17 de junho de 2012

Sónia Little B Cabrita lança Little B

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Na história do jazz em Portugal são raros os discos gravados por mulheres. Na verdade, se retirarmos as incontornáveis, mas clássicas, vozes, contam-se pelos dedos de uma só mão e, para o efeito, necessitaremos de apenas dois: um para nomear a pianista Paula Sousa (Valsa para a Terri, 2008; Nirvanix, 2010) e outro para a trompetista Susana Santos Silva (Devil's Dress, 2011). Eis tudo o que jazz feminino gravou e editou ao longo de mais de 50 anos do disco de jazz português.   

Só por isto - por ser um membro desta tríade editorial - o CD Little B, da autoria da baterista Sónia Cabrita, mereceria desde logo um post em JNPDI. Mas tal não faria justiça à obra nem à sua mentora pois limitar-se-ia a apreciá-lo sob o ponto de vista estatístico e da (des)igualdade de género no jazz nacional. Ora, um disco, seja de jazz ou não, é muito mais do que isso... É, espera-se, uma obra de arte, um statement criativo que o seu autor partilha com o público para divulgar o seu progresso artístico, o estado da sua arte e a sua alma e sentir naquele trabalho produzido na efemeridade do estúdio, mas dirigido à eternidade civilizacional.

Acima de todas estas considerações, está ainda o facto de Sónia Little B Cabrita representar neste seu primeiro disco como líder dois factos raros. Primeiro, tocar a tradicionalmente masculina bateria. Segundo, ser natural do Algarve, o que já por si limita, infelizmente, as oportunidades de afirmação no meio jazzístico nacional, muito particularmente no acesso a estúdios de gravação e à edição discográfica.

Este disco deve, pois, ser compreendido e valorizado em face de toda esta conjuntura e de todos estes condicionantes pois o simples facto de ter chegado a existir é, já em si, um pequeno grande feito.

Gravado no Zipmix Studio, em Olhão, este Little B apresenta sobretudo originais de Sónia Cabrita, à excepção de "Little b's poem", um tema de Bobby Hutcherson. O refinado e groovy ambiente sonoro é conseguido por um quarteto formado pela própria e por Wenzl McGowen (saxofone-tenor), Giotto Roussies (Fender rhodes) e Zé Eduardo (contrabaixo).

Em suma, um disco que vale a pena ouvir e descobrir muito para além do marco que já é simplesmente por existir.



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