3 de setembro de 2005

ForUmusic: a apologia do piano

Decorreu ontem no forum Lisboa a segunda noite do festival ForUmusic, a primeira a que tivemos oportunidade de assistir.

A noite foi feita de piano, com a actuação do trio de Filipe Melo e de Joachim Kuhn, este a solo, acompanhado apenas pelo seu virtuosismo...

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Filipe Melo evidenciou uma enorme capacidade de swing, no que foi excelentemente acompanhado pelo seu trio, composto por Bruno Santos (guitarra) e Bernardo Moreira (contrabaixo), porventura a melhor secção rítmica nacional neste momento.

A actuação fez-se standards, a começar pelo inestimável "As long as I live" (Carmen McRae costumava cantá-lo com grande mestria) e a terminar com "I got rhythm". De salientar os arranjos dos temas, a possibilitar extrair um interesse adicional destas quase centenárias canções. Regressado de uma deslocação a Londres propositadamente para ver e ouvir Oscar Peterson, Filipe Melo introduziu ainda um original deste virtuoso do piano jazz.

Quanto a Filipe Melo, demonstrou amadurecimento técnico e musical desde que o ouvimos da última vez com esta formação, no I Ciclo de Jazz de Oeiras, em 2004, e tem condições para ir mais longe. Talvez seja de equacionar agora a introdução de alguns convidados ao nível dos sopros, possibilitando assim acrescentar uma maior diversidade tímbrica ao conjunto. Bruno Santos é uma voz segura na guitarra jazz e começa a evidenciar maior capacidade de assumir riscos e maior liberdade. Quanto a Bernardo Moreira, repousa nele o tempo, que está muito bem entregue. É um contrabaixista preciso e que sabe o que é preciso para ter swing.

Este mesmo trio participa em "Debut", o primeiro disco de Filipe Melo, a editar em Outubro. JNPDI! estará atento a este trabalho e aqui dará nota crítica do mesmo.

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A segunda parte do concerto ficou a cargo do pianista alemão Joachim Kuhn, que se aventurou ainda pelo saxofone tenor e com ele tentou acordar os espíritos que repousam nas cordas do piano, ao colocá-lo a ressoar dentro da caixa acústica deste instrumento.

Kuhn é conhecido pela sua fusão da música clássica/erudita com o jazz, podendo considerar-se um "vanguardista", e também pela técnica apurada que exibe ao piano. Protagonizou um concerto muitíssimo interessante, ainda que não totalmente isento de reparos, sendo de destacar o último tema.

Antigo companheiro de Ornette Coleman, com o qual gravou em 1997 (Colors: Live From Leipzig), incluiu neste espectáculo temas seus e deste saxofonista histórico na evolução do jazz.

Hoje, 3 de Setembro, sobem ao palco:

Wishful Thinking (21h30)
Alipio Carvalho (saxofone tenor), Johannes Krieger (trompete), Alex Maguire (piano), Ricardo Freitas (baixo eléctrico) e Rui Gonçalves (bateria).

Don Byron's Ivey Divey Trio (23h00)
Don Byron (clarinete), Jason Moran (piano) e Billy Hart (bateria).

São dois concertos a não perder, sobretudo o segundo já que permite apresentar três músicos super conceituados e que dispensam grandes apresentações.

Uma nota final para a organização deste evento - EGEAC e Clean Feed/Trem Azul - cuja notória falta de investimento em publicidade e promoção (que sabe-se hoje tem de ter normalmente o mesmo peso orçamental que o aplicado nos cachets dos músicos) ditou uma casa praticamente vazia (50 pessoas?), o que não é bom nem para os músicos, sejam eles nacionais ou internacionais, nem para a saúde do jazz enquanto expressão artística que se quer apelativa para patrocinadores (obviamente sensíveis às audiências).

A rever, pois, este aspecto, que já devia estar mais do que ultrapassado ao fim de mais de 30 anos de produção de festivais de jazz em Portugal.

4 Comments:

At domingo set. 04, 05:33:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Olá
Joachim Kuhn toca sax alto... uma boa dica pra se ver se é alto é tenor é que o tenor tem uma curva no "pescoço"...

 
At domingo set. 04, 08:22:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

"Protagonizou um concerto muitíssimo interessante, ainda que não totalmente isento de reparos, sendo de destacar o último tema."

Poderia explicar melhor o que achou que falhou na actuação do Joachim Kuhn?

Obrigado

 
At terça set. 06, 02:51:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Falhou não ser da clique do Hot, certamente. Caso contrário teria sido "o máximo". José Ribas

 
At quarta set. 07, 02:59:00 da tarde 2005, Anonymous Anónimo said...

Não contava que uma pergunta tão inocente quanto esta se revelasse tão embaraçosa ao ponto de não merecer uma singela resposta.

As minhas desculpas pelo sucedido.

 

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