2 de novembro de 2008

Hamilton e Obama: "A hora preta"

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2008 pode trazer finalmente aquilo que nos anos 20 se designava em Portugal de hora preta, ou seja, a ascensão dos negros ao estatuto de igualdade no mundo ocidental. A este propósito, escrevia-se, então, na imprensa tendo como pano de fundo a afirmação dos negros na Europa através do jazz:

"A raça negra, exilada desde o berço dos territórios da Fortuna, viu por fim quebrada a maldição. Josephine Baker triunfou nos palcos; o batuque esilizado, posto em alfabeto musical, ditou às orquestras sua lei. E o branco, que considerara o preto, longos séculos, como a transição entre o homem e o gorila, como um pitecantropus seu contemporâneo, começou a olhar com interesse, com simpatia quase, a alma estranha do sertão. Começou a compreender o mistério, a exótica beleza da floresta tropical, começou a penetrar o ritmo lindo, capitoso, da vida sertaneja.

E o preto deixou de ser um animal humano, órgão de roupa e personalidade. Os brancos descobriram nele qualquer coisa de inédito, de original. Desenterraram da bruma algo de incógnito, de ainda por queimar. E depois exploraram o achado com a mesma febre intensa que agitou, há séculos, os reveladores do continente negro.

E assim nasceu a hora preta, pintada a preto, em algarismos pretos, sobre o relógio branco, caprichoso da extravagância branca..."

Este pensamento ocorreu-nos com a sagração, hoje, de Lewis Hamilton como campeão mundial da F1 e com a provável eleição de Barack Obama, o que, a acontecer, marcará um importante passo na evolução da consciência desta nossa civilização e será um importante legado para o século XXI.


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