3 de abril de 2006

4.ª Festa do Jazz: Balanço

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Terminada esta série de artigos sobre a 4.ª Festa do Jazz do São Luiz é tempo de fazer um balanço deste evento que apresentou 40 horas de espectáculos e congregou mais de 3.500 espectadores ao longo de três dias.

Um balanço que é, obviamente, positivo. Muito positivo.

Antes de louvarmos o que é de louvar, situemos a importância deste evento no panorama do Jazz em Portugal. Ele representa um importante vértice de um triângulo que, incompleto, castraria em muito a afirmação deste género musical entre nós. Esse vértice é o da descoberta e apresentação de novos talentos.

Sucede, todavia, que ele é também um vértice catalizador pois vai animar os outros dois:

1 - o das escolas de música, que formam os músicos, e podem aqui afirmar o seu trabalho e competência, motivando-as a prosseguir o seu trabalho e ajudando-as eventualmente a recrutar novos alunos;

2 - o dos aspirantes a jazzmen, que encontram aqui afinal a expressão da vitalidade de uma música que muitos consideram morta, eventualmente acabando por optar por permanecer neste campo e não noutros mais fáceis e acessíveis ou com maior visibilidade.

Ora o Jazz em Portugal não seria mais do que um punhado de concertos e festivais sem raízes se este triângulo não se desenvolvesse e isso mesmo já sabia Villas-Boas, que sempre insistiu na necessidade de formação de músicos.

Por outro lado, esta Festa do Jazz, tendo continuidade como tem tido, é importante para a afirmação do próprio jazz em Portugal e a casa (Teatro São Luiz) em que ela mora não é de somenos importância na sua maior legitimação como forma de arte.

Posto isto, vamos aos "louvores".

Temos de começar por destacar a organização deste evento, sempre impecável. Desde a promoção, passando pela assessoria de imprensa, até à logística que permitiu que diferentes combos (muitos deles a pisarem pela primeira vez um palco) e grupos se sucedessem sem demoras nem falhas tão típicas deste nosso Portugal... E ainda cumpriu a pontualidade, coisa rara. Organização excelente, pois, esta de Jorge Salavisa (Director do Teatro São Luiz), Carlos Martins, Luís Hilário e de toda a equipa do Teatro que há quatro anos assume este evento de corpo e alma.

Creio que apenas nas Master Classes há que impor um maior rigor. Em Portugal estamos habituados a não preparar convenientemente estas sessões e aqui refiro-me aos oradores, claro, embora a ninguém em particular. É mal geral do país.

Penso que a organização pode melhorar este aspecto exigindo um programa aos oradores e a disponibilização de material de apoio, o calcanhar de Aquiles das Master Classes "madde in Portugal" (e ele só mora lá muitas vezes pela falta de preparação da acção...). Já assisti a várias e regra geral os portugueses não distribuem material de apoio e preparam mal, fazendo do evento um género de conversa de café, o que até pode ter interesse se lhe chamarmos tertúlia e não Master Class. Não é um problema deste ano; é uma questão de fundo, entenda-se.

Finalmente, o papel da Câmara Municipal de Lisboa. Sendo Lisboa uma das poucas capitais europeias que não tem um festival de jazz digno desse nome, a CML acaba com este evento por remediar um pouco a desatenção a esta forma de arte. Recordemos que o São Luiz é um teatro municipal, logo dependente da CML. É pouco, mas já é melhor que o nada que habita a cidade em termos de jazz desde 1994.

A prova de que o evento em si tem razão de ser é a sua continuidade e as casas cheias quem têm marcado sobretudo a apresentação dos combos, promovendo a ligação dos alunos entre si e o convívio com professores, produtores, jornalistas, etc.

Por falar nisso, creio que as Master Classes, e é uma sugestão que aqui deixo, poderiam também começar a incidir em temas que não apenas estritamente musicais. Referimo-nos por exemplo a uma Master Class sobre a importância do marketing e da imagem nas artes e nas manifestações artísticas. Por outras palavras, um breve curso de marketing pessoal para músicos e seus projectos, para o qual desde já nos disponibilizamos, o qual incidisse na importância de criar conceitos, na relação com os media, no design de discos, etc.. etc.. Outra Master Class com interesse seria sobre produção, para o que os jovens aspirantes a músicos saibam com o que podem contar e conheçam os bastidores da "indústria" onde um dia trabalharão como criadores. Outros temas certamente se podem aventar, desde uma história do jazz em Portugal até uma master class para amadores de jazz que queiram saber mais sobre esta música e possam beneficiar de uma audição comentada de discos por parte de músicos, por exemplo, que lhes expliquem musicalmente o sentido do que gostam de ouvir.


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