Os primeiros discos de Jazz portugueses
A propósito da questão que aqui levantámos - por se afirmar erradamente no trailer do documentário "A Tensão Jazz" que Malpertuis (1976), de Rão Kyao, é o primeiro disco de jazz nacional - é de elementar justiça e generosidade apresentar aqui, em primeira mão, aqueles que terão sido de facto os pais de todos os discos de jazz gravados e publicados em Portugal e por portugueses.
Datam ambos dos anos 50 e o seu autor foi o virtuoso clarinetista (e não só) Domingos Vilaça, músico inspirado por Artie Shaw e que integrou, entre outras, as orquestras Almeida Cruz, Portugal e Caravana, mas também a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, a Orquestra Ligeira da Emissora Nacional e a orquestra Swing de Tavares Belo, para além de ter liderado o seu próprio conjunto a partir de 1953.
A edição destes registos de 45 rpm (com quatro faixas) foi da Alvorada, editora detida pela portuense Rádio Triunfo. O primeiro disco, Dixieland, foi publicado em 1957 - sendo um dos primeiros do catálogo - e o segundo, Charleston, terá sido editado já no final desta década.
A edição destes registos de 45 rpm (com quatro faixas) foi da Alvorada, editora detida pela portuense Rádio Triunfo. O primeiro disco, Dixieland, foi publicado em 1957 - sendo um dos primeiros do catálogo - e o segundo, Charleston, terá sido editado já no final desta década.
No final dos anos 60, emergiu em Lisboa um trio que fez grande sensação e que tinha uma qualidade notável para a época. O Bossa Jazz 3 foi fundado em 1967 por Marcos Resende (pianista brasileiro a estudar em Portugal), Bernardo Moreira e Paulo Gil e gravou então para a Valentim de Carvalho. Um excerto do clássico standard "Autumn Leaves", uma das quatro faixas deste disco, pode ser ouvido aqui.
Para além destes discos pioneiros há também que referir as gravações do Octeto de Jorge Costa Pinto e o Thilo's Combo, todas elas realizadas muitos anos antes do tão referido Malpertuis.
É também importante corrigir o equívoco de que Estilhaços, gravado em Lisboa por Steve Lacy, em 1972, é o primeiro disco de jazz português. Ele é, com efeito, importante, mas sim como o primeiro disco de jazz gravado ao vivo entre nós, ainda que por músicos estrangeiros.
9 Comments:
Sim, mas o que há nesses discos de "jazz português"? Dixieland? Charleston? Autumn Leaves? Estes sãos os primeiros registos de jazz português, ou os primeiros registos de algo relacionado com jazz por artistas portugueses? As duas coisas parecem estar misturadas e são bem diferentes.
Caro Fernando, compreendo a sua dúvida. São os primeiros discos de jazz gravados por portugueses.
Por isso os apelidei de primeiros discos de jazz portugueses.
Compreendo que se queira agora entrar numa polémica em torno de saber se são também os primeiros discos do jazz português... Deixo isso para os musicólogos, que não sou.
O que me importa, e é um facto, é que foram de facto os primeiros discos de jazz gravados por portugueses e editados comercialmente com alguma difusão, a suficiente para permitir que tenham chegado até nós e se encontrem preservados em arquivos históricos reconhecidos.
João: o 2º disco indicado de Domingos Vilaça foi editado em 1959.
Quanto à questão aqui lançada nos comentários, o primeiro disco com uma composição jazz escrita por um músico português será porventura um flexi disc promocional da Shell, publicado em inícios da década de 60 (infelizmente, não consegui ainda apurar o ano correcto). Trata-se do single "Felizes Vamos, com Shell Viajamos", sendo que a composição que dá título ao disco se encontra nos dois lados do single, mas em versões diferentes. A do lado A é "Em Ritmo de Jazz" e a do lado B "Em Ritmo de Chá-Chá-Chá". De entre os músicos aqui presentes, contam-se Fernando Albuquerque, Mário de Jesus, Esteves Graça, Carlos Menezes, Alírio Covas, Raul Paredes ou o próprio Jorge Costa Pinto.
Com data conhecida, o primeiro disco com uma composição de jazz escrita por um músico português é de 1968. Mais uma vez é um disco de intuitos publicitários, da Woolmark, sendo esse precisamente o título da composição original de Manuel Jorge Veloso escrita para o lado B de um single cuja capa tem Raul Solnado, presente no lado A com a rábula "A Campanha do Zé Casca".
Em termos de discos comerciais, logo no início da década de 1970 há discos com composições de jazz escritas por músicos portugueses.
"Malpertuis", de Rão Kyao, será assim - omitindo o LP "Encontro", de Amália e Don Byas, que não tem composições jazz mas sim arranjos jazz para "standards" do fado e da canção ligeira portuguesa - o primeiro LP de jazz português gravado por músicos portugueses.
Mas primeiros discos são, como o João refere, os dois "históricos" EP's do Conjunto de Domingos Vilaça, de 1957 e 1959. E concordo plenamente que não se deve deixar perpetuar erros...
Sobre o Bossa Jazz 3: o EP, de título "Divulgação I", é editado em 1968 e tinha apenas 3 faixas, das quais "Autumn Leaves" era a última. Os músicos nele são Marcos Resende (piano), Manuel Barbosa (contrabaixo) e Paulo Gil (bateria).
Uma curiosidade: o Conjunto de Heinz Worner, do Porto, gravou em 1958 "Lullaby of Birdland", de George Shearing, e, em 1960, "Foggy Day", de George Gershwin, e "Ain't Misbehavin'", de Fats Waller. Os autores não são é portugueses...
Olá, João.
Que informações tão úteis. Eu tinha um vago conhecimento dessas gravações publicitárias, mas não tinha qualquer referência.
Os seus comentários, sim, são construtivos e úteis para a evolução do conhecimento sobre a história do Jazz em Portugal pois providenciam informação que pode ser investigada e acrescentada à que já é conhecida.
Obrigado pela partilha.
De nada, João. É com gosto que o faço, em nome desta paixão comum que é a música portuguesa.
Esqueci-me de referir que o single "Felizes Vamos..." é assinado pela Orquestra de Jorge Costa Pinto.
Boa tarde
Relativamente ao flexi disc da Orquestra de Jorge Costa Pinto acima referido, posso completar (relativamente a um que tenho em meu poder): tem formato single, toca a 33 rotações, tem 2 temas na mesma face. O 1º chama-se óleo shell 2T em ritmo jazz. O 2º chama-se óleo shell x-100 em ritmo chá-chá-chá
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