«Identifico-me como herdeira espiritual do sofrimento humano e da necessidade urgente de amar»
Jazz No País do Improviso! entrevistou Maria Viana a propósito do seu CD «Terra Prometida», uma edição de 2000 exemplares patrocinada em exclusivo por uma empresa comercial e que por tal não deverá chegar ao mercado. Oportunidade para saber dos seus projectos e das suas ideias sobre a nova geração de músicos de jazz portugueses.
JNPDI! - Como é que surge este projecto discográfico?
Maria Viana - Em 1996 dei conta de ter sido até aí pasto para uma paixão pela Vida que me abatia e isolava. "Fartinha da Silva", resolvi entrar em pesquisa espiritual: visitei várias igrejas Cristãs (cheguei a cantar com os "African Voices" ligados aos Adventistas do 7º dia, de quem guardo a melhor das recordações!). Nessa época também reencontrei o movimento laico de filosofia budista "sOKA Gakai" e, nessa experiência de então, reforcei-me como pessoa, ganhando direção para uma Vida mais serena. "Terra Prometida "junta a minha fé à luta não violenta por um mundo melhor.
JNPDI! - Pensas que é possível levar mais empresas a associar o jazz à sua política de comunicação e marketing?
MV - Não tenho a menor dúvida; aliás acho que o futuro da minha carreirinha passa pelas autarquias (concertos ao vivo e edições de autor ou de empresa) já que a indústria discográfica está vendida ao facilitismo e comércio mais descarado.
JNPDI! - Este disco vai ser comercializado?
MV - Não creio... Já não entro em Editoras desde que fui enganada na distribuição do "Espírito do Tempo". Antes disso tinha-me dirigido a várias multinacionais e embora me recebessem sempre com até alguma deferência (!?) sempre se esquivaram sob o pretexto de que "mais vale não editar discos que não vendam 10000 [exemplares] pelo menos"
JNPDI! - A ideia que fica de quem ouve este registo é que tu encarnas várias personagens, consoante os temas. Tiveste essa consciência quando estavas a gravar ou é apenas o dom que te é reconhecido de cantar sempre com sentimento?
MV - Esta música é um excelente veículo para essa Oração. Identifico-me como herdeira espiritual do sofrimento humano, de toda a esperança e da necessidade urgente de amar. Não aprofundei cada persona; antes as resumi a uma única, fundindo-me com ela.
JNPDI! - Há quem te considere a Billie Holiday portuguesa. Aparte ser um elogio, o que pensas disso?
MV - É uma honra ser comparada a esse grande nome.
JNPDI! - Esta Terra Prometida, que agora sai em CD, andou em digressão desde 2003 e recebeu críticas positivas, nomeadamente do José Duarte. Que balanço fazes desses espectáculos?
MV - É um recital maravilhoso! Com a sua vertente operática, deixa-me o canto livre de microfones ou efeitos, podendo então projectar a voz em toda a sua potência e liberdade. É um recital para piano, bateria e canto onde para além dos meus queridos Alan Thomas e Paulo Basso, tenho o enorme prazer de cantar com a Carla Baptista Alves.
JNPDI! - Que projectos na área da música tens neste momento?
MV - O trio que levo com o Zé Eduardo e o Joan Monné faz-me voltar ao BE Bop (prémio "JazzPortugal" para o melhor concerto nacional de 2003). Estou também em ensaios para um novo concerto "Caminho da Paz" em que recriaremos uma selecção de canções dedicadas à Paz e ao amor pela Natureza. Como vês, nada que interesse à indústria!
JNPDI! - O jazz já está cumprido em Portugal ou ainda é uma terra prometida?
MV - Esta fase que atravessamos é um pouco estranha - se por um lado se formam muitos e bons músicos, por outro saem para o mercado sem conhecer e respeitar quem os precedeu. Assim acho que esta nova geração é tecnicamente muito capaz, mas por enquanto são frios, muito frios...
JNPDI! - E a cultura?
MV - A cultura e a Fé são a arma não violenta da Liberdade e Ascese
JNPDI! - Dos candidatos à presidência da república qual achas que mais facilmente colocaria o teu Terra Prometida no leitor de CD's e se deleitaria a ouvi-lo?
MV - Qualquer deles (se arranjassem tempo!)
2 Comments:
Óptima ideia, a de entrevistarem uma Grande Mulher (com g e m maiúsculos), uma Lady do Jazz. Sempre a admirei como cantora, como amiga (já não a vejo hà muito tempo) e como free-thinker or franco-atiradora, como queiram. Não há muitas(os) artistas como ela. Saudades e um beijão para ela.
Rui Azul
Olá Rui ! Que bom encontrar-te!De repente até parecia estarmos numa sociedade optimista e desanuviada !
Vejam bem ! Um musico expressando o seu carinho por outro em público e expontâneamente !!!
Obrigada .
Meu querido : temos urgentemente que nos encontrar
Mal tenhas tempo para vir A Cascais contacta-me em mariavianajazz@netcabo.pt
Saudades
Maria Viana
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