Comandante Garbarek!
Palavras para quê? Garbarek entrou mudo e saíu calado mas disse musicalmente tudo, ou quase tudo, o que havia para dizer e foi fácil reconhecer no seu discurso o mesmo fraseado que o caracteriza desde os anos 70/80. Aquele fraseado que o torna inconfundível e que nos faz sonhar e remeter para um lado mais espiritual e meditativo.
É assim a sua música.
CCB cheio até ao tecto, aquele som amplo do saxofone a ecoar pela sala, enquadrado por um cenário tão simples mas tão esteticamente eficaz e sedutor, mais quatro projectores para quatro músicos. Atrever-me-ia a dizer: inesquecível e mesmo que jamais outro músico ecoou tão bem naquele grande auditório.
Garbarek como músico europeu de "jazz" faz todo o sentido. Não se limitou a seguir a tradição, criou o seu próprio idioma, o seu próprio estilo e por isso é hoje quem é. E como europeu que é cruzou a sua música com outras músicas de outros mundos, embora se lhe reconheça uma base sólida na música céltica e no folclore, como ficou evidente no concerto de ontem à noite.
Quanto a mim, vê-lo ao vivo foi a realização de um sonho e gostei mais de o ouvir quando dedilhou o saxofone soprano. Só faltou mesmo um dos meus temas preferidos, o célebre "Singsong", do álbum «Wayfarer». O mesmo se aplica a Eberhard Weber, um contrabaixista que admiro desde que o vi (em vídeo) ao lado de Garbarek no Jazz em Agosto, em 1984. Quanto a Marylin Mazur foi uma agradável surpresa, eu que navego mais nos timbres e ritmos de Trilok Gurtu ou Naná Vasconcelos.
Nem tudo foi, porém, perfeito... É que sendo Garbarek um músico tão polivalente, é impossível encaixar tudo num só concerto. Eu, por exemplo, só ficaria plenamente satisfeito se o tivesse ouvido nas suas fusões com a música paquistanesa (álbum «Ragas & Sagas) ou com a música indiana (álbum «Making Music»).
Mas, enfim, a perfeição não existe e ontem já se andou bem perto dela.
Uma última nota para dizer que ontem também se fez história na curta história dos blogs em Portugal. É que pela primeira vez um blog foi reconhecido como meio de comunicação social pela organização de um espectáculo, merecendo dois bilhetes para assistir ao mesmo. «Jazz No País do Improviso!» agradece a Rui Neves, mais uma vez visionário, desta feita a perceber para onde vai o futuro em termos de comunicação. Já agora, foi também Rui Neves que trouxe Garbarek ao Jazz em Agosto em 1984 (salvo erro), antevendo o que seriam as novas tendências musicais do futuro. 20 anos depois, o presente dá-lhe razão e nós agradecemos.
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