14 de abril de 2007

"Buddy" Bolden retratado em filme

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Buddy Bolden (2.º em pé a contar da esqd.ª) com a sua banda

A vida do lendário cornetista Charles "Buddy" Bolden, que Louis Armstrong considerava o pai do Jazz, vai ser retratada em filme produzido por Wynton Marsalis e dirigido por Dan Pritzker. O filme deverá estrear em 2008, estando já em curso as filmagens em Nova Orleães e na Carolina do Norte, cabendo ao actor Anthony Mackie (She Hate Me, Million Dollar Baby) dar vida a esta lendária personagem do jazz, sobre o qual tantas histórias se contam.

Nascido em 1877, de Bolden, que exerceu uma determinante influência em músicos como Sidney Bechet, Freddie Keppard, Joe "King" Oliver e Louis Armstrong, dizia-se que a sua forte sonoridade era audível a vários quilómetros. Porém, a sua carreira foi breve e terminou abruptamente quando o músico começou a sofrer de perturbações mentais, vindo a ser internado num hospital psiquiátrico em 1907, onde faleceria em 1931.

Sobre Bolden, afirma Luís Villas-Boas no livro que recentemente editámos: O Jazz Segundo Villas-Boas (pp. 179-181):

E assim chegámos a 1900, ano em que se diz que Buddy Bolden começou a tocar. Buddy Bolden, que a lenda considera como o maior músico do «jazz» de todos os tempos, levava uma vida bastante agitada em Nova Orleans. De dia, na sua loja da Rua Perdido, cortava cabelos, e de noite tocava em intermináveis festas para que constantemente era procurado.

O seu primeiro conjunto tinha a seguinte composição: Buddy Bolden – cornetim; Jimmy Johnson – contrabaixo com arco; Willy Cornish – trombone de pistões; Willy Warner ou Frank Levis – clarinete e Brock Mumford guitarra.

Em Nova Orleans considera-se como tendo sido Bolden a alma do «jazz». Algumas testemunhas pretendem que Bolden tocava cornetim de tal maneira que quando no Lincoln Park, em noites calmas a sua orquestra tocava, podia ouvir-se o som do trompete de Buddy Bolden numa área de 25 quilómetros.

Buddy Bolden iniciou a sua carreira em 1900, tocando na orquestra de Bennie Peyton. Em 1902, organiza o conjunto de que falámos acima. Em 1903, modifica um pouco a composição do seu grupo, introduzindo um bateria: Cornelius Tilman, revolucionando assim a composição dos conjuntos. Quando Franc Lewis o deixou, Bolden procurou debalde outro clarinetista, e não conseguindo nenhum, contratou o jovem cornetista Bunk Johnson, que recentemente veio de Nova Orleães para Nova Iorque, com cerca de 70 anos, e Frank Dusen que substituiu Willy Cornish no trombone.

Com os anos, o conjunto, como actualmente também sucede, varia de composição, e desfilam por ele o contrabaixista Bob Lyons, o clarinetista Sam Dutrey, o violinista Jimmy Palao, o bateria Zino, etc.

(...)

Depois do internamento num asilo de alienados em Jackson, de Buddy Bolden, no ano de 1907, alguns dos seus músicos passaram para a Eagle Band. Outros, como o guitarrista Norwood Williams, o violinista Palao, o trombonista Eddie Vinson, o clarinetista George Bacquet e o trompetista Keppard fazem parte da Original Creole Band.

É durante este período que o «jazz» começa a tomar forma, tornando-se uma arte disciplinada, e com processos próprios. As orquestras começam a ter temas favoritos, alguns dos quais ainda hoje são conhecidos, como High Society, Panama, Milneburg Joys, Muskrat Ramble, etc. que o Olympia Band criou.

Apesar do trabalho não faltar nessa altura em Nova Orleans, nas inúmeras casas de Storyville, que Tom Anderson dirigia, e nos bailes, «pic-nics», marchas e carros de reclame, a rivalidade existente entre as orquestras era flagrante. Cada uma disputava a preferência do público, e se por acaso, quando percorrendo a cidade instaladas em carros com letreiros de reclame a qualquer coisa, se encontravam duas orquestras, ali mesmo travavam duelo, a que se chamava «cutting contest», que só terminava quando um dos contendores exausto desistia e era vaiado pelo público que se tinha reunido em volta. Foi assim que a fama de Bolden se fez, pois nunca foi derrotado num «cutting contest».


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