Memórias de uma pessoa inteira
Soube hoje do desaparecimento de Fernando Tavares Rodrigues, falecido em Lisboa na passada quarta-feira, cinco dias antes de completar 52 anos.
Escritor, jornalista e docente universitário, foi nesta última qualidade que o conheci, era eu um jovem aluno do curso de comunicação e relações públicas empresariais.
Há professores que de alguma forma nos marcam e Tavares Rodrigues foi um deles. Tinha do ensino e da vida uma concepção distinta e lembro-me de o ouvir dizer que se fosse a conduzir e lhe viesse à mente a ideia para um poema isso era mais importante do que o resto e se preciso fosse parava o automóvel e escrevia... E se por acaso danificasse o carro, isso era menos preocupante do que ter perdido a ideia em genese.
Como professor, dizia-nos por vezes que mais importante nas nossas vidas do que o professor, que rapidamente esqueceríamos, e a universidade (que era apenas uma passagem, uma ponte entre tantas outras que se seguiriam), eram as pessoas com quem nos cruzávamos e que nos traziam mensagens com significado. "Pode ser o polícia, a pessoa que atravessa a rua...", afirmava ele. Na altura confesso que não me apercebi do alcance real de tal mensagem, mas por alguma razão a retive e quando por várias vezes ao longo da vida conheço alguém que realmente acrescenta algo à minha existência não consigo deixar de o recordar. Como professor que tivesse sido, igual a tantos outros, provavelmente já estaria mais do que esquecido. Nesta mesma linha de pensamento, nas suas aulas a preocupação era trazer sentido, informação relevante, mesmo que não constasse dos manuais ou dos programas. Ele recusava-se a ser o professor clássico que debita conteúdos e estimulava-nos sobretudo a sentir a vida.
Orgulho-me de ter tido o meu primeiro livro prefaciado por ele (livro que resultou da minha tese de licenciatura, por ele orientada) e não resisto a deixar aqui uma passagem da sua lavra:
"É para mim motivo de orgulho que alguém a quem procurei transmitir alguns conhecimentos e ajudar a pensar tenha adquirido tão depressa a maturidade e a experiência que permitem dar à estampa esta obra. Obra cuja consulta aconselho vivamente a todos aqueles que já se interessam por estes assuntos e a todos os que, como eu, procuram todos os dias aprender para compreender melhor o mundo em que vivemos, para nele poder intervir de forma responsável e útil".
O livro (editado pelas Edições ASA em 1995) entretanto esgotou, mas as suas palavras ficaram e ainda hoje são lidas pelos alunos da mesma faculdade em que nos cruzámos, onde hoje desempenho as funções que outrora foram suas e sigo os mesmos princípios que me tocaram, esperando com eles tocar de igual forma outras almas.
Da sua obra literária destacam-se títulos como "Memórias de Corpo Inteiro", "(Ur)gente", "(A)mar", "Concerto para Uma Voz", "Talvez Amanhã", "Depois do Amor" , "O Amor (Im)possível" e "XXI Sonetos de Amor".
Vários vultos da cultura nacional não deixaram de o recordar. Baptista Bastos considerou-o um "herdeiro natural da nossa rica tradição lírica" e Urbano Tavares Rodrigues via na sua obra poética "o eco de um mestre de gerações, um mago de poesia".
Soube hoje do desaparecimento de Fernando Tavares Rodrigues, falecido em Lisboa na passada quarta-feira, cinco dias antes de completar 52 anos.
Escritor, jornalista e docente universitário, foi nesta última qualidade que o conheci, era eu um jovem aluno do curso de comunicação e relações públicas empresariais.
Há professores que de alguma forma nos marcam e Tavares Rodrigues foi um deles. Tinha do ensino e da vida uma concepção distinta e lembro-me de o ouvir dizer que se fosse a conduzir e lhe viesse à mente a ideia para um poema isso era mais importante do que o resto e se preciso fosse parava o automóvel e escrevia... E se por acaso danificasse o carro, isso era menos preocupante do que ter perdido a ideia em genese.
Como professor, dizia-nos por vezes que mais importante nas nossas vidas do que o professor, que rapidamente esqueceríamos, e a universidade (que era apenas uma passagem, uma ponte entre tantas outras que se seguiriam), eram as pessoas com quem nos cruzávamos e que nos traziam mensagens com significado. "Pode ser o polícia, a pessoa que atravessa a rua...", afirmava ele. Na altura confesso que não me apercebi do alcance real de tal mensagem, mas por alguma razão a retive e quando por várias vezes ao longo da vida conheço alguém que realmente acrescenta algo à minha existência não consigo deixar de o recordar. Como professor que tivesse sido, igual a tantos outros, provavelmente já estaria mais do que esquecido. Nesta mesma linha de pensamento, nas suas aulas a preocupação era trazer sentido, informação relevante, mesmo que não constasse dos manuais ou dos programas. Ele recusava-se a ser o professor clássico que debita conteúdos e estimulava-nos sobretudo a sentir a vida.
Orgulho-me de ter tido o meu primeiro livro prefaciado por ele (livro que resultou da minha tese de licenciatura, por ele orientada) e não resisto a deixar aqui uma passagem da sua lavra:
"É para mim motivo de orgulho que alguém a quem procurei transmitir alguns conhecimentos e ajudar a pensar tenha adquirido tão depressa a maturidade e a experiência que permitem dar à estampa esta obra. Obra cuja consulta aconselho vivamente a todos aqueles que já se interessam por estes assuntos e a todos os que, como eu, procuram todos os dias aprender para compreender melhor o mundo em que vivemos, para nele poder intervir de forma responsável e útil".
O livro (editado pelas Edições ASA em 1995) entretanto esgotou, mas as suas palavras ficaram e ainda hoje são lidas pelos alunos da mesma faculdade em que nos cruzámos, onde hoje desempenho as funções que outrora foram suas e sigo os mesmos princípios que me tocaram, esperando com eles tocar de igual forma outras almas.
Da sua obra literária destacam-se títulos como "Memórias de Corpo Inteiro", "(Ur)gente", "(A)mar", "Concerto para Uma Voz", "Talvez Amanhã", "Depois do Amor" , "O Amor (Im)possível" e "XXI Sonetos de Amor".
Vários vultos da cultura nacional não deixaram de o recordar. Baptista Bastos considerou-o um "herdeiro natural da nossa rica tradição lírica" e Urbano Tavares Rodrigues via na sua obra poética "o eco de um mestre de gerações, um mago de poesia".
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