autêntico metrónomo neste tipo de formação. Mas a grande novidade, para mim, foi ter tocado com amplificação e com munição. Tudo isto trouxe-me experiência e enriquecimento.

"Véloce"



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