25 de outubro de 2007

Don Byas, o amigo de Portugal, do Fado e de Luís Villas-Boas

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Fonte: www.downbeat.com

Se fosse vivo, (Carlos Wesley) Don Byas teria completado esta semana, no dia 21 de Outubro, 95 anos.

Há pelo menos três razões para relembrar Don Byas, sendo que duas têm a ver com a sua ligação a Portugal e uma com a sua importância e grandeza enquanto músico de Jazz.

Comecemos pela primeira. Don Byas foi um dos grandes saxofonistas-tenores do Jazz e só a sua retirada para a Europa, em 1946, ofuscou a sua notoriedade e reconhecimento. Foi também um dos primeiros a aderir ao BeBop, isto após uma carreira iniciada no swing das orquestras de Lionel Hampton (1935), Buck Clayton (1936), Don Redman, Lucky Millinder e Andy Kirk (1939-1940), culminando na autêntica máquina que foi a big band de Count Basie, com a qual tocou de 1941 a 1943.

Com efeito, em meados dos anos 40 já Byas participava nas históricas jam-sessions no clube Minton's Playhouse, onde o BeBop estava em genese, e tocava nos combos iniciais de Dizzy Gillespie na não menos famosa 52nd Street.

Um disco recentemente lançado permite ouvir Don Byas ao vivo neste período, concretamente em 1945, num registo que captou a sua actução com o quinteto de Dizzy Gillespie, juntamente com Charlie Parker.

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Poucos meses depois desta gravação Byas partiu para a Europa com a orquestra de Don Redman e só regressaria aos EUA em 1970, para actuar no Newport Jazz Festival, tendo vivido entre França, Holanda e Dinamarca.

É precisamente aqui que a história de Byas se cruza com Portugal e com Villas-Boas, conforme documentámos no livro que este ano publicámos.

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Em Outubro de 1947, com os lucros obtidos mediante a representação de editoras e a importação de discos de jazz directamente dos EUA, Villas-Boas realizou a sua primeira viagem em demanda do "som da supresa", elegendo como destino Barcelona, aonde se deslocou com o objectivo de ouvir precisamente Don Byas. À sua espera estava Alfredo Papo, secretário-geral do Hot Club de Barcelona, que lhe anunciou porém que Byas já havia partido para Madrid... Mas Villas-Boas não era homem para desistir facilmente dos seus intentos e quando Papo lhe confidenciou que no dia seguinte se realizava no Hot Club a habitual jam-session deu início a uma exaustiva busca de Byas pelos cafés e bares da cidade, vindo a localizá-lo e a ouvi-lo tocar, dando-se início a uma longa amizade que os juntaria por diversas ocasiões.

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Villas-Boas com Don Byas nos anos 40. Foto de Augusto Mayer.

É na sequência deste contacto inicial que em 1949 Don Byas se desloca a Portugal para tocar no Cinema Éden, participando mesmo como convidado no casamento de Villas-Boas.

Passariam quase 20 anos até ao próximo encontro importante de Byas com Portugal, o qual ocorreria quando em 1968 actuou na Queima das Fitas, em Coimbra, e foi convencido por Villas-Boas a gravar com Amália Rodrigues. Daqui nasceu o disco Encontro, um projecto sem grande preparação, como o prório Villas-Boas explicou em entrevista a Luís Maio:

"Eles não se conheciam. Eu levei o Byas à Amália, mas ele agarrou-se facilmente ao reportório dela, porque era um grande músico. Em relação à Amália, ela estava um bocado apreensiva, porque não era a área dela".

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O resultado deste Encontro seria editado em LP apenas em 1973 e reeditado em CD em 1988. Ouçamos desse disco o tema "Libertação", de David Mourão-Ferreira e Santos Moreira (note-se que o som e a imagem nada têm em comum!):



Byas viria a falecer em Agosto de 1972, poucos anos depois deste encontro do Jazz com o Fado.

Relembremo-lo, porém, em dois temas. No primeiro Byas toca "I'll Remember April", no Norway Jazz Festival, em 1966.



O segundo vídeo é o testemunho de um encontro de gigantes em Cannes, em 1958. Em palco estão nada menos do que Coleman Hawkins, Don Byas, Barney Wilen, Guy Lafitte, Stan Getz, Martial Solal (piano), Arvell Shaw (contrabaixo) e J. C. Heard (bateria).



Muitas vezes quando se escreve sobre músicos já desaparecidos levanta-se obrigatoriamente a questão do que terá sucedido aos instrumentos musicais que os acompanharam durante anos e anos em palco e em estúdio.

Pois bem, desta vez JNPDI! foi investigar e descobriu (graças à inestimável internet) que um dos saxofones usados por Byas se encontra na Rutgers University, concretamente no Institute of Jazz Studies (o maior e mais abrangente arquivo mundial relativo ao Jazz).

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O saxofone foi comprado à viúva de Byas e encontra-se em exposição, juntamente com instrumentos que pertenceram a Lester Young, Ben Webster, Miles Davis e Roy Eldridge.


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