5 de setembro de 2004

Sobre a oferta de discos de jazz em Portugal

Vem este post a propósito das visitas que regularmente faço à FNAC (várias lojas) e à Valentim de Carvalho ou à Mundo da Canção e Worten (várias lojas), pontos de referência no que toca à distribuição de música em Portugal.

O panorama é francamente desolador no que toca ao jazz. Retenhamos cinco pontos críticos de insatisfação que urge mudar.

1 - Escassez da oferta

É verdade que o cenário já foi bem pior (sobretudo até aos anos 90), mas também já foi melhor, quando havia uma megastore da Valentim de Carvalho e uma Virgin.

Com a ausência de concorrência, os supermercados da música que sobreviveram gerem os seus catálogos aparentemente sem outro critério que não o marketing.

Nessa base, o jazz acaba por ser o parente pobre, vendo o seu espaço reduzido. Nada contra desde que os ditos supermercados não elejam como valores o apoio à cultura... pois isso deixaria supor que mesmo as obras menos comerciais teriam direito à prateleira.

2 - Mediocridade da oferta

O problema é que a oferta não só é escassa como peca muitas vezes pela mediocridade. Quer isto dizer que as obras essenciais não estão disponíveis, sendo preteridas a obras de duvidosa qualidade ou interesse musical.

Basta ir à FNAC do Colombo (a pior servida) ou à do Chiado e pesquisar por exemplo a oferta de discos de Miles Davis, Charlie Parker ou John Coltrane. As obras mais emblemáticas não estão disponíveis e na maior parte dos casos nunca estiveram. Salva-se o «Kind of Blue» que, mesmo assim, nem sempre está disponível...

3 - Gestão de stocks

Não raras vezes as placas que identificam os músicos nada mais contêm do que o absoluto vazio... Nem uma obra para amostra. Será incompetência na gestão dos stocks por parte das lojas ou das editoras? Ou de ambas?

Ligado a este ponto está o tratamento dos stocks, ou seja, a visibilidade que se dá aos discos (e os critérios que presidem à mesma) e sua arrumação. A FNAC de Cascais é aqui um bom exemplo (pena que as outras FNAC, estranhamente, não seguirem o mesmo caminho), separando o catálogo de forma lógica e que simplifica a pesquisa pelos clientes. O jazz português, por exemplo, está perfeitamente distinto do jazz não português, assim como colecções específicas, como a Rudy Van Gelder, da Blue Note.

4 - Incapacidade de promover os discos

Até há pouco tempo era prática, pelo menos na FNAC, sobretudo a do Chiado, identificar os discos dos jazzmen que vinham a Portugal dar concertos. Uma placa simples - Ao vivo em Portugal - chamava a ateção dos transeuntes para a obra dos músicos que podiam ver e ouvir ao vivo, mas cuja discografia desconheciam.

Esta tradição, boa, terminou, pelo menos na área do jazz...

5 - Preços

Este é o ponto crucial!

Os preços dos discos de jazz são e continuam a ser exorbitantes, especialmente as novidades. Qualquer novo álbum não custa menos de 17.00 euros, podendo facilmente chegar aos 20.00.

Mais grave do que isso é a oscilação de preços a que se tem assistido ultimamente. Na mesma loja e em diferentes semanas, um mesmo disco (por exemplo de Krall, Jones ou Caetano) oscilou entre os 17.00 e os 13.00 por várias vezes...

Mais grave ainda é a diferença de preços dentro da mesma cadeia de lojas... O que na FNAC do Chiado custa 12.00 pode custar 19.00 na FNAC do Colombo...


Site Meter Powered by Blogger