12 de março de 2008

Charles Lloyd lança novo disco e celebra 70.º aniversário

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Para assinalar o seu 70.º aniversário (15 de Março) Charles Lloyd lança esta semana o seu primeiro disco ao vivo no formato de quarteto.

Rabo de Nube (literalmente, Rabo de Nuvem) tem edição da prestigiada ECM e documenta a digressão realizada por Lloyd em 2007, a qual teve como ponto de partida um concerto realizado no Porto, na Casa da Música, a 18 de Abril, e outro realizado dois dias depois na Culturgest, em Lisboa.

A gravação constante deste CD não deriva, porém, destes concertos, mas sim do espectáculo que o novo quarteto de Lloyd realizou em Basileia a 24 de Abril. A acompanhar o saxofonista (que também toca aqui tarogato - um instrumento de sopro originário da Roménia - e flauta) estiveram Jason Moran (piano), Reuben Rogers (contrabaixo) e Eric Harland (bateria e percussão), músicos cujos bem conhecidos créditos desde logo prenunciam um disco pleno de interesse e qualidade.

O CD abre com "Prometheus" e termina com "Rabo de Nube", um tema da autoria de Silvio Rodríguez (cantor e compositor cubano) e o único que neste registo não saiu do universo criativo de Lloyd. Entre estas duas balizas temáticas surgem "Migration of Spirit", "Booker's Garden" (em memória de Booker Little, com Lloyd a recorrer, e bem, à flauta e Moran a mostrar do que é capaz no piano), "Ramanujan", um dos temas mais cativantes do CD e em que Lloyd recorre à interessante sonoridade do tarogato para criar um ambiente "exótico"), "La Colline de Monk" e “Sweet Georgia Bright”.

Esboço biográfico de Charles Lloyd

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Dizer de Charles Lloyd que é um dos grandes saxofonistas de jazz da actualidade é, no mínimo, extraordinariamente redutor. Até porque antes do músico, vem o ser humano que, por acaso, sopra espiritualidade em tons de jazz, e antes do saxofonista e flautista, vem o compositor que, originalmente, pincela de profundidade ambientes sonoros que rodopiam o tempo em subtis melodias. Depois... depois há ainda o educador e a personagem controversa que divide opiniões.

E é em todo este vasto campo de expressão e criatividade que se situa Charles Lloyd, talvez um dos últimos grandes génios a ousar seguir a sua voz, a qual por vezes o levou mesmo a distanciar-se do jazz, para mais tarde a ele regressar, com um novo sopro de frescura a pairar por sobre novos e velhos temas.

Nascido em Memphis, nos EUA, em 1938, praticamente em vésperas da Segunda Guerra Mundial, Lloyd acabaria por ajudar a trazer ao mundo a explosão do free jazz, para cuja popularização e divulgação em muito contribuiu.

Tendo iniciado a sua aprendizagem aos nove anos de idade, motivado pelos ídolos que ouvia na rádio (Charlie Parker, Coleman Hawkins, Lester Young, Billie Holiday e Duke Ellington), Charles Lloyd estudou informalmente com Phineas Newborn, conceituado pianista de então, e ao lado de Booker Little, George Coleman ou Hank Crawford. Seguiu-se a aprendizagem pela "tarimba", com "tarimbeiros" como B.B. King e Bobby Bland,então ao serviço do saxofone alto.

Já em meados dos anos cinquenta, Lloyd ruma a Los Angeles e à University of Southern Califórnia, na qual, durante seis anos de estudo, se dedicou principalmente à composição. Entretanto, aproveitava para tocar nos clubes com Ornette Coleman, Billy Higgins, Scott La Faro, Don Cherry, Charlie Haden, Eric Dolphy e Bobby Hutcherson

Depois de graduado, Lloyd virou-se para o ensino, até que, em 1961, integrou o grupo de Chico Hamilton, no seio da qual se viria a tornar líder e principal arranjador, injectando no seu repertório temas como "Forest Flower" e chamando a si o saxofone tenor.

Entre 1964 e 1965, integrou o sexteto de Cannonball Adderley - juntando-se a Nat Adderley, Joe Zawinul, Sam Jones e Louis Hayes - com o qual gravou, aliás, alguns registos discográficos. A passagem por este supergrupo seria detenninante na sua notoriedade internacional, catapultando-o para a liderança dos seus próprios combos.

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É nessa lógica que Lloyd forma em 1965 um grupo que incluía primeiramente Gábor Szabó, Herbie Hancock e Don Friedman e, posterionnente, em 1966, Keith Jarrett, Cecil McBee e Jack DeJohnette. Esta formação perdurou cerca de três anos, cotando-se entre uma das mais bem sucedidas e dinâmicas do final dos anos sessenta. A importância deste combo passa por ter levado o jazz às novas gerações, já então mais próximas do rock, e a audiências tão inacessíveis como as das então U .R.S.S. e Checoslováquia. O sucesso que alcançou com o disco 'Forest Flower' foi retumbante, com este registo a cotar-se entre os primeiros discos de jazz a venderem 1 milhão de cópias.

Foi precisamente com este grupo que Lloyd actuou em Julho de 1996 no clube Luisiana, em Cascais, contratado por Luís Villas-Boas.

Com Keith Jarrett, Cecil McBee e Jack DeJohnette (1966)




Com Keith Jarrett e Jack Dejohnette (1968): "Love Ship"




Em 1967 Charles Lloyd foi votado "Jazz Artist of the Year" pela Down Beat, mas no início dos anos setenta sai subitamente de cena, passando a dedicar-se mais ao ensino e à vida académica, assim como à meditação transcendental, da qual se tornou professor.

Desde então e até meados da década de oitenta, as suas aparições musicais foram escassas e pontuais.

É em 1981, quando o pianista francês Michel Petrucciani chega ao Big Sur, onde Lloyd se encontrava em retiro, que o saxofonista se sente "obrigado" a revelar ao mundo este jovem talento, partindo em digressões no ano de 1892 e 1983.

O ano de 1986 encontra Lloyd num estado clínico alarmante, mas o saxofonista consegue recuperar e regressa em força à música, vindo a formar em 1988 um novo quarteto com Bobo Stenson.

O regresso aos trabalhos discográficos aconteceria em 1989, por via da ECM, editora com a qual tem vindo a editar algumas obras até ao presente. Em 1991, gravou Canto, dedicado ao seu amigo Billy Higgins. Seguiu-se Voice in the Night, editado em 1999, e The water is wide (2000), projectos em que colaborou com John Abercrombie e Dave Holland. Em 2006 gravou Sangam, com o percussionista Zakir Hussain.


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