João Paulo: White Works
Foto: Pedro Cláudio
O pianista João Paulo lançou recentemente o CD White Works, obra a solo editada pela Universal Music Portugal e que o encontra inspirado pelas composições originais de Carlos Bica. JNPDI entrevistou-o para conhecer melhor a música e o conceito por detrás deste projecto discográfico gravado em Março de 2008 no grande auditório da Culturgest.
JNPDI: O que é que os potenciais ouvintes podem encontrar neste, diga-se, extraordinário White Works?
JOÃO PAULO: É extremamente difícil responder. Talvez eu seja a última pessoa a quem perguntar. Espero que cada um encontre algo de diferente, de pessoal; algo de que eu nem faça ideia que lá está.
JNPDI: Como surgiu a ideia de trabalhar 12 originais de Carlos Bica?
JP: O disco de piano solo é uma ideia já antiga do Carlos Bica. O disco Diz incluía uma peça em piano solo. Creio que foi a partir daqui que lhe nasceu a vontade de produzir um disco de originais em piano solo. Esta ideia foi amadurecendo e há cerca de dois anos o Carlos fez-me a proposta concreta e começámos a trabalhar para o disco.
JNPDI: Considero, pessoalmente, um facto muito relevante para o jazz e a música improvisada portuguesa que um músico com o seu prestígio tenha decidido gravar um CD preenchido quase totalmente por originais de um colega de artes. Creio que tal revela um acto de reconhecimento da música que por cá se compõe e a eventual consolidação de um futuro corpo de standards nacionais. Concorda com este último ponto?
JP: Sim, concordo. Tem-se composto muito boa música entre nós.
JNPDI: O White Works contempla também três improvisos exclusivamente da sua autoria e todos denominados por “Improvisation” (1, 2 e 3). Qual o conceito subjacente a estas peças?
JP: A improvisação acaba por ser o núcleo de todo o disco.Está presente em quase todas as canções do Carlos Bica, excepto em «A princesa e o lago». A diferença situa-se entre o improvisar com mais ou menos texto e o improvisar sem qualquer texto. As peças intituladas «Improvisation» estão neste último caso, surgiram no momento em que foram tocadas. Como o texto escrito pode introduzir uma certa distância entre a criação e a «performance», tentámos reduzir essa eventual distância decidindo incluir estas improvisações livres, nas quais o criar e o tocar estão mais perto de coincidir.
JNPDI: O João Paulo referiu a dado momento que gosta de imaginar o Carlos Bica como “um realizador de cinema musical”. Este CD tem de facto em parte esse ambiente. Que tipo de filme poderia encaixar nele?
JP: Concordo que esta música poderia acompanhar cinema, mas não foi bem nesse sentido que falei do Carlos Bica como realizador. Acho que o Carlos Bica compõe, trabalha, de uma maneira tecnicamente comparável à do trabalho em cinema, desde as questões de «casting» até à montagem final.
JNPDI: Quais foram os maiores desafios na execução deste disco?
JP: Não houve propriamente desafios. No que toca à música, tudo correu com naturalidade, entusiasmo e prazer. O obstáculo mais longo a vencer foi a escolha da editora.
JNPDI: A opção por gravar na Culturgest surgiu em que contexto?
JP: Uma gravação de piano solo necessita, em princípio, de um bom espaço com um bom piano. É o caso da Culturgest.
Foto: Pedro Cláudio
JNPDI: Podemos esperar de si novos discos dedicados a explorar o cancioneiro de outros músicos portugueses?
JP: Não está programado, mas é uma possibilidade. Talvez, porque não…
JNPDI: Qual a sua opinião sobre o panorama do jazz e da música improvisada em Portugal neste momento?
JP: O panorama é cada vez mais vasto e com cada vez mais músicos de grande qualidade.
JNPDI: Das novas gerações de pianistas, quais destacaria?
JP: São muitos os pianistas jovens de quem gosto; não vou destacar nenhum, teria de fazer uma lista extensa e os inevitáveis esquecimentos ser-me-iam dolorosos, depois.
JNPDI: Já agora, e não considerando os seus próprios discos, que registo de piano recomendaria aos leitores de JNPDI que pretendam aventurar-se na audição deste instrumento a solo?
JP: Nunca menos de três: Thelonious Monk, Alone in Paris, Lennie Tristano, Solos and Trio, e Keith Jarrett, Facing You.
Foto: Pedro Cláudio
O pianista João Paulo lançou recentemente o CD White Works, obra a solo editada pela Universal Music Portugal e que o encontra inspirado pelas composições originais de Carlos Bica. JNPDI entrevistou-o para conhecer melhor a música e o conceito por detrás deste projecto discográfico gravado em Março de 2008 no grande auditório da Culturgest.
JNPDI: O que é que os potenciais ouvintes podem encontrar neste, diga-se, extraordinário White Works?
JOÃO PAULO: É extremamente difícil responder. Talvez eu seja a última pessoa a quem perguntar. Espero que cada um encontre algo de diferente, de pessoal; algo de que eu nem faça ideia que lá está.
JNPDI: Como surgiu a ideia de trabalhar 12 originais de Carlos Bica?
JP: O disco de piano solo é uma ideia já antiga do Carlos Bica. O disco Diz incluía uma peça em piano solo. Creio que foi a partir daqui que lhe nasceu a vontade de produzir um disco de originais em piano solo. Esta ideia foi amadurecendo e há cerca de dois anos o Carlos fez-me a proposta concreta e começámos a trabalhar para o disco.
JNPDI: Considero, pessoalmente, um facto muito relevante para o jazz e a música improvisada portuguesa que um músico com o seu prestígio tenha decidido gravar um CD preenchido quase totalmente por originais de um colega de artes. Creio que tal revela um acto de reconhecimento da música que por cá se compõe e a eventual consolidação de um futuro corpo de standards nacionais. Concorda com este último ponto?
JP: Sim, concordo. Tem-se composto muito boa música entre nós.
JNPDI: O White Works contempla também três improvisos exclusivamente da sua autoria e todos denominados por “Improvisation” (1, 2 e 3). Qual o conceito subjacente a estas peças?
JP: A improvisação acaba por ser o núcleo de todo o disco.Está presente em quase todas as canções do Carlos Bica, excepto em «A princesa e o lago». A diferença situa-se entre o improvisar com mais ou menos texto e o improvisar sem qualquer texto. As peças intituladas «Improvisation» estão neste último caso, surgiram no momento em que foram tocadas. Como o texto escrito pode introduzir uma certa distância entre a criação e a «performance», tentámos reduzir essa eventual distância decidindo incluir estas improvisações livres, nas quais o criar e o tocar estão mais perto de coincidir.
JNPDI: O João Paulo referiu a dado momento que gosta de imaginar o Carlos Bica como “um realizador de cinema musical”. Este CD tem de facto em parte esse ambiente. Que tipo de filme poderia encaixar nele?
JP: Concordo que esta música poderia acompanhar cinema, mas não foi bem nesse sentido que falei do Carlos Bica como realizador. Acho que o Carlos Bica compõe, trabalha, de uma maneira tecnicamente comparável à do trabalho em cinema, desde as questões de «casting» até à montagem final.
JNPDI: Quais foram os maiores desafios na execução deste disco?
JP: Não houve propriamente desafios. No que toca à música, tudo correu com naturalidade, entusiasmo e prazer. O obstáculo mais longo a vencer foi a escolha da editora.
JNPDI: A opção por gravar na Culturgest surgiu em que contexto?
JP: Uma gravação de piano solo necessita, em princípio, de um bom espaço com um bom piano. É o caso da Culturgest.
Foto: Pedro Cláudio
JNPDI: Podemos esperar de si novos discos dedicados a explorar o cancioneiro de outros músicos portugueses?
JP: Não está programado, mas é uma possibilidade. Talvez, porque não…
JNPDI: Qual a sua opinião sobre o panorama do jazz e da música improvisada em Portugal neste momento?
JP: O panorama é cada vez mais vasto e com cada vez mais músicos de grande qualidade.
JNPDI: Das novas gerações de pianistas, quais destacaria?
JP: São muitos os pianistas jovens de quem gosto; não vou destacar nenhum, teria de fazer uma lista extensa e os inevitáveis esquecimentos ser-me-iam dolorosos, depois.
JNPDI: Já agora, e não considerando os seus próprios discos, que registo de piano recomendaria aos leitores de JNPDI que pretendam aventurar-se na audição deste instrumento a solo?
JP: Nunca menos de três: Thelonious Monk, Alone in Paris, Lennie Tristano, Solos and Trio, e Keith Jarrett, Facing You.
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