30 de março de 2007

Vimos, gostámos e recomendamos

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JNPDI! passeou-se hoje pelo Mundo do Jazz, em exibição na Gulbenkian, peça que recomendamos aos pais que querem dar aos filhos uma educação musical abrangente e, porque não, também jazzística.

Em breve daremos aqui nota das nossas impressões... mas que é uma peça cheia de surpresas lá isso é!

Para que os nossos leitores possam ter uma ideia do que se passa em palco durante cerca de uma hora, deixamos aqui o texto do argumentista, José Caldas, quanto a nós muito bem escrito e pedagógico, a captar bem a essência da mensagem social e cultural do Jazz.

Vamos Jogar?

Era uma vez um povo, cor de chocolate, que veio trazido de longe para trabalhar nos campos de algodão branco, branco. O trabalho era tanto que inventavam canções para tornar mais leve a lida. Eram os primeiros sons do jazz que vinham de debaixo da terra do chão.

Depois jogavam esses pedacinhos sonoros do canto de trabalho com o canto religioso e com o canto de todos os negros, ecoando lá de longe, desde a terra mãe. A saudade, a tristeza, o cansaço, o amor, fizeram nascer um som azul (o blues), espelho destes sentimentos. Primeiro foram tocados por instrumentos do corpo - a voz, as palmas, o estalar dos dedos - depois por outros, adaptados ou inventados, como a tábua de lavar roupa, os pífaros de cana, e todos os objectos batucáveis.

Nesses campos de algodão e também de café e também de tabaco cresceram países novos e grandes, como a América do Norte, e neles cresceu também a ideia de que a liberdade é para todos, ricos e pobres de todas as cores e de todos os lugares. Uma ideia bonita mas difícil de explicar e de viver... foi preciso muito tempo, grandes discussões e uma guerra para todos perceberem o que queria dizer.

E depois da guerra que deu ao povo negro a liberdade, ele pôde comprar instrumentos musicais ao povo branco e então é que foi: surgiu esta música que até hoje encanta o mundo! Música esperta que mais que todos os discursos dos homens sérios soube misturar as cores e as diferenças sociais, num jogo de sons, de requebros, de alegrias, tristezas, e beijos, e namoros. Sim, porque o jazz é a música do diálogo sem palavras, do improviso certeiro, aberta às sugestões sonoras e muito próxima de todos os amores.

Criamos portanto este concerto para vocês. Para tentar contar esta história tão grande que o tempo não pode conter. Ela fica a meio caminho entre a música e o teatro, pois mistura histórias da música com músicas que contam histórias onde as expressões jogam este jogo por excelência que é a arte. Contamos convosco, os maiores jogadores do mundo do "faz de conta", para jogarem connosco este jogo musical.

Joguemos.


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E, já agora e a propósito, o texto do director musical, o pianista Filipe Melo:

Uma história sem palavras

É sempre um grande desafio falar sobre Jazz e ainda mais querer fazê-lo sem utilizar uma única palavra - que foi exactamente o que fizemos no dia-a-dia a tentar imaginar este concerto encenado no "Mundo do Jazz".

O jazz nasceu num clima de opressão e de violência - foi uma manifestação de profunda revolta, mas também de alegria e paixão pela vida e pela liberdade. A escolha do programa para o espectáculo surgiu naturalmente, acompanhando o percurso da própria música - desde as origens, nos "Worksongs" (canções de trabalho) e nos Blues, aos tempos do Swing edo Bebop, chegando às várias formas como o Jazz se difundiu e evoluiu, influenciando compositores como Debussy, Stravinsky ou Ravel. E não só, porque o ouvido atento do músico de jazz também se deixou conquistar pela tradição musical europeia, para enriquecer o leque de possibilidades da sua linguagem original. Este diálogo constante entre a tradição e a modemidade e entre a música popular, a música erudita e o Jazz prolongou-se até aos nossos dias e está presente na música feita actualmente e sempre renovada para as gerações futuras.

Nunca quisemos explicar o que é isto do Jazz - queremos acima de tudo que vocês sintam o mesmo que nós sentimos quando éramos crianças e nos apaixonámos por esta linguagem. Temos a sorte de poder contar com músicos profundamente conhecedores e talentosos, um excelente actor, um letrista surpreendente, e com o apoio essencial de um encenador que nos obrigou a "não explicar".

Estamos prontos para a viagem e esperamos que ela vos entusiasme tanto como a nós.


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