No dia em que o Jazz ficou desempregado...
Um dia, num remoto dia, o Jazz em Portugal encontrou-se de súbito desempregado e como qualquer cidadão normal dirigiu-se ao Centro de Emprego da sua área de residência, onde foi solicitamente atendido por um zeloso funcionário
- Ora então façha o favor de dizher o sheu nome.
- Jazz
- Jaz? Também não sherá caso para tanto, tenha lá calma... Se tivesshe morrido alguém, agora asshim também não vale a pena deseperar!
- Não, Jazz.
- Ah! Jazze. Shim shenhor, estou a ver muito bem, eu até ouçho os seus programas na rádio. Então o shenhor é que é o Jazzé Duarte! Muito bem, muito bem...
- Não, não. Eu sou o próprio Jazz.
- Ora bolas, que já me enganei então a preencher aqui o formulário! Com franqueza. Shabe é que andamos muito presshionados agora com esta história do shócrates. Peçho desculpa.
- Não tem de quê.
- Então e qual é a shua nachionalidade?
- Norte-americana, mas resido actualmente em Portugal.
- Ah pronto, she é asshim tá tudo resolvido. Nem valia a pena ter vindo cá...
- Como assim?
- Pois então o-o shenhor não shabe que o fundo de desemprego é shó para nacionais, isto é, pesshoas naturais de Portugal ou a trabalhar cá!?
- Ah, mas eu ultimamente tenho trabalhado cá...
- Então devia ter dito logo. Raios! Lá vai outro impressho para o lixo, meu shanto shócrates me perdoe... Nossha shenhora!
- Pois...
- Então vamos lá ver... Experiênchia profissional?
- Jazz.
- Mau...
- Jazz. Música.
- Ah, música! Shim shenhor. Ora um momentinho para eu tomar nota: m-ú-s-i-c-a (teclando lentamente). Já está. Ufa! É que shabe que não é costume termos cá disto... Falta de hábito meu... Ora bem, ora bem, e há quantos anos trabalha?
- Mais de 100...
- Ai valha-me Deus! Então mas issho não é aqui criatura!
- Isso o quê?
- A reforma! O shenhor com essha idade devia era meter os papéis para a reforma, que qualquer dia nã oacherta uma nota! Pois eu bem shei que o nossho shócrates quer prolongar o tempo de trabalho, mas também não é prechiso exagerar. Olhe, shegundo balcão à sua esquerda. Fale lá com a minha colega, tá bem? Vá, vá lá e tenha cuidado com o degrau...
- Mas eu quero manter-me activo!
- Bem she é asshim... Ele há malucos para tudo, com shua licença e perdão por este meu aparte. Então vamos lá ver novamente. E quem é a entidade patronal que o despediu?
- O Público.
- Ah... Pois, põem-she a editar livros e CDs e depois não têm dinheiro para pagar aos jornalistas! Isto... E olhe que nem com o futebol lá vão, digo-lhe eu.
- Não é esse. É o público mesmo...
- Ah, esshe. Pois... temos tido aqui muitas queixas, muitos despedimentos. Olhe, diz que shó gosta de futebol e de programas pimba lá com o João não sei das quantas mais o fiel e o não shei quê. Isto tem shido um despachar pesshoal que o shenhor nem imagina! Uma coisa aflitiva...
- Pois... É uma tristeza...
- Muito bem, muito bem. Então e qual foi o motivo para o despedimentoshinho?
- Sem justa causa... Alega que sou muito complexo e difícil de entender e que para além do mais tinha uma relação desleal com outras músicas. Veja bem que já nos anos 30 tinham dito que eu causava varizes e doenças mentais... Voltámos ao mesmo...
- Shabe que há patrões muito injustos... E o público então é dos piores. Azar o sheu logo ter escolhido trabalhar para esshe ingrato que ainda por chima she divertiu à shua conta e ando para aí a dançhar e agora isto...
- É verdade. Ainda diverti muito os avós e os pais deles...
- Adiante. O impresshosinho da Casa da Moeda, trouxe? É que she não trouxe...
- Sim, sim. Está aqui mesmo.
- Ah pronto. É que isto às vezes os patrões, sabe como é...
- Pois...
- Muito bem, muito bem... Vamos lá ver. O shenhor para ter direito ao subsídio tem de she inscrever aqui primeiro no chentro de emprego.
- Pois, é o que pretendo.
- Shim shenhor... Ora então vamos lá fazher aqui as perguntitas da praxe. Lichenciatura?
- Não.
- Pois sabe que assim é mais complicado porque hoje em dia o mercado procura mão de obra mais qualificada... Bem, shendo asshim vou registá-lo aqui na bolsa de emprego para cashamentos e baptizados.
- Não, isso não faço!
- Não faz? Como não faz? Música é música e em tempo de guerra não she limpam trombones... Ou também não conhece este dito?
- Pois, mas eu há 100 anos que ando cá e raramente fiz disso. Eu é concertos, festivais, etc...
- Ah, pois, dissho não temos? É que não tem mesmo aparechido nada, digo-lhe já com toda a franaqueza. Todavia, olhe, eu vou registar aqui no computador e depois as minhas colegas que decidam...
- Muito obrigado.
- Agora se o chamarem para um cashamento ou um baptizado o senhor não pode recusar senão tiram-lhe o subshídio. Veja lá...
- Mas casasmentos...
- Então, cashamentos é alegria! É jazz! Mulher casada, festa da pesada... Nunca ouviu dizher?
- Por acaso não...
- É por não sher de cá naturalmente... Mas olhe lá, ainda que mal pergunte, she o shenhor estava lá tão bem nos USA para que foi que veio para aqui onde nunca o quisheram? Valha-me Deus... Uma pesshoa da shua idade, para mais...
- É que eu tenho andado um pouco por todo o lado...
- Pois, andou para aí a improvishar, a viver shabe-se lá como, chapa ganha chapa gasta... e agora vem cá chular o subshídio de deshemprego à gente porque na sua terra não leva cheta! Perdoe-me que isto é dos nervos... O shenhor não leve a mal e pela sua sháude não diga nada à chefe porque shenão quem vai para o deshemprego sou eu, que isto agora com o shócrates já não é como dantes...
- ...
- Prontinho. Já está registado devidamente e agora é shó ir à shegurança social e pedir o subshídiosinho...
- E isso depois demora muito a receber?
- Não! Para mais para uma pesshoa que já anda cá há chem anos e já está tão habituado a esperar... Em menos de shete meses já tem o dinheirinho na sua conta.
- Livra! Mais vale ir tocar para o metro! Bom dia!
- Então e o sheu impresshosinho para a shegurança social?! Ele há com cada maluco... Valha-me Deus! Chicha! E mais um impressho pró lixo... c'a breca! Isto ashim não dá... É que qualquer dia tenho um prochessho em cima por causa de tanto papel mal gasto... E shabe Deus quando me aparechem para aí a clásshica, a ópera, a dança moderna, o fado, até o fado... com o mesmo problema deste desgraçhado do jazz e a fazherem-me gastar este modelo de impressho que ainda para mais já temos poucos! Ai, a minha vida... Eu shei o que lhes faxo, shei, shei... (faz um manguito bem convicto!)
Um dia, num remoto dia, o Jazz em Portugal encontrou-se de súbito desempregado e como qualquer cidadão normal dirigiu-se ao Centro de Emprego da sua área de residência, onde foi solicitamente atendido por um zeloso funcionário
- Ora então façha o favor de dizher o sheu nome.
- Jazz
- Jaz? Também não sherá caso para tanto, tenha lá calma... Se tivesshe morrido alguém, agora asshim também não vale a pena deseperar!
- Não, Jazz.
- Ah! Jazze. Shim shenhor, estou a ver muito bem, eu até ouçho os seus programas na rádio. Então o shenhor é que é o Jazzé Duarte! Muito bem, muito bem...
- Não, não. Eu sou o próprio Jazz.
- Ora bolas, que já me enganei então a preencher aqui o formulário! Com franqueza. Shabe é que andamos muito presshionados agora com esta história do shócrates. Peçho desculpa.
- Não tem de quê.
- Então e qual é a shua nachionalidade?
- Norte-americana, mas resido actualmente em Portugal.
- Ah pronto, she é asshim tá tudo resolvido. Nem valia a pena ter vindo cá...
- Como assim?
- Pois então o-o shenhor não shabe que o fundo de desemprego é shó para nacionais, isto é, pesshoas naturais de Portugal ou a trabalhar cá!?
- Ah, mas eu ultimamente tenho trabalhado cá...
- Então devia ter dito logo. Raios! Lá vai outro impressho para o lixo, meu shanto shócrates me perdoe... Nossha shenhora!
- Pois...
- Então vamos lá ver... Experiênchia profissional?
- Jazz.
- Mau...
- Jazz. Música.
- Ah, música! Shim shenhor. Ora um momentinho para eu tomar nota: m-ú-s-i-c-a (teclando lentamente). Já está. Ufa! É que shabe que não é costume termos cá disto... Falta de hábito meu... Ora bem, ora bem, e há quantos anos trabalha?
- Mais de 100...
- Ai valha-me Deus! Então mas issho não é aqui criatura!
- Isso o quê?
- A reforma! O shenhor com essha idade devia era meter os papéis para a reforma, que qualquer dia nã oacherta uma nota! Pois eu bem shei que o nossho shócrates quer prolongar o tempo de trabalho, mas também não é prechiso exagerar. Olhe, shegundo balcão à sua esquerda. Fale lá com a minha colega, tá bem? Vá, vá lá e tenha cuidado com o degrau...
- Mas eu quero manter-me activo!
- Bem she é asshim... Ele há malucos para tudo, com shua licença e perdão por este meu aparte. Então vamos lá ver novamente. E quem é a entidade patronal que o despediu?
- O Público.
- Ah... Pois, põem-she a editar livros e CDs e depois não têm dinheiro para pagar aos jornalistas! Isto... E olhe que nem com o futebol lá vão, digo-lhe eu.
- Não é esse. É o público mesmo...
- Ah, esshe. Pois... temos tido aqui muitas queixas, muitos despedimentos. Olhe, diz que shó gosta de futebol e de programas pimba lá com o João não sei das quantas mais o fiel e o não shei quê. Isto tem shido um despachar pesshoal que o shenhor nem imagina! Uma coisa aflitiva...
- Pois... É uma tristeza...
- Muito bem, muito bem. Então e qual foi o motivo para o despedimentoshinho?
- Sem justa causa... Alega que sou muito complexo e difícil de entender e que para além do mais tinha uma relação desleal com outras músicas. Veja bem que já nos anos 30 tinham dito que eu causava varizes e doenças mentais... Voltámos ao mesmo...
- Shabe que há patrões muito injustos... E o público então é dos piores. Azar o sheu logo ter escolhido trabalhar para esshe ingrato que ainda por chima she divertiu à shua conta e ando para aí a dançhar e agora isto...
- É verdade. Ainda diverti muito os avós e os pais deles...
- Adiante. O impresshosinho da Casa da Moeda, trouxe? É que she não trouxe...
- Sim, sim. Está aqui mesmo.
- Ah pronto. É que isto às vezes os patrões, sabe como é...
- Pois...
- Muito bem, muito bem... Vamos lá ver. O shenhor para ter direito ao subsídio tem de she inscrever aqui primeiro no chentro de emprego.
- Pois, é o que pretendo.
- Shim shenhor... Ora então vamos lá fazher aqui as perguntitas da praxe. Lichenciatura?
- Não.
- Pois sabe que assim é mais complicado porque hoje em dia o mercado procura mão de obra mais qualificada... Bem, shendo asshim vou registá-lo aqui na bolsa de emprego para cashamentos e baptizados.
- Não, isso não faço!
- Não faz? Como não faz? Música é música e em tempo de guerra não she limpam trombones... Ou também não conhece este dito?
- Pois, mas eu há 100 anos que ando cá e raramente fiz disso. Eu é concertos, festivais, etc...
- Ah, pois, dissho não temos? É que não tem mesmo aparechido nada, digo-lhe já com toda a franaqueza. Todavia, olhe, eu vou registar aqui no computador e depois as minhas colegas que decidam...
- Muito obrigado.
- Agora se o chamarem para um cashamento ou um baptizado o senhor não pode recusar senão tiram-lhe o subshídio. Veja lá...
- Mas casasmentos...
- Então, cashamentos é alegria! É jazz! Mulher casada, festa da pesada... Nunca ouviu dizher?
- Por acaso não...
- É por não sher de cá naturalmente... Mas olhe lá, ainda que mal pergunte, she o shenhor estava lá tão bem nos USA para que foi que veio para aqui onde nunca o quisheram? Valha-me Deus... Uma pesshoa da shua idade, para mais...
- É que eu tenho andado um pouco por todo o lado...
- Pois, andou para aí a improvishar, a viver shabe-se lá como, chapa ganha chapa gasta... e agora vem cá chular o subshídio de deshemprego à gente porque na sua terra não leva cheta! Perdoe-me que isto é dos nervos... O shenhor não leve a mal e pela sua sháude não diga nada à chefe porque shenão quem vai para o deshemprego sou eu, que isto agora com o shócrates já não é como dantes...
- ...
- Prontinho. Já está registado devidamente e agora é shó ir à shegurança social e pedir o subshídiosinho...
- E isso depois demora muito a receber?
- Não! Para mais para uma pesshoa que já anda cá há chem anos e já está tão habituado a esperar... Em menos de shete meses já tem o dinheirinho na sua conta.
- Livra! Mais vale ir tocar para o metro! Bom dia!
- Então e o sheu impresshosinho para a shegurança social?! Ele há com cada maluco... Valha-me Deus! Chicha! E mais um impressho pró lixo... c'a breca! Isto ashim não dá... É que qualquer dia tenho um prochessho em cima por causa de tanto papel mal gasto... E shabe Deus quando me aparechem para aí a clásshica, a ópera, a dança moderna, o fado, até o fado... com o mesmo problema deste desgraçhado do jazz e a fazherem-me gastar este modelo de impressho que ainda para mais já temos poucos! Ai, a minha vida... Eu shei o que lhes faxo, shei, shei... (faz um manguito bem convicto!)
2 Comments:
Muito engraçado, sim senhor!
Fartei-me de rir!
HAHAHAHAHAHA
muito bom
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