Charles Delaunay em tese de doutoramento e livro

Charles Delaunay, figura central na propagação do Jazz em França e que está para este país como Villas-Boas para Portugal, foi recentemente (2005) objecto de uma tese de doutoramento, trabalho esse que acaba agora de ser editado em França pela sua autora: Anne Legrand.

O livro, Charles Delaunay : Sa place et son rôle dans le jazz en France dans les années 30 et 40, editado pelas Editions du Layeur, teve por base o estudo que a autora fez do espólio de Delaunay na Fonoteca Nacional (França), à qual este legara em 1979 os seus pertences jazzísticos, posteriormente transferidos para a Bibioteca Nacional de França. Entre estes incluem-se nada menos do que 22 000 discos, (incluindo vários V-discs), 1 100 revistas e jornais, uma centena de filmes e 80 caixas de arquivos com notas discográficas, correspondência, fotografias, cartazes, programas e bilhetes de concertos.

Assim é também o espólio de Villas-Boas, não tão rico ao nível discográfico (cerca de 5000 discos), mas convém relembrar que Delaunay teve intensa actividade discográfica, com a sua editora Swing, e estava no centro dos acontecimentos em termos de jazz na Europa e no país que mais cedo e melhor o acolheu... Além disso, Delaunay foi fundador da Revista Jazz Hot (1935), Secretário-Geral do Hot Club de France e presidente do Hot Club de Paris, produtor de concertos, produtor de rádio, empresário e historiador do jazz.

Uma curiosidade para quem ainda não saiba: Charles era filho de Sonya e Robert Delaunay, com os quais viveu em Portugal durante a I Guerra Mundial (entre 1915 e 1917), período em que estes artistas conviveram com Amadeo de Souza-Cardozo, Eduardo Viana, Almada Negreiros e José Pacheco, tendo vivido em Vila do Conde. Caricatamente, Sonya chegou mesmo a ser temporariamente impedida de sair do país, sob acusação de espionagem e tudo isto por gostar de pintar grandes telas junto ao mar, com os seus característicos círculos cromáticos, os quais foram interpretados como indicação de alvos para bombardeamento pelos submarinos alemães...


Sonia Delaunay, "Rythme Couleur"

Sonia Delaunay passou também por Valença do Minho, onde efectuou algumas obras e estudos inspirada pelos mercados locais.


Sonia Delaunay, "Marché au Minho"

A amizade que viria a estabelecer-se entre Villas-Boas e Charles Delaunay teria porém início bem mais tarde, quando do lançamento do programa radifonónico Hot Club, na emissora Nacional, em 1945, por via de um amigo comum, um filho de emigrantes portugueses em França. Deste tema, e de muitos outros, trata o livro O Jazz Segundo Villas-Boas, trabalho que editamos em Março de 2007, em homenagem ao "pai" do Jazz em Portugal.