9 de março de 2004

Jazz ao Centro ou Jazz à margem?

É apenas um comentário construtivo e que mostra que nem só no Governo e no país o dito centro causa ansiedade, angústias e dúvidas.

«Jazz no País do Improviso!» saúda e aplaude todas as iniciativas de jazz em Portugal e não só.

MAS...

Jazz ao Centro, apesar de ser uma iniciativa importante, comete dois pecados capitais.

A saber (como se dizia no tempo da outra senhora que, certamente, não devia gostar de jazz mas morreu, por ironia, vítima do swing rasteiro da cadeira em que arrastava os seus e os nossos dias...):

1 - Os músicos de jazz representados estão todos centrados numa certa corrente que de centro nada tem, de jazz só vagamente. São, digamos, projectos de margens que se inspiram no jazz (com excepções, claro);

2 - A palavra jazz (que dá para tudo, até para vender automóveis, perfumes, rádios e lingerie feminina) induz em erro o público deste evento que vá à espera de um jazz, passe a expressão, mais ao centro, isto é, com swing, standards, temas com princípio meio e fim, etc... O mainstream, se quiserem. Ora, não encontrando isto, só tem duas atitudes a tomar: abandona a sala (como tantos fizeram no concerto de Cecil Taylor, apesar da qualidade da música); não abandona a sala, por respeito para com os músicos e os euros que gastou, mas abandona o festival e demais eventos que lhe venham a propor com a palavra jazz. É, portanto, uma questão de expectativas defraudadas, não por intenção da organização, como sei, mas por culpa do programa do festival, isto, é do elenco ser todo de uma corrente muito marginal e fora do que o português comum espera encontrar no jazz ou está habituado a ouvir como jazz, em programas como o «5 Minutos de Jazz».

«Jazz no País do Improviso!» deixa pois um conselho à organização deste festival: uma vez que o Jazz ao Centro é em larga medida financiado por dinheiros públicos (vulgo Câmara Municipal de Coimbra, tanto quanto sei), conceber um festival não elitista, não vanguardista, não à medida de certos músicos (para ser simpático...) mas do que o público quer; um festival em que todos se revejam e possam encontrar um foco de interesse; um festival diversificado na oferta e que represente desde a vanguarda até ao jazz mais mainstream, que o há, e muito bom, tocado por muitos jovens e velhos talentos. Em suma, um festival a pensar no público, especialmente o do Centro, que é para o jazz continuar a ter público, cada vez mais público. Ou, então, assume-se e posiciona-se claramente como um festival de 'vanguarda' ou 'pseudo-vanguarda', ou vanguarda da vanguarda que está realmente para vir e então o público sabe exactamente ao que vai.

De resto, tudo bem. A organização tem primado por escolher locais e salas interessantes para o festival, promove-o bem, etc... Talvez precise é de um consultor técnico para a programação, cargo para o qual desde já me manifesto absolutamente indisponível, até por uma questão de coerência e isenção.

Enfim, foi apenas um desabafo para que Coimbra não venha, em matéria de jazz, a ser uma lição mal ensinada e pior aprendida.


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