5 de maio de 2004

Jazz indecente!

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O concerto de Benny Green e Russell Malone na Culturgest teve contornos de autêntica indecência, senão pornografia. Devia, aliás, ter sido 'proibido' por quem tem responsabilidade na emissão de licenças para espectáculos.

Primeiro, porque o que se passou hoje no auditório da Culturgest veio pôr a nu a distância a que ainda estamos a nível nacional destes grandes craques do jazz. E em tudo: atitude, alegria em palco, técnica, linguagem, sentimento, musicalidade.

Segundo, porque a actuação de Green e Malone foi de tal forma arrasadoramente genial que chegou a representar uma séria ameaça à saúde cardiovascular dos presentes, tantas foram as emoções criadas.

Terceiro, porque apesar de 1h30 de duração, soube a pouco!

Benny Green é não só um pianista versátil como um músico que não cessa de espantar e progredir. Russell Malone, que já conhecíamos desde os concertos com Diana Krall, apareceu aqui com rédea solta para montar em toda a sela a sua guitarra e demonstrou uma técnica e sentido musical quase intimidatório. Se eu fosse guitarrista, amanhã a primeira coisa que fazia era vender a guitarra e dedicar-me à pesca!

A empatia entre ambos os músicos é um exemplo do que deve ser o jazz e também do que ele tem perdido em nome de uma certa intelectualização. Uma empatia e profissionalismo que não se perderam nem quando no segundo encore o amplificador da guitarra de Malone entregou a alma ao criador. The show must go on... mesmo que seja em versão acústica e íntima. E assim foi.

No final, eu, o Presidente do Hot e o Dr. Barros Veloso ainda 'desafiámos' o jovem pianista Filipe Melo a desencaminhar Green para o Hot, mas em vão. Green disse-me que tinha avião amanhã (6 Maio) às 6h30 e acabou por ir apenas tomar um copo com o nosso melhor realizador de filmes sobre zombies... precisamente Filipe Melo, um jovem a acompanhar com atenção.

Já agora uma história de bastidores que me foi contada hoje à noite pelo Binau, Presidente do Hot. Aqui há uns poucos anos, Filipe Melo encontrou Green nos Açores, num festival de jazz, e pediu-lhe uma aula no piano do lobbie do hotel, o que ficou combinado para o dia seguinte. Estava Green em plena aula a explicar novos caminhos harmónicos para o «All The Things You Are», quando o pianista residente interrompeu a lição para explicar a Green que não era assim que se tocava. Ao que parece, Green ficou 'verde' e estarrecido a olhar para o dito pianista e rapidamente lhe confiou o piano... abandonando rapidamente a sala.


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