13 de abril de 2007

Lloyd com Moran na Culturgest

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Conforme noticiámos há dias, Charles Lloyd actua na Culturgest no próximo dia 20 de Abril e confirma-se a presença de Jason Moran no piano, ficando o quarteto completo com Reuben Rogers (contrabaixo) e Eric Harland (bateria).

Sobre Charles Lloyd aqui fica o texto escrito, para este concerto, pelo crítico de Jazz Manuel Jorge Veloso,

Charles Lloyd nasceu em Memphis, Tennessee, em 15 de Março de 1938. Deram-lhe o primeiro saxofone quando tinha nove anos. As transmissões radiofónicas, na década de 1940, de actuações de músicos como Charlie Parker, Coleman Hawkins, Lester Young, Billie Holiday e Duke Ellington, levaram-no para o jazz. Os seus primeiros professores foram, entre outros, o pianista Phineas Newborn e o saxofonista Irvin Reason. O seu amigo de infância mais próximo era o grande trompetista Booker Little. Na sua juventude Lloyd tocou com o saxofonista George Coleman e acompanhou grandes cantores de blues como Johnny Ace, Bobby Blue Band, Howlin’ Woolf e B.B. King.

A música clássica também exerceu grande atracção sobre jovem Lloyd e em 1956 deixou Memphis para ir para Los Angeles obter o seu mestrado em música na University of South California onde estudou com Halsey Stevens, uma reconhecida autoridade em Bela Bartok.

Enquanto os dias eram passados na Universidade, à noite Lloyd completava a sua formação nos clubes de jazz de L.A. onde tocou com Ornette Coleman, Billy Higgins, Scott LaFaro, Don Cherry, Charlie Haden, Eric Dolphy, Bobby Hutcherson e outros proeminentes músicos de jazz da costa Oeste. Foi também membro da big band de Gerald Wilson.

Em 1960, com 22 anos, foi convidado para ser director musical do grupo de Chico Hamilton, quando Dolphy saiu para se integrar o grupo de Charles Mingus. O guitarrista húngaro Gabor Szabo e o contrabaixista Albert “Sparky” Stinson cedo se juntaram a Lloyd na banda. A música dos mais memoráveis álbuns de Hamilton para a editora Impulse!, Passin’ Trough, Man from Two Worlds, foi quase integralmente escrita ou arranjada por Lloyd. Durante este período de grande criatividade como compositor foi descobrindo a sua voz única como saxofonista.

No princípio dos anos de 1960 foi para Nova Iorque tocar nos principais clubes de jazz: Five Spot, Birdland, Half Note, Jazz Gallery, Slugs e Village Vanguard. Rapidamente criou amizades com muitos dos mestres que tanto admirava, como Coltrane, Monk, Mingus, Coleman Hawkins ou Miles Davis. Estabeleceu uma colaboração memorável com o mestre percussionista nigeriano Babatunde Olatunji, com quem actuava quando não andava em digressão com o grupo de Hamilton.

Em 1964 passou a integrar o sexteto de Cannonball Adderley, ao lado de Nat Adderley, Joe Zawinul, Sam Jones e Louis Hayes. Nesse ano assinou pela CBS Records e começou a gravar como líder. Nos discos Discovery (1964) e Of Course, Of Course (1965), que gravou para a Columbia, participaram músicos como Roy Haynes e Tony Williams na bateria, Richard Davis e Ron Carter no contrabaixo, Gabor Szabo na guitarra, Don Friedman no piano. A revista Down Beat considerou-o “New Star”.

Lloyd deixou o sexteto de Adderley em 1965 para formar o seu próprio quarteto que introduziu no mundo do jazz os talentos do pianista Keith Jarrett, do baterista Jack DeJohnette e do contrabaixista Cecil McBee. A primeira gravação do conjunto foi um disco de estúdio, Dream Weaver, seguido de Forest Flower: Live at Monterey (1966). Forest Flower fez história por ter sido um dos primeiros álbuns de jazz a vender um milhão de cópias. O quarteto foi o primeiro grupo de jazz a aparecer no famoso Fillmore Auditorium em São Francisco, e noutros recintos dedicados ao rock, e a partilhar o cartaz com nomes como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Cream, The Greateful Dead ou Jefferson Airplane.

Em 1967, com 29 anos, foi eleito “Jazz Artist of the Year” pelos críticos reunidos pela revista Down Beat e o quarteto foi convidado para uma digressão mundial. Na Europa, em Festivais como os de Montreux, Antibes, Molde, os concertos tiveram um enorme sucesso. As suas apresentações no Extremo Oriente, na União Soviética, nos países europeus do Bloco do Leste marcaram os primeiros contactos do público desses países com um grupo de jazz americano ao vivo. No pico da Guerra Fria, em 1967, os jornais da União Soviética davam grande ênfase ao facto de o quarteto ser o primeiro grupo de jazz americano que tocava na URSS por convite do povo soviético e não através de apoio governamental. O seu primeiro concerto foi em Tallinn, na Estónia, os subsequentes em Leninegrado e Moscovo.

Foi então que, no auge da sua carreira, Lloyd desfez o seu grupo e desapareceu, no início dos anos 1970, para seguir um caminho interior em Big Sur, uma pequena região no Sul da Califórnia em que a montanha se precipita sobre o mar e cuja beleza e isolamento atraiu diversos artistas como Robinson Jeffers, Langston Hughes, Henry Miller, Lawrence Ferlinghetti, Jack Kerouac, Jean Varda e Jamie DeAngulo.

Só em 1981 Lloyd quebrou o seu silêncio e recolhimento, quando um notável pianista francês, Michel Petrucciani (então com apenas 18 anos), chegou a Big Sur e Lloyd decidiu ajudar a dar a conhecer ao mundo este músico magnífico. Fez digressões pela Europa e pelo Japão em 1982 e 1983 com Petrucciani no piano, Palle Danielsson no contrabaixo e Son Ship Theus na bateria. O crítico inglês de jazz Brian Case designou este retorno de Lloyd como “um dos eventos dos anos 80”. O grupo produziu uma edição especial de uma cassete, Night Blooming Jasmine e dois discos ao vivo, Montreux ‘82 e A Night in Copenhagen que apresentava também Bobby McFerrin (este disco foi recentemente reeditado pela Blue Note). Satisfeito porque Petrucciani estava a começar a receber o reconhecimento que merecia, Lloyd voltou a retirar-se para Big Sur.

Em 1986, depois de ter sido hospitalizado em consequência de doença muito grave, Lloyd voltou a dedicar-se à música. Quando recuperou as forças recomeçou a compor. Em 1988 formou um novo quarteto com o reputado pianista sueco Bobo Stenson.

Em 1989, sete anos depois de ter feito o seu último álbum, Lloyd voltou ao estúdio para gravar Fish Out of water (1990) para a ECM. O projecto marcou o início de uma nova vaga de composições e gravações de Lloyd, sempre para a ECM, que prosseguiu com os álbuns Notes From Big Sur (1992), The Call (1994), All My Relations (1955), Canto (1997), Voice in The Night (1999), The Water is Wide (2000), Hyperion With Higgins (2001), Lift Every Voice (2002), Which Way Is East (2004), Jumping the Creek (2005), Sagam (2006).

Em 1997 voltou a Tallinn para comemorar o 30º aniversário da sua apresentação nessa cidade. As pessoas vieram de centenas de quilómetros de distância para celebrarem este retorno à Estónia e foram-lhe oferecidas as chaves da cidade. O concerto foi, mais uma vez, um triunfo.

Quando Lloyd dedicou o seu álbum Canto ao seu amigo, o baterista Billy Higgins, Manfred Eicher sugeriu que Lloyd trouxesse Higgins para o próximo projecto. Em Voice in the Night, publicado em 1999, Lloyd juntou Higgins, o guitarrista John Abercrombie e o baixista Dave Holland. Higgins e Abercrombie permaneceram no grupo em The Water is Wide, o álbum seguinte, que contou ainda com as participações de Brad Meldhau e Larry Grenadier. The Water is Wide recebeu prémios e grandes elogios por todo o mundo. Para além de figurar em muitas listas americanas dos melhores discos do ano, foi considerado o disco de jazz de 2000 no Japão e na República Checa, ganhou vários prémios na Alemanha e a revista francesa Jazzman também o considerou como Disco do Ano.

A morte de Billy Higgins em Maio de 2001 foi uma tragédia para o saxofonista. Tinham-se conhecido em 1956, quando Lloyd estudava na Universidade e desde essa altura que era um amigo e colaborador muito próximo.

Apesar desse desgosto, o ano de 2001 acabou com nota alta para Lloyd com o concerto que deu, em Novembro, na Grace Cathedral de São Francisco, em duo com o grande percussionista e intérprete de tabla Zakir Hussain, quando ainda estava muito presente a memória dolorosa do 11 de Setembro. Juntos encontraram uma forma de elevar os espíritos do público através da música. Este concerto, que fazia parte do Festival de Jazz de São Francisco, foi o primeiro do Festival a esgotar e foi a primeira vez na história do Festival que um concerto na catedral esgotou.

Em 2004 a ECM editou o último álbum que Lloyd e Higgins fizeram juntos, Which Way Is East, um único e extraordinário documento da sua criatividade musical e de uma amizade profunda e duradoura. Which Way Is East está também registado em vídeo e num documentário intitulado Home.

Charles Lloyd mantém uma intensa actividade ao vivo, com apresentações em Festivais e salas de concerto. Continua a trabalhar com Geri Allen e John Abercrombie, e por vezes apresenta-se num quinteto que os inclui. Também continua a realizar projectos especiais com Zakir Hussain. O seu último álbum para a ECM, Sagam, é um trabalho com Hussain e com o percussionista Eric Harland.

“A música é uma força que cura. Tem a faculdade de ultrapassar fronteiras, pode tocar directamente os corações, pode falar ao mais fundo do espírito, onde as palavras são desnecessárias. É a mais poderosa forma de comunicação e expressão da beleza”. Charles Lloyd

(adaptado de www.charleslloyd.com)

1 Comments:

At segunda abr. 16, 04:41:00 da tarde 2007, Anonymous Anónimo said...

Apenas para esclarecer que este texto sobre os principais passos biográficos do Charles Lloyd não foi escrito por mim.

Mas confirmo que, na folha de sala para o concerto do Charles Lloyd na Culturgest, estará um texto meu sobre Charles Lloyd, a sua música e a sua primeira vinda a Portugal.

Saudações,

Manuel Jorge Veloso

 

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